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Géricault:
um olhar que investiga a realidade
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Theodore
Géricault
Rouen, França, 1791
Rouen, França, 1824
"Têtes
coupées"
(Cabeças cortadas)
1818-1819 - tinta a óleo sobre tela
50 x 61 cm
Coleção Nationalmuseum,
Estocolmo |
O quê?
A investigaçâo da realidade como tema na pintura;
a fragmentaçâo do corpo
humano x o ideal classicista de beleza;
a organizaçâo da superfìcie
da pintura pela direçâo das pinceladas.
Por
quê?
Arte ë signo. Mais
do que representaçâo pura e simples do real, tem motivaç§es estëticas
que correspondem Ç inserçâo do artista em seu tempo hist�rico, Çs escolhas
temžticas e aos recursos expressivos dos quais ele se vale.
"Tètes coupëes"
demonstra um tema crucial relacionado ao canibalismo, o do "desmembramento",
isto ë, a fragmentaçâo do corpo como um processo fetichista (culto de
objetos materiais considerados em relaçâo a sua funçâo espiritual, mžgica).
As cabeças decepadas,
alëm do estranhamento que geram no leitor da obra de arte, apresentam
individualidades, expressas por meio de um cuidado ret�rico caracterìstico
do realismo social.
Para quê?
Para
permitir ao aluno:
identificar a postura
investigativa do pintor que elege a morte como tema;
perceber como o pintor
representa a figura humana individualizada e como suas diferenças sâo
mutuamente valorizadas;
reconhecer, no tratamento
pict�rico e na expressâo das figuras, as preferèncias tëcnicas e estëticas
do Romantismo francès do sëculo XIX;
analisar e manipular
em atividade pržtica a utilizaçâo de luz e sombra, bem como dos resultados
que podem ser obtidos por meio da gradaçâo ou do contraste entre ambos;
introduzir uma discussâo
sobre a representaçâo de fragmentos do corpo humano para evidenciar as
transformaç§es e desfiguraç§es sofridas no contexto cultural e polìtico;
entender o Realismo
social e as formas de investigaçâo dos quais Gëricault se valeu
para produzir sua obra.
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1.
Géricault
Gëricault: "Passo todo o tempo surpreendendo-me com o fato de que nada parece s�lido, tudo me escapa. Nossas esperanças e nossos desejos, e mesmo nossos sucessos, sâo apenas ilus§es. Meu coraçâo nâo pode encontrar descanso, contëm mem�rias demais".
"Sem ousadia, extrema ousadia, nâo hž beleza."
"A novidade estž na mente que cria, nâo na natureza."
"Nâo precisamos tomar emprestado as riquezas de outras ëpocas para agradar o gosto dos medìocres."
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Como?
(Quando? Onde?)
Ver com nossos
olhos
No primeiro contato com esta pintura de Gëricault na XXIV Bienal, ou com
sua reproduçâo, surgirâo questionamentos sobre as intenç§es do artista,
o porquè da escolha deste tema e os sentimentos antag–nicos de curiosidade
e de repulsa que desperta em quem a observa.
Tratando-se de uma
imagem com forte naturalismo1 em que o artista apresenta,
a uma s� vez, "objetos" e emoç§es, ë importante valorizar as primeiras impress§es
que, mesmo contradit�rias, poderâo motivar futuras pesquisas e descobertas
enriquecedoras da leitura da obra.
Algumas quest§es
iniciais poderâo convergir para o tema, Ç medida que este ficar mais evidente,
embora tambëm seja importante estimular a observaçâo de outras caracterìsticas
da pintura, as quais poderâo ser tomadas como ponto de partida para pesquisas
a serem realizadas pelo grupo e como éncora de experièncias e anžlises que
facilitarâo uma compreensâo ampliada da arte.
Uma descriçâo coletiva
dessa pintura pode ser um instrumento valioso para revitalizar o conhecimento
anteriormente acumulado sobre arte, abrangendo desde as caracterìsticas
mais evidentes atë os detalhes mais sutis.
Para auxiliar na
elaboraçâo da descriçâo inicial da obra e no levantamento de seus aspectos
mais interessantes e/ou polèmicos, sugerimos as seguintes perguntas:
Qual ë o tema desta pintura?
Como o artista distribuiu
os elementos que comp§em esta pintura?
Quais as principais semelhanças
e diferenças entre os dois "objetos" centrais?
Qual a relaçâo entre
cada "objeto" e a žrea a sua volta?
Com que intençâo os pintores
utilizam objetos reais como modelo para suas pinturas?
Como esta pintura pode
ser relacionada com o tema "Antropofagia e hist�rias de canibalismo", proposto
pela Curadoria da XXIV Bienal?
O professor poderž
acrescentar outras perguntas que facilitem, num primeiro momento, a identificaçâo
pelo grupo das possìveis decis§es tomadas pelo artista, bem como da escolha
de Gëricault pela curadoria. Poderâo, naturalmente, surgir na discussâo
algumas consideraç§es sobre significados que nâo sejam evidentes ou reconhecìveis.
Antes de julgar e eliminar a observaçâo de um aluno, por considerž-la divergente
ou equivocada, convëm dar continuidade Çs demais etapas de estudo da obra
e confrontar cada conceito novo com as etapas anteriores, o que conduzirž
o grupo ao descarte de idëias nâo pertinentes.
Conforme o repert�rio
de imagens que jž tenha sido analisado pelos alunos, ou mesmo incorporando
imagens e situaç§es identificadas com o tema da pintura, novas associaç§es
poderâo ser estabelecidas e acrescentadas Ç descriçâo. Do mesmo modo, cada
afirmaçâo poderž ser transformada em objeto de investigaçâo sobre arte.
O professor e os alunos podem optar por realizar, na ordem mais significativa
para sua inserçâo no conteödo curricular, abordagens da obra em que a biografia
do artista (e o tempo hist�rico vivido por este), os processos tëcnicos
e materiais da pintura, o Romantismo2 francès (que tambëm
pode ser estudado na mösica e na literatura) ou a utilizaçâo dos elementos
da linguagem visual, basicamente a linha, a cor, a luz, a forma e a superfìcie
sejam privilegiados alternada ou simultaneamente. As afirmaç§es sobre a
obra, alëm de orientar o percurso de anžlise e pesquisa pelo grupo, poderâo
indicar abordagens interdisciplinares (Hist�ria, Cièncias, Literatura).
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2.
Naturalismo
Fayga Ostrower: "Nessa forma de representaçâo, o artista irž
particularizar certas feiç§es especìficas que caracterizam o objeto,
distinguindo-o no espaço e tempo como um evento preciso. Figurando
sua unicidade de ser, o artista quer revelar claramente o objeto
como portador das emoç§es que ele transmite. ConseqÆentemente, n�s,
espectadores, terìamos condiç§es de identificar a uma s� vez objeto
e emoç§es desencadeadas".
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3.
Romantismo
Arnold Hauser: "Para os roménticos nada se apresentava puro
de feiç§es em conflito; a natureza problemžtica de sua posiçâo hist�rica
e a luta interior dos seus sentimentos refletem-se em todas as suas
afirmaç§es. (...) Nâo os preocupa dominar ou vencer a realidade;
querem, sim, ter a experiència dela e reproduzir tal experiència
tâo diretamente, tâo fiel e completamente quanto possìvel. Sentem,
incontestavelmente, que a vida do presente imediato, o mundo do
seu tempo, o mundo que os rodeia, tempo e espaço, experiència e
impress§es lhes fogem a todo momento, que os perdem para sempre.
Para eles, a arte passa a ser um correr atržs do "temps perdu",
da vida, que se lhes escapa e ë incoercìvel. Os perìodos do Naturalismo
absoluto nâo sâo os sëculos em que os homens se julgam na posse
segura e firme da realidade, mas aqueles em que temem perdè-la;
pelo que o sëculo XIX ë o sëculo clžssico do Naturalismo".
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Naturalismo:
representaçâo realista da natureza. Preconiza a volta Ç natureza e
Ç simplicidade primitiva, quer nas instituiç§es sociais, quer na maneira
de viver. |
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Ver
com os olhos do artista
Reapresentar
a pintura de Gëricault, "Tètes coupëes"4, ou sua
reproduçâo, para que seja confrontada com a descriçâo elaborada anteriormente.
Quando a reproduçâo
da obra for utilizada, considerar sempre suas dimens§es verdadeiras. Nesse
caso, estimular uma observaçâo mais detalhada da execuçâo da pintura (visibilidade
do suporte, marcas da pincelada, distribuiçâo da cor, ocultamento do desenho
inicial, entre outras caracterìsticas).
Para valorizar a
necessidade de identificar-se com o autor da pintura, o grupo poderž questionar:
Quais foram as decis§es
mais importantes para Gëricault?
Por que representou o
tema desta maneira?
Terž sido esta obra realizada
sob encomenda?
A escolha e a representaçâo desse tema por Gëricault teriam sido influenciadas
por acontecimentos de sua ëpoca?
O professor poderž
provocar uma discussâo em que sejam relacionados exemplos da utilizaçâo
de pinturas como documento hist�rico5, anteriormente Ç
popularizaçâo da fotografia. Trazendo essa discussâo para o cotidiano dos
alunos, eles poderâo realizar uma atividade pržtica e construir uma narrativa
visual com os recursos disponìveis (recortes, fotoc�pias, desenhos, gravuras
etc.) para representar um fato conhecido por todos, interpretando-o individualmente.
Ou, ainda, comparar as fotografias que tenham sido utilizadas por diferentes
jornais e revistas para noticiar um mesmo evento. Esse percurso investigativo
explicitarž o Realismo social caracterìstico de Gëricault. |
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4.
"Têtes coupées"
Entre
1818 e 1819, Gëricault realizou grande variedade de estudos para
a pintura "A jangada do Medusa" (491 x 716 cm), uma jangada que
naufragara, matando vžrios tripulantes. Alëm de recolher todas as
informaç§es publicadas nos jornais, entrevistou sobreviventes do
naufržgio e o carpinteiro da barca, que o ajudou construir uma rëplica
em miniatura, na qual estudava os agrupamentos de figuras modeladas
em cera. Outro sobrevivente contou-lhe sobre o canibalismo necessžrio
Ç sobrevivència durante a espera pelo resgate. Alëm dos estudos
de modelo vivo, Gëricault visitava o Hospital Beaujon para estudar
detalhadamente os doentes e moribundos e obter membros amputados
do corpo humano que estudava em seu ateliè. Tambëm conseguia cabeças
de bandidos, guilhotinadas, para estudar o sofrimento e a morte
em seu processo de decomposiçâo durante atë quinze dias, conforme
relato de outros pintores de sua ëpoca.
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5.
Documento histórico
Rudolf Arnhein: "Quem comparar as pinturas de Rubens6
e Rembrandt ficarž impressionado com a diferença de mundos que se
apresentam nas obras desses dois artistas que estiveram tâo pr�ximos
no tempo e no espaço. Ï importante saber que um deles trabalhava
para um Estado tradicional feudal cujos governantes estavam rodeados
da riqueza do imaginžrio cat�lico romano, enquanto o outro conheceu
a frugalidade protestante, mas tambëm a recente prosperidade de
uma classe mëdia de mercadores democraticamente organizada. Essas
conex§es entre o conhecimento herdado e uma visâo prospectiva nâo
sâo automaticamente evidentes. Devem ser tornadas explìcitas".
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Rubens:
(Peter Paul Rubens - 1577-1640). Pintor flamengo. A dramaticidade
das pinceladas que em suas pinturas depositavam luz e cor ë uma caracterìstica
que influenciou, com outros pintores dos sëculos XVI e XVII, os pintores
roménticos do sëculo XVIII. |
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Ver
e sentir
O grupo deverž observar e analisar a superfìcie da pintura para identificar
a utilizaçâo de cor, contrastes de luz e sombra, a organizaçâo da composiçâo.
Ao analisar o uso
da cor, identificar, sob o ponto de vista formal, seu papel na estruturaçâo
da imagem: ë utilizada apenas para preencher as žreas definidas pelo desenho?
Qual o grau de adequaçâo da seleçâo feita por Gëricault aos cénones acadèmicos7
de seu tempo?
Confrontar as respostas
a esses questionamentos com:
outras pinturas de Gëricault
(por exemplo, "Artilharia" ou "Corrida em Epson");
pinturas figurativas
de contemporéneos de Gëricault na Europa, e que tenham retratado a figura
humana de maneira naturalista ou idealizada, como, por exemplo, Delacroix
ou Ingres;
pinturas figurativas
realizadas no Brasil, sob influència do Romantismo francès, tais como as
de Pedro Amërico e Vitor Meirelles;
"Study for a portrait",
obra de Francis Bacon apresentada na XXIV Bienal; nesse caso, destacar a
atitude realista, que pode estar presente em artistas que produziram em
perìodos hist�ricos diferentes.
as obras de Brian Maguire
apresentadas nesta XXIV Bienal e reproduzidas no Material de Apoio.
Ao analisar a relaçâo
entre o uso da cor e a definiçâo das žreas de luz e de sombra, valorizar
os efeitos expressivos obtidos. Relacionar a essa observaçâo a experiència
real de utilizar determinada cor no vestužrio para destacar-se ou confundir-se
com o ambiente. Comparar os efeitos da iluminaçâo artificial elëtrica com
outros meios: velas, lamparinas, lampi§es, e refletir sobre as necessidades
de domìnio de recursos tëcnicos para registrar visualmente esses efeitos.
Comparar os tipos
de maquilagem utilizados pelos atores para enfatizar o caržter dos personagens
que representam.
Considerando que
a pintura ë, afinal, um objeto bidimensional, analisar a maneira como Gëricault
representa as formas, os volumes, com pinceladas de cor. Observar, nas marcas
deixadas pelo pincel, as direç§es que estruturam a composiçâo, os objetos
e o espaço que os envolve. Estimular a experimentaçâo de diferentes sensaç§es
provocadas pelo contato com diferentes texturas (mais ou menos žsperas,
mais ou menos descontìnuas) e por sua justaposiçâo. Comparar as sensaç§es
obtidas pelo tato com as obtidas pela visâo dos objetos em espaços diferentes
(mais ou menos iluminados, em condiç§es de visibilidade diversas).
Comparar as cores
utilizadas por Gëricault nesta pintura com as que tenham sido utilizadas
em outras pinturas, consideradas mais "expressivas" ou mais "frias". Propor
aos alunos que descrevam, conforme suas experièncias ou sua imaginaçâo,
as sensaç§es que sentiriam ao entrar em um ambiente que tivesse as cores
utilizadas por Gëricault em "Tètes coupëes".
O professor poderž
aproveitar a curiosidade e a observaçâo do papel da cor na pintura despertados
pela anžlise da obra para orientar uma atividade pržtica e de pesquisa sobre
a teoria das cores, os princìpios bžsicos de utilizaçâo da cor na pintura
em diferentes ëpocas, a hist�ria dos processos da pintura ou as propriedades
dos pigmentos. |
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6.
Cânones Acadêmicos
Anatol Rosenfeld e J. Guinsburg comentam as regras que "(...)
dominaram durante sëculos o fazer artìstico na Europa e que, em
essència, constituìam a canonizaçâo de aspectos fundamentais da
arte e da literatura da AntigÆidade greco-latina. Em sua
feiçâo normativa, estes cénones apresentaram-se como sendo principalmente
os da proporçâo, da racionalidade, da objetividade, da unidade,
do equilìbrio, da harmonia, da moderaçâo, da disciplina, do desenho
sapiente. Sâo os elementos de uma linha apolìnea, clara, löcida,
harmoniosa, solar, diurna, que se pode definir como o estilo especìfico
do Classicismo. Esse estilo, desde o Renascimento, pelo menos
como busca deliberada, foi se impondo Ç literatura e Çs artes, como
uma pržtica e um ideal".
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Antigüidade
greco-latina:
a AntigÆidade Clžssica foi um perìodo cujos ideais estëticos buscavam
um princìpio önico de proporçâo, harmonia e ordem para a representaçâo
das coisas, criando obras que foram valorizados como paradigmas no
Renascimento e em outros momentos da Hist�ria da Arte. |
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Renascimento:
relativo Ç Renascença, movimento artìstico e cientìfico que pretendia
um retorno Ç AntigÆidade clžssica. |
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Ver a realidade
Retomando
o tema de "Tètes coupëes", o grupo poderž pesquisar sobre o processo adotado
por Gëricault para pintar a realidade7. A observaçâo
direta da realidade ë uma maneira de captar suas singularidades. A identificaçâo
das singularidades representadas por Gëricault conduz Ç compreensâo de
que um artista pode representar indivìduos e objetos valorizando mais
sua sensibilidade ou sua racionalidade.
Outra possibilidade
de trabalho decorre da relaçâo entre "Tètes coupëes" e a produçâo pict�rica
de Gëricault8. Por que teria utilizado a pintura a �leo
para representar este tema? Por que teria utilizado este formato? Em sua
ëpoca, quais teriam sido as dimens§es aceitžveis para uma pintura? Por
què?
Na discussâo das
conclus§es extraìdas da anžlise da obra e de seus desdobramentos curriculares,
avaliar a compreensâo dos conceitos trabalhados e sua articulaçâo com
o tema do Nöcleo Hist�rico em que esta pintura estž inserida. Procure
valorizar as caracterìsticas particulares (inseridas na temžtica da obra
de Gëricault) e as universais (a investigaçâo das formas do mundo real)
que determinam sua presença neste contexto.
Sugestões
de continuidade
Pesquisar as exposiç§es
de pintura, os sal§es parisienses, na primeira metade do sëculo XIX. Como
eram selecionadas as obras, quais eram os critërios utilizados para a
seleçâo? O que esses critërios tinham a ver com seu tempo hist�rico? Que
critërio justifica a inserçâo de Gëricault na XXIV Bienal? O que esse
critërio tem a ver com nosso tempo hist�rico?
Tambëm ë possìvel pesquisar
os efeitos da aceitaçâo ou da recusa em exposiç§es sobre a carreira de
certos artistas que sâo considerados atë hoje os grandes mestres do sëculo
XIX.
Quais sâo os procedimentos
adotados pelos artistas para representar as formas do mundo real? Sabemos
que a execuçâo de uma pintura a �leo ë lenta, muitas vezes precedida de
vžrios esboços a lžpis. Dessa maneira, quais teriam sido as raz§es de
Gëricault para conviver com os "objetos" retratados em seu ateliè? O que
essa convivència poderia ter acrescentado Ç representaçâo dos "objetos"?
Comparar as representaç§es
da morte na arte cristâ em diferentes perìodos. Observar as diversas representaç§es
de agonia, sofrimento e morte nas figuras que comp§em cenas religiosas.
Conversar com os alunos sobre o que conhecem da morte9
e os rituais que a cercam.
Considerando o distanciamento
que deve ser necessžrio para que o artista possa analisar e interpretar
os "objetos" que pinta em seu ateliè como simples formas, Gëricault retratou
em "Tètes coupëes" pessoas desconhecidas. Compare essa pintura com a sërie
de desenhos do artista brasileiro Flžvio de Carvalho10,
que retratou sua mâe durante o falecimento. A partir dessa comparaçâo,
o que se pode inferir sobre o tempo hist�rico desses dois artistas?
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7.
Pintar a realidade
Auguste Rodin: "O feio na arte ë tudo o que ë falso. (...)
Nâo que o artista veja todas as coisas como se fossem boas, jž que
o sofrimento freqÆentemente ataca aqueles de quem gosta, e tambëm
ele mesmo, rejeitando cruelmente seu otimismo. Mas para ele tudo
ë belo porque caminha incessantemente sob a luz da verdade espiritual.
Assim, mesmo no sofrimento, mesmo diante da morte de seus entes
queridos, e mesmo diante da traiçâo de um amigo, o grande artista
- com o que me refiro ao poeta, tanto quanto ao pintor ou ao escultor
- encontra o tržgico prazer da contemplaçâo."
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8.
Produção pictórica de Géricault
Walter
Zanini: "Seu escopo ë realizar uma amžlgama entre o fervente
clima roméntico e o comentžrio realista. Sua obra engloba a figuraçâo
de soldados, cavalos (onipresentes na iconografia roméntica),
retratos de loucos - numa pesquisa de situaç§es angustiantes ou
de registros do feio, do repulsivo e do sinistro, assentados numa
elaboraçâo plžstica de fortes contrastes de claro-escuro, de cores
acaloradas, Çs vezes de lampejos 'informais' que apontam para a
arte do sëculo XX".
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Amálgama:
mistura de elementos diversos que contribuem para formar um todo. |
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Iconografia:
arte de representar por meio da imagem. |
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9.
Morte
Segundo
E. Morin, "A partir da segunda metade do sëculo XIX inicia-se uma
crise de morte. (...) um clima de angöstia, (...) autèntica crise
da individualidade perante a morte. (...) crise geral do mundo contemporéneo.(...)
O romantismo ë em primeiro lugar crise de inadaptaçâo ao emburguesamento
(...) ë recusa da vida nova, da civilizaçâo burguesa triunfante,
do "novo ambiente" urbano, tëcnico, maquinista, (...) Essa inadaptaçâo
suscita o desejo patëtico e impotente de reviver um perìodo de verdades
originais (...) a saudade do passado "natural" pode-se aliar Ç expectativa
profëtica de um futuro luminoso (...) Mas onde (...) o romantismo
nâo se pode agarrar Ç esperança revolucionžria surge a solidâo do
indivìduo num mundo de participaç§es que lhe sâo estranhas. (...)
essa individualidade consagrada pela revoluçâo burguesa como valor
absoluto (...) tanto no plano econ–mico e polìtico como no sociol�gico,
encontrar-se-ž lançada num mundo de rupturas e participaç§es cada
vez mais regressivas." Segundo Sypher: "Goya estž pr�ximo de Gëricault
e Daumier porque descobriu o grotesco como Hugo entendia o termo
(...).Victor Hugo insistia em que o drama roméntico deveria apresentar
"o anormal e o horrìvel, o c–mico e o burlesco", a fera ao lado
da bela."
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10.
Flávio de Carvalho
Flžvio
de Carvalho (Barra Mansa, RJ, 1899 - Valinhos, SP, 1973) foi um
artista paulista, pioneiro da arquitetura moderna brasileira, pintor,
desenhista e escritor. Sempre distinguiu-se pelo arrojo e pelo ineditismo
de sua atuaçâo, como em seu desfile com as roupas que desenhou para
usar em paìses tropicais, incluindo uma saia masculina, com que
desfilou em 1956 pelo centro de Sâo Paulo. Realizou muitos retratos
e nus femininos com forte influència expressionista. Em 1947, fixou
com grande sensibilidade os öltimos momentos de vida de sua mâe
no leito de morte nos desenhos da "Sërie Tržgica", um ponto marcante
em sua obra. Francisco Luìs de Almeida Sales comenta essa sërie:
"A ousadia de Flžvio de Carvalho, postando-se löcido diante do coma
maternal, abalou o burgo piratiningano, rico e burguès, mas submisso
aos padr§es estereotipados da moral e do sentimentalismo. (...)
Irreverència, frieza, insensibilidade, desrespeito? Eis os comentžrios
que cercaram o macabro testemunho. O papel era um inv�lucro semelhante
ao pano dos criminosos impiedosos, guardando membros sangrentos
de suas vìtimas do �dio e do amor".
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Glossžrio
Apolínea: relativo a Apolo, deus da luz e das artes que personificava
o Sol; caracteriza-se por equilíbrio, sobriedade, disciplina e comedimento.
Canonização:
glorificação, referente ao ato de canonizar, isto é,
dar destaque a um elemento no conjunto em virtude de suas qualidades excepcionais.
Escopo: alvo,
mira, intenção.
Incoercível:
que não se pode coibir, irreprimível.
Onipresente:
que está ao mesmo tempo em toda parte, ubíquo.
Pigmentos:
substâncias colorantes utilizadas na fabricação de
tintas.
Pintura a óleo:
processo popularizado a partir do século XIV que permitiu a substituição
dos suportes sólidos (madeira) por outros maleáveis e transportáveis,
como a tela de linho esticada.
Processos técnicos
da pintura: as técnicas tradicionais para pintura em cavalete
ou pintura em mural são: óleo, têmpera, aquarela,
guache, pastel, tinta acrílica, encáustica e afresco.
Realismo social:
movimento artístico que sofre influência do desenvolvimento
das ciências biológicas e vê todas as manifestações
sociais a partir de princípios derivados da observação
das relações sociais.
Texturas: qualidades táteis da superfície dos materiais.
Visão prospectiva:
visão que especula em relação ao futuro..
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Bibliografia
ARNHEIN, Rudolf. "Thoughts on art education". Los Angeles, Califórnia:
The Getty Center for Education in the Arts, 1989.
SALES, Francisco Luís de Almeida. A Série Trágica de
Flávio de Carvalho. "Bienal Brasil século XX". São
Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1994.
HAUSER, Arnold. "História social da literatura e da arte".
São Paulo: Mestre Jou, 1982. v. 2.
MAYER, Ralph. "A dictionary of art terms and techniques". New
York: Barnes & Noble Books, 1981.
MORIN, Edgar. "O homem e a morte". Portugal, Publicações
Europa-América, 1988. (2a edição)
MOTTA, Edson, SALGADO, Maria Luiza Guimarães. "Iniciação
à pintura". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.
OSTROWER, Fayga. "Universos da arte". Rio de Janeiro: Campus,
1983.
RODIN, Auguste. "Art: conversation with Paul Gsell". Berkeley,
Los Angeles, Londres: California University, 1984.
ROSENFELD, Anatol, GUINSBURG, J. "Romantismo e classicismo". In:
GUINSBURG, J. (Org.). "O romantismo". São Paulo: Perspectiva,
1978.
SYPHER, Wylie. "Do rococó ao cubismo". São Paulo:
Perspectiva, 1980.
ZANINI, Walter. "A arte romântica". In: GUINSBURG, J. (Org.).
"O romantismo". São Paulo: Perspectiva, 1978. |