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Cruzando fronteiras: |
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O uso combinado de
diversas tëcnicas e materiais no processo de criaçâo de Shuka Glotman;
Por quê? Perceber as inter-relaç§es
entre as diversas modalidades de arte e as possibilidades de fus§es entre
diversos procedimentos tëcnicos ë um modo de se aproximar das propostas
de arte contemporéneas.
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Como?
(Quando? Onde?) Observando Procure ficar por algum tempo observando e discutindo a imagem da obra de Shuka Glotman1 com seus alunos. A questâo nâo ë acertar ou errar as respostas, o importante ë compartilhar a experiència individual com o grupo, criando nesse processo novas formas de perceber a obra. Experimente criar suas pr�prias perguntas. O que estž sendo usado como fundo desta imagem? Por que o artista nâo fez seu trabalho sobre uma folha em branco? Em que lìngua foi escrito este jornal? Conseguem entender alguma coisa? O que sâo estas manchas pretas que formam linhas pontilhadas por tržs das figuras? Quem sâo estas figuras? Como elas se sentem? O que estâo fazendo? Por que estâo misturados ìndios das hist�rias do oeste dos Estados Unidos com soldados contemporéneos? Estas figuras tem algo em comum? Por que tantas armas? Como o artista fez esta imagem? Que tipos de materiais ele pode ter utilizado? O tìtulo desta obra ë "Shooting" (atirando). Saber isto ajuda a entender melhor a obra? Cruzando fronteiras As possibilidades de escolha de materiais, de instrumentos e de tëcnicas de criaçâo disponìveis para os artistas cresceram muito durante os öltimos cem anos. Essa oferta diversificada acentuou na obra de vžrios artistas a tendència de misturar esses diferentes recursos na criaçâo de suas obras. A aproximaçâo entre as artes2 plžsticas e as outras modalidades de artes, como a mösica, o teatro e a literatura, ë algo constante ao longo da Hist�ria da Arte. Essas diversas formas de expressâo se relacionam Ç sociedade e Ç cultura ao longo do tempo Ç medida que sâo produzidas sob a influència de um dado contexto. No sëculo XX, viu-se uma tentativa de afastamento entre artes plžsticas e literatura para evitar qualquer subordinaçâo de uma em relaçâo Ç outra, especialmente no momento em que as artes plžsticas descobrem a abstraçâo e procuram se livrar de qualquer conteödo aned�tico. Shuka Glotman usa c�pias coloridas, fotografias, desenhos e textos na criaçâo de sua obra. O artista vive em Israel, um paìs do Oriente Mëdio, regiâo onde ë muito presente o conflito entre os povos para delimitar fronteiras religiosas, polìticas e econ–micas. Segundo o artista, o jornal em outra lìngua e os personagens de diferentes ëpocas que escolheu para compor esta obra sâo formas de criar um distanciamento que permita olhar as violèncias e as fronteiras de outra forma. A arte pode propiciar um novo olhar sobre as formas a que a sociedade visa para representar simbolicamente essas diferenças culturais. Enquanto terminava de produzir sua instalaçâo3 na XXIV Bienal, cruzando fronteiras de linguagem ao unir objetos, vìdeo e texto, o pr�prio Shuka Glotman sugeriu duas atividades relacionadas com seu processo de criaçâo para serem realizadas com os alunos: |
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1.
Conte uma hist�ria com desenhos. Shuka se interessa muito pelos processos e etapas da produçâo de qualquer artefato. Seu vìdeo mostra detalhadamente os estžgios da confecçâo de um cacetete de madeira usado pela polìcia de seu paìs, desde o corte da žrvore atë o trabalho de torno na madeira. Na mesma casa onde o marceneiro faz seus cacetetes raspando a madeira no torno hž uma barbearia e o vìdeo tambëm mostra a cabeça do artista sendo raspada. Trata-se de uma cena de fronteira: o marceneiro e o barbeiro sâo žrabes, o artista israelense. Pedir aos alunos para imaginar e pesquisar a confecçâo de qualquer coisa, como, por exemplo, uma omelete, desde a postura dos ovos pelas galinhas atë o momento que chega ao prato. Contar esta hist�ria integrando colagens, desenhos com diferentes materiais e textos. Discutir com a classe as diferentes leituras e interpretaç§es4 das hist�rias que criaram. |
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2. Como
vocè inventa algo novo?
Na instalaçâo de Shuka vocè vai encontrar uma fileira de vasos com cacetetes enterrados como se fossem plantas. Combinar coisas de diferentes usos pode ser um modo de inventar objetos inusitados. Shuka sugeriu orientar os alunos a inventar artefatos a partir de diferentes combinaç§es de elementos existentes. Por exemplo: reinventar as folhas. Num passeio a um parque poderìamos recolher inömeros tipos de folhas. Ï surpreendente a variedade de formas, texturas e cores das folhas na natureza. Propor coletar e combinar por meio de recorte e colagem partes de diferentes folhas num önico papel (a proposta tambëm pode ser realizada a partir de xerox). Os alunos podem aplicar o mesmo processo de colagem para combinar objetos do cotidiano, utensìlios domësticos ou qualquer coisa fabricada pelos homens com elementos encontrados na natureza: pedras, raìzes, sementes, folhas, flores... Propor aos alunos montar seu pr�prio museu de coisas que nunca existiram, inventando nomes inusitados para cada peça que criarem e textos explicando 'para que servem' ou 'onde foram encontrados'. Cruzando fronteiras na Bienal A XXIV Bienal de Sâo Paulo ë uma boa oportunidade para realizar rapidamente uma viagem em torno do mundo, explorando o modo como artistas de todos os cantos do globo percebem e contribuem para a manifestaçâo de suas culturas locais. Nâo apenas falamos diferentes lìnguas, mas olhamos de diferentes formas para a vida e nos expressamos em nossos processos de criaçâo segundo um estilo5 particular. Esse contraste pode permitir o desenvolvimento de uma consciència transcultural ao identificarmos pontos conflitantes e afinidades entre a produçâo de artistas dos diferentes paìses. Explore esse aspecto da mostra com seus alunos, orientando-os para que procurem obras que se assemelhem Ç esta de Shuka Glotman por adotarem tëcnicas mistas em sua criaçâo ou por explorarem uma temžtica semelhante Ç que perceberam ao discutir sua obra. |
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Investigar
a criação da língua e dos símbolos que a representam
A cultura, ambiente gerador da lìngua6 enquanto c�digo de comunicaçâo e expressâo, tambëm situa a criaçâo dos c�digos caracterìsticos da linguagem de cada artista e de cada grupo de artistas. Percebendo a obra "Shooting" e seu tìtulo como enigmas, c�digos a serem decifrados, estabelecer um paralelo entre os processos de criaçâo da lìngua e da linguagem artìstica, observando as semelhanças e diferenças entre os sìmbolos que utilizam e as regras que estabelecem para articulž-los (por exemplo, comparar os processos de criaçâo coletivos com a criaçâo individual, na lìngua e na arte). Sugerimos orientar os alunos a pesquisar: as diferentes formas de falar, em sua famìlia e na comunidade em que vive. Atualmente, dentro de uma mesma comunidade encontramos pessoas falando de formas muito diversas. Isso pode acontecer por vžrios motivos, por exemplo: por diferenças de idade, por serem descendentes de pessoas que falavam lìnguas diferentes, por virem de diversas regi§es do Brasil e pelo acesso que tiveram Ç educaçâo; a etimologia, a origem dos significados das palavras (da lìngua escrita e falada) que usamos no dia-a-dia, como forma de compreender os processos de criaçâo da lìngua e ampliar nosso vocabulžrio (seria interessante pesquisar algumas ligadas Ç arte: a pr�pria palavra "arte", em sua origem, relaciona-se Ç articular, estabelecer relaç§es qualitativas...). a representaçâo visual dos diversos c�digos utilizados para a comunicaçâo em nossa cultura, como o alfabeto Braille usado pelos cegos, a linguagem dos sinais utilizadas pelos surdos, a notaçâo musical, e a sinalizaçâo adotada pelo c�digo de trénsito; a origem de nosso alfabeto e outras formas de escrita que nâo se baseiam no registro dos sons da lìngua, como os ideogramas chineses e os pictogramas (ou hier�glifos) egìpcios. Na discussâo dos resultados das pesquisas, podemos comparar aspectos da lìngua e da arte dos diversos grupos culturais presentes na comunidade e avaliar se os alunos compreendem e relacionam a suas vidas essas manifestaç§es das identidades e diferenças culturais (ë um �timo momento para conversar sobre preconceitos). Essa avaliaçâo pode ser feita por meio da participaçâo na conversa, ou por um texto registrando as impress§es de cada aluno sobre a discussâo. |
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Criar
mensagens secretas Partindo dessas investigaç§es e da idëia de cifrar/decifrar mensagens, o professor pode produzir com os alunos outros c�digos, utilizando figuras e elementos da linguagem visual que eles usam quando desenham, como coraç§es, estrelas, casinhas, florzinhas, s�is etc. Dialogar sobre o significado que esses sìmbolos tèm para cada um deles, procurando estabelecer um c�digo comum para trocar mensagens secretas. Usar qualquer material de desenho, pintura ou colagem disponìvel, incluindo revistas ou jornais, para que todos produzam suas mensagens, explorando diversas formas de agrupar os sìmbolos7 que eles escolheram. Sugira aos alunos que procurem combinar vžrias tëcnicas de criaçâo e materiais em uma mesma proposta. Essa experiència ë um bom momento para discutir na pržtica os limites entre a comunicaçâo e a expressâo na arte e na lìngua, por meio do contraste entre a experiència de "desenhar" para se comunicar com o "desenhar" com uma finalidade expressiva8. Para ampliar a discussâo, ë importante colocar que, se por um lado os sìmbolos em arte sâo de natureza expressiva, com funçâo distinta da fala ou sìmbolos utilizados com fins informativos, como os sinais de trénsito, por outro lado a lìngua falada ou escrita tambëm pode assumir uma funçâo poëtica de natureza artìstica. Conversar sobre os c�digos e as mensagens que os alunos criaram. A lìngua e a arte sâo uma forma de verificar se estabeleceram com esses aspectos da cultura uma atitude crìtica, percebendo a cultura como criaçâo do ser humano, e poëtica, conseguindo reconhecer-se como construtores de significados em sua interaçâo com a lìngua, a arte e a cultura9. Sugest§es de continuidade Este percurso pode ser ampliado e integrado de diversas formas dentro de sua proposta curricular. Procure registrar as novas associaç§es e os questionamentos que surgirem ao longo de sua realizaçâo para avaliar seu pr�prio processo. Novas dövidas abrem novos caminhos, permitindo pensar sua continuidade em seqÆèncias de propostas que permitam estruturar um currìculo: Como as diversas etnias presentes no Brasil foram representadas no decorrer da Hist�ria pelos artistas, escritores, mösicos e cineastas brasileiros? Como se relacionam essas representaç§es com as atitudes tomadas em relaçâo a cada grupo pela sociedade brasileira ao longo de sua Hist�ria? As pessoas de sua comunidade manifestam algum tipo de preconceito? Como cada aluno representaria os brasileiros depois dessa pesquisa? |
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Bibliografia ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. "Revista de Antropofagia", n. 1, ano 1, maio 1928. BENTO, Antônio. In: Carybé. "Macunaíma: ilustrações do mundo do herói sem nenhum caráter". Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos. São Paulo: Edusp, 1979. BELLUZZO, Ana Maria. "Trans-posições". São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998. FERRAZ, Maria Heloísa C.T., FUSARI, Maria F. de Rezende. "Metodologia do ensino de arte". São Paulo: Cortez, 1993. FUSARI, Maria F. de Rezende, FERRAZ, Maria Heloísa C.T. "Arte na educação escolar". São Paulo: Cortez, 1993. GONÇALVES, Agnaldo J. Síntese da modernidade. "Revista Guia das Artes", n. 28, São Paulo: Casa Editorial Paulista, 1992. HAYMAN, D'Arcy. "A arte essência da vida". In: O correio da UNESCO. "As três faces da arte". Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1975. HOOKER, J.T. "Lendo o passado: do cuneiforme ao alfabeto: uma história da escrita antiga". São Paulo: Melhoramentos/ Edusp, 1996. LÉGER, Fernand. "Funções da pintura". São Paulo: Nobel, 1989. OSTROWER, Fayga. "Universos da arte". Rio de Janeiro: Campus, 1983. STEINITZ, Ami, KORTUN, Vasif. O corte entre distâncias. In: "Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros." São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998. WOLFF, Janet. "A produção social da arte". Rio de Janeiro, Zahar, 1982. |