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A representação do negro na arte e a influência africana na cultura brasileira: reflexões a partir da obra de Seydou Keita

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Seydou Keita
Bamako, Mali, 1923




Sem título
fotografia
Bamako C.A.A.C.
The Pigozzi Collection, Genebra
Seydou Keita

O quê?

A pluralidade cultural e a consciència transcultural;
a influència africana na cultura brasileira e o preconceito racial;
a representaçâo do negro nas artes visuais: uma anžlise iconogržfica a partir da obra de Seydou Keita.

Por quê?

A curadoria da XXIV Bienal destaca o conceito de Antropofagia, relacionando-o Ç questâo da identidade e diversidade cultural. A pluralidade cultural ë um dos temas transversais contemplados nos Parémetros Curriculares Nacionais e refere-se "ao conhecimento e Ç valorizaçâo das caracterìsticas ëtnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no territ�rio nacional e Ç crìtica Çs relaç§es sociais discriminat�rias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um paìs complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal" (PCN - Pluralidade Cultural). O estudo da obra de Seydou Keita possibilita enfocar a diversidade cultural, contribuindo para a construçâo de uma consciència transcultural por meio de pesquisas, discuss§es e atividades sobre a representaçâo do negro brasileiro nas artes visuais e a influència africana na arte e na cultura brasileira.


Para quê?

Para permitir ao aluno:
apreciar esteticamente a obra de Seydou Keita;
comparar estëtica e criticamente as fotografias de Keita com outras obras de artistas que retrataram o negro no Brasil;
identificar as contribuiç§es africanas na arte e na cultura brasileira;
refletir sobre algumas quest§es relacionadas ao negro na realidade brasileira;
produzir trabalhos de criaçâo a partir das discuss§es sobre a pluralidade cultural, a visâo crìtica do negro na realidade brasileira e os princìpios estëticos da obra de Seydou Keita.

 

Como? (Quando? Onde?)
Apreciando a obra de Seydou Keita
O estudo da obra de Seydou Keita, ou de sua reproduçâo, propicia o conhecer arte, por meio das propostas deste percurso educativo. Os alunos poderâo, com o auxìlio do professor, ativar a curiosidade e o desejo de compreensâo, percebendo algumas quest§es:
Quem sâo as pessoas representadas? Ï possìvel perceber alguma relaçâo de parentesco entre elas? Como estâo vestidas? Vocè jž viu estas roupas em alguëm que vocè conhece? Quais os adornos que usam? Vocè jž viu estes adornos em alguëm que vocè conhece?
Qual a classe social a que pertencem? Que elementos levam vocè a identificar a posiçâo social?
Hž apenas uma figura principal ou vžrias? Como estâo posicionadas as figuras humanas? Hž alguns sentimentos expressos nos rostos das figuras?
Quais seus sentimentos e idëias em relaçâo Ç obra?
Que tëcnica foi empregada pelo artista: fotografia? Tinta a �leo? Aquarela? Pastel?
Hž formas repetidas? A imagem ë em preto-e-branco ou colorida? Se ë em preto-e-branco, repare nas diversas tonalidades entre o preto e o branco. Onde se encontram as žreas mais claras? E as mais escuras? Hž contraste entre luz e sombra ou hž uma nuance entre elas?
Como ë tratado o fundo da obra? Que elementos sâo utilizados no fundo da obra? Hž alguma relaçâo entre a figura e o fundo da obra? Estas fotos trazem alguma lembrança ou experiència particular? Qual? Por què?
Ï possìvel associž-la a outras imagens, outros fatos, conceitos, letras de mösica, mem�ria familiar? Quais? Por què?
Em sua opiniâo, o que faz com que as fotografias de Keita sejam consideradas arte? O que diferencia as fotografias de Seydou Keita da forma convencional de fotografar?

A leitura da imagem pode utilizar vžrias linguagens (verbal, gržfica, cènica etc.). A linguagem cènica, por exemplo, pode ser empregada para representar o que estž sendo percebido na obra de arte.
Lembramos que o principal papel do professor nesta discussâo ë o de mediar a conversa entre os alunos, estimulando-os a posicionarem-se diante da obra de Keita. Ï importante lembrar que a obra de arte tem uma leitura aberta e que cada forma de olhar tem sua validade, trazendo sua contribuiçâo para o grupo. No processo apreciativo nâo existe acerto ou erro, mas um olhar que se justifica a partir da imagem.

Contextualizando a obra de Seydou Keita
Propicie a discussâo com os alunos sobre o contexto social, geogržfico e cultural da obra de Seydou Keita. Algumas quest§es podem ser provocadoras:
Em que continente foram realizadas estas fotografias? O que leva vocè a identificž-lo? Sâo fotos atuais ou antigas?
As pessoas retratadas sâo vinculadas a alguma religiâo?
Ap�s essas quest§es, com o auxìlio de um mapa do continente africano, situe o paìs chamado Mali e sua capital, Bamako, onde foram realizadas as fotografias de Keita. Apresente tambëm algumas caracterìsticas da obra de Seydou Keita1, tendo como parémetro, em émbito social, polìtico, econ–mico e religioso, entre outros, as influèncias relacionadas ao contexto de Bamako2.

 

1. Algumas características da obra de Keita
As fotos dos personagens de Keita sâo construìdas a partir de poses planejadas, num ambiente de estödio, onde havia roupas europëias, acess�rios, ornamentos e outras fotografias expostas como modelos para clientes escolherem como seriam fotografados. As pessoas sâo representadas sërias ou com leves sorrisos tìmidos, pois essas express§es relacionam-se ao "ficar natural". Suas fotografias sâo elaboradas com a preocupaçâo de articular os jogos de motivos que sâo encontrados nas roupas ou nas tapeçarias que servem de fundo, criando composiç§es abstratas das quais, Çs vezes, surgem braços, mâos e rostos, lembrando, em algumas fotos, a pintura art nouveau de Klimt. Hž ainda a preocupaçâo em relacionar os contrastes entre o claro e o escuro harmoniosamente. Keita imprimiu um estilo pr�prio na fotografia, estabelecendo um dižlogo entre forma e fundo de maneira simples, inusitada e de grande qualidade estëtica. Suas fotos reforçam, dentre outras coisas, a beleza da mulher africana, acentuando as j�ias e a maquiagem, ressaltando o sentido de modernidade, enfatizando os sapatos e as sandžlias, as bolsas de mâos e os objetos eletr–nicos.

Gustav Klimt: (Viena, Ãustria, 1862 - Viena, Ãustria, 1928): Pintor austrìaco lìder da Secessâo de Viena (fundada em 1897), movimento de vanguarda responsžvel pela divulgaçâo do "Jugendstil", equivalente do "art nouveau" em seu paìs.
 

2. Bamako
As fotografias de Keita foram elaboradas em Bamako, capital de Mali, um paìs africano. Mali tem populaçâo de 9,1 milh§es de habitantes (estatìstica de 1994) e superfìcie de 1,24 milhâo de quil–metros quadrados. Fala o francès, como lìngua oficial, e o bambara, lìngua nativa conhecida por 80% dos malienses. Os muçulmanos representam 90%, os animistas, 9%, e os cristâos, 1%. Percebe-se nas obras de Seydou Keita a ausència das camadas camponesas que, alëm de nâo terem condiç§es econ–micas, acreditavam que a fotografia era um meio sutil de se apoderar da alma dos que se deixavam fotografar. As pessoas representadas pertencem Ç classe social economicamente privilegiada. Isso ë evidenciado pela presença de très elementos: o ouro, o islâ e a justaposiçâo entre o moderno e o tradicional. O ouro ë empregado como ornamento, sobretudo pelas mulheres, indicando prosperidade e elegéncia. O Islâ ë notado pelas vestimentas, como as tönicas, que descem atë o tornozelo e cobrem a maioria do corpo, mostrando parte do braço, as mâos e o rosto. O moderno e o tradicional sâo justapostos relacionando as vestimentas tradicionais com alguns elementos da revoluçâo tecnol�gica (motos, rždios etc.).

Muçulmanos: : adeptos da religiâo islémica ou maometana; seguidores da doutrina de Maomë.
Animistas: adeptos do animismo, crença segundo a qual todos os seres da natureza, vivos ou inertes, sâo dotados de almas ou espìritos e capazes de agir de modo semelhante Ç vontade humana.
 
A obra de Keita e a representaçâo do negro no Brasil
Para favorecer um debate sobre a representaçâo do negro no Brasil, faça uma anžlise comparativa entre as fotografias de Keita e as obras de outros artistas que representaram o negro na realidade brasileira4. Inclua nessa comparaçâo, alëm de fotografias, algumas pinturas (e demais meios expressivos), tendo em vista que a pintura e a fotografia convivem muito pr�ximas e se influenciam mutuamente.
A proposta consiste em contemplar as representaç§es do negro no Brasil em vžrios meios expressivos. Selecione alguns artistas pertencentes aos principais perìodos da Hist�ria brasileira. No sëculo XIX, por exemplo, podem ser analisadas as obras de alguns artistas que expressaram o "olhar europeu" sobre o negro, como as pinturas e os desenhos de Rugendas e Jean-Baptiste Debret (Paris, França, 1768 - id., 1848) e as fotografias de Victor Frond. Nesse perìodo, o negro foi representado como algo ex�tico, selvagem e vinculado Ç escravidâo. Para uma visâo mais detalhada, sugerimos a anžlise iconogržfica do negro na realidade brasileira do sëculo XIX, ilustrada no livro de Kossoy e Carneiro (1994).
No sëculo XX, com o Modernismo e influenciado por uma postura antropofžgica, o negro foi representado a partir de sua identificaçâo com a questâo da formaçâo da identidade nacional. As obras "A Negra" (1923), de Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886 - Sâo Paulo, SP, 1973), e "Mestiço" (1934), de Céndido Portinari (1903-1962), sâo bons exemplos dessa conceituaçâo. Alëm de Tarsila, outros artistas, dentro dessa mesma �ptica, tambëm representaram o negro em suas obras, como Di Cavalcanti (Rio de Janeiro, RJ, 1897 - id., 1976) e Lasar Segall (Vilna, Pol–nia, 1891 - Sâo Paulo, SP, 1957), entre outros.
Na contemporaneidade, o negro brasileiro tem sido representado vinculado a quest§es estëticas e polìticas e Ç diversidade cultural. Destacam-se, por exemplo, o Expressionismo realista de Ïlon Brasil e as fotos dos sem-terra de Sebastiâo Salgado.
Faça a anžlise comparando as obras de Keita com as obras dos artistas acima mencionados ou com outros fot�grafos em que identifique temžtica similar, suscitando algumas quest§es bžsicas, como: o Qual a semelhança ou diferença entre a representaçâo do negro na obra de Keita e nas demais representaç§es?
Qual a classe social representada na obra de Keita em relaçâo Çs obras dos outros artistas?
O que leva vocè a perceber a classe social?
Quais as obras que fazem algum tipo de denöncia social?
O que ë denunciado?
Em que condiçâo social, de forma geral, o negro brasileiro ë representado?
Hž algumas obras que tratam o negro e o preconceito5? Aponte quais e justifique.
 

4. O negro na realidade brasileira Darcy Ribeiro: "A disténcia mais espantosa do Brasil ë a que separa e op§e os pobres dos ricos. A ela se soma, porëm, a discriminaçâo que pesa sobre negros, mulatos e ìndios, sobretudo os primeiros" (p. 219). "... a luta mais žrdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi, e ainda ë, a conquista de um lugar e de um papel de participante legìtimo na sociedade nacional. Nela se viu incorporado Ç força. (...) Calculo que o Brasil, em seu fazimento, gastou cerca de 12 milh§es de negros, desgastados como a principal força de trabalho de tudo o que se produziu aqui e de tudo o que aqui se edificou" (p. 220).
Regina Leite Garcia: "Onde estâo os escravos e seus descendentes, senâo nas favelas, nas fžbricas, no subemprego, nos grandes contingentes de desempregados, exërcito industrial de reserva? Sâo eles que constituem maciçamente a classe trabalhadora brasileira. Sâo eles que servem Ç burguesia em funç§es subalternas. Sâo eles os 'meninos de rua', criaçâo brasileira para justificar a sociedade excludente e discriminat�ria que se mantëm hž quinhentos anos. E sâo eles nossos alunos, discriminados na escola e dela excluìdos" (p. 117)".

 

5. O negro e o preconceito
Darcy Ribeiro: "As atuais classes dominantes brasileiras, feitas de filhos e netos dos antigos senhores de escravos, guardam, diante do negro, a mesma atitude de desprezo vil. Para seus pais, o negro escravo, o forro, bem como o mulato, eram mera força energëtica, como um saco de carvâo, que, desgastado, era substituìdo facilmente por outro que se comprava. Para seus descendentes, o negro livre, o mulato e o branco pobre sâo tambëm o que hž de mais reles, pela preguiça, pela ignoréncia, pela criminalidade inatas e inelutžveis. Todos eles sâo tidos consensualmente como culpados de suas pr�prias desgraças, explicadas como caracterìsticas da raça e nâo como resultado da escravidâo e da opressâo. Essa visâo deformada ë assimilada pelos negros que conseguem ascender socialmente, os quais se somam ao contingente branco para discriminar o negro-massa" (p. 222).

 

A influència africana na realidade brasileira
Tendo como temžtica a influència africana na cultura brasileira, faça uma pesquisa com os alunos. Divida-os em grupos, de acordo com os seguintes temas:
A influència africana na culinžria brasileira;
A influència africana nas festas populares brasileiras;
A influència africana na vestimenta do brasileiro;
A influència africana nos adornos brasileiros;
A influència africana na mösica popular brasileira;
A influència africana na dança brasileira;
A influència africana nos instrumentos musicais;
A influència africana nas brincadeiras infantis;
A influència africana na pintura (neste caso, inclua tanto as obras de brasileiros quanto as dos artistas de outras nacionalidades);
A arte africana (inclua tambëm a coleta de informaç§es sobre a arte africana).
Ap�s a pesquisa, os alunos deverâo montar painëis e apresentž-los de acordo com cada temžtica escolhida, evidenciando as reflex§es sobre o negro e a cultura brasileira6.

 

6. O negro e a cultura brasileira
Darcy Ribeiro: "... o negro urbano veio a ser o que hž de mais vigoroso e belo na cultura popular brasileira. Com base nela ë que se estrutura nosso Carnaval, o culto de Iemanjž, a capoeira e inumeržveis manifestaç§es culturais. Mas o negro aproveita cada oportunidade que lhe ë dada para expressar seu valor. Isso ocorre em todos os campos em que nâo se exige escolaridade. Ï o caso da mösica popular, do futebol e de numerosas formas menos visìveis de competiçâo e de expressâo. O negro veio a ser, por isso, apesar de todas as vicissitudes que enfrenta, o componente mais criativo da cultura brasileira e aquele que, junto com os ìndios, mais singulariza nosso povo" (p. 222-3).

 

O negro no Brasil
O professor deve refletir, em conjunto com os alunos, sobre o negro na realidade brasileira. Preste muita atençâo ao que vai dizer e aos comentžrios deles. Respeitando os argumentos expostos pelos alunos, procure expor exemplos que permitam perceber os efeitos nocivos do preconceito e da discriminaçâo para a sociedade. Tenha cuidado para que os preconceitos nâo sejam reforçados, mas desmistificados.
O professor de artes deve, como intelectual transformador, permitir que, a partir do contato com a arte e a cultura, os alunos possam perceber o Brasil como um paìs mestiço, em que o respeito Ç diversidade ëtnica ë fundamental. Ï importante esclarecer que esse elevado grau de mestiçagem dilui os limites entre as diferentes etnias, mas nâo elimina os conflitos.
A Lei Afonso Arinos marca a posiçâo da sociedade brasileira como contržria Ç discriminaçâo (ë cada vez mais comum encontrar na imprensa denöncias de discriminaçâo em que as vìtimas de preconceito se defendem por intermëdio dessa lei).
Assim, ë sempre importante tratar de algumas quest§es relacionadas ao negro e Ç identidade brasileira7 e como estâo caracterizados na sociedade de hoje, discutindo com seus alunos a relaçâo entre a democracia racial e a democracia social8.

 

7. O negro e a identidade brasileira Darcy Ribeiro: "O enorme contingente negro e mulato ë, talvez, o mais brasileiro dos componentes de nosso povo. O ë porque, desafricanizado na m� da escravidâo, nâo sendo ìndio nativo nem branco reinol, s� podia encontrar sua identidade como brasileiro. Vale dizer, como um povo novo, feito de gentes vindas de toda parte, em pleno e alegre processo de fusâo. Assim ë que os negros nâo se aglutinam como uma massa disputante de autonomia ëtnica, mas como gente intrinsecamente integrada no mesmo povo, o brasileiro" (p. 223).
Regina Leite Garcia: "Entendo ser este um dos grandes desafios que se colocam para n�s no Brasil hoje, se ë que hž um desejo coletivo de construir, de fato, uma nova sociedade, amorosa e solidžria, em que o 'diferente' nâo seja considerado 'bžrbaro', mas seja respeitado em sua diferença, e possa participar da construçâo coletiva de uma sociedade multicultural, assumida como mestiça. Mestiça sim, condiçâo que, se assumida, nos faria um povo original e potente. De mazombos nostžlgicos da Europa mimetizada, mestiços orgulhosos de sua identidade cultural pr�pria" (p. 116).

 

8. A democracia racial e a democracia social
Darcy Ribeiro: "... a democracia racial ë possìvel, mas s� ë praticžvel conjuntamente com a democracia social. Ou bem hž democracia para todos, ou nâo hž democracia para ninguëm, porque Ç opressâo do negro condenado Ç dignidade de lutador da liberdade corresponde o opr�brio do branco posto no papel de opressor dentro de sua pr�pria sociedade" (p. 227). "As taxas de analfabetismo, de criminalidade e de mortalidade dos negros sâo, por isso, as mais elevadas, refletindo o fracasso da sociedade brasileira em cumprir, na pržtica, seu ideal professado de uma democracia racial que integrasse o negro na condiçâo de cidadâo indiferenciado dos demais" (p. 235).

 

Representando estëtica e criticamente o negro no Brasil
Propor aos alunos que construam, individualmente ou em grupos, alguns trabalhos a partir de um dos seguintes encaminhamentos:
1a proposta: Construa uma instalaçâo e/ou uma performance que evidencie a influència africana na realidade brasileira e comente a questâo do negro no Brasil (sua situaçâo, possibilidades de participaçâo social, formas em que ë representado etc.).
2a proposta: Usando mžquina fotogržfica, cada aluno ou um dos alunos de cada grupo deve fotografar pessoas da comunidade, compondo cenžrios que tenham alguma relaçâo estëtica e plžstica com as roupas que as pessoas fotografadas estâo usando. Busque tambëm relacionar o cenžrio com outros aspectos das pessoas retratadas: ë possìvel relacionž-lo com a personalidade das pessoas? Com a posiçâo social? (Caso seja impossìvel conseguir ao menos uma mžquina fotogržfica para toda a classe, os filmes, a revelaçâo e a ampliaçâo das fotos, a proposta pode ser adaptada para um trabalho realizado a partir de fotos coletadas pelos alunos dentro de suas famìlias ou comunidade.)
3¼ proposta: Empregando a tëcnica mista, faça uma releitura apropriando-se, de forma crìtica, das representaç§es do negro realizadas por Seydou Keita e pelos demais artistas enfocados.
Ap�s a execuçâo das atividades, solicite aos alunos que reflitam sobre o que foi produzido. Esse processo de produçâo/reflexâo fornecerž subsìdios para avaliar a compreensâo dos alunos sobre a obra de Keita, sobre as outras obras estudadas e sobre as quest§es relacionadas ao negro no Brasil.

Sugest§es de continuidade
Uma pesquisa sobre a arte da tapeçaria tambëm pode ser proposta, tendo em vista sua utilizaçâo nas fotografias de Keita. Nesse caso, apresente os principais tapeceiros, fazendo uma inter-relaçâo entre a tapeçaria erudita e a popular no Brasil.
A obra de Keita fornece subsìdios para uma anžlise relacionada Ç questâo da fotografia. Algumas reflex§es sâo interessantes para serem trazidas para a sala de aula: o que qualifica uma fotografia como artìstica? Como a fotografia ë utilizada na propaganda? Qual a influència da fotografia na pintura e vice-versa? O que distingue as fotos de Keita de outras fotos artìsticas?
Pode-se explorar ainda a representaçâo do negro nas artes gržficas (propaganda, charges etc.), nas telenovelas (os alunos poderâo gravar trechos das novelas ou relatar criticamente o que assistiram) e no cinema (apresentar criticamente os trechos de alguns filmes que tratem do negro).
A anžlise da obra de Seydou Keita e a reflexâo sobre a influència africana na cultura brasileira dâo subsìdios para um projeto envolvendo diversas disciplinas, principalmente as žreas de Hist�ria, Sociologia, Geografia, Religiâo e Lìngua Portuguesa. Em Hist�ria, podem ser explorados a escravidâo e o racismo no Brasil9. Em Geografia, podem ser estudados o continente africano, os locais de origem da populaçâo negra e o paìs de Mali, em particular. Em Lìngua Portuguesa, podem ser enfatizadas as palavras de nosso cotidiano oriundas dos dialetos africanos e os laços com os paìses da Ãfrica onde o portuguès ainda ë a lìngua oficial. Em Sociologia, pode-se estudar as relaç§es sociais, polìticas e culturais que permeiam a realidade africana. As aulas de Religiâo podem estudar o islamismo, o animismo e o cristianismo, principais religi§es de Mali. Portanto, procure encaminhar suas aulas, na medida do possìvel, em parceria com os demais professores.
A reflexâo e a discussâo sobre o preconceito e a discriminaçâo podem ser estendidas a outras minorias ëtnicas, culturais, polìticas, sexuais etc., sempre articuladas Ç percepçâo das formas como essas quest§es foram e sâo representadas historicamente nos diversos meios de expressâo artìstica.

 

9. O racismo no Brasil
Darcy Ribeiro: "A caracterìstica distintiva do racismo brasileiro ë que ele nâo incide sobre a origem racial das pessoas, mas sobre a cor de sua pele. Nessa escala, negro ë negro retinto, o mulato jž ë o pardo e como tal meio branco, e se a pele ë um pouco mais clara, jž passa a incorporar a comunidade branca. Acresce que aqui se registra, tambëm, uma branquizaçâo puramente social ou cultural. Ï o caso dos negros que, ascendendo socialmente, com èxito not�rio, passam a integrar grupos de convivència dos brancos, a casar-se entre eles e, afinal, a serem tidos como brancos" (p. 225). Zilž Bernd: "Quanto Ç desigualdade entre as raças, estž modernamente comprovado que, se desigualdade existe, ela ë devida a diversidades culturais e/ou geogržficas climžticas, e nâo a diferenças biol�gicas, que seriam inerentes Çs diferentes etnias" (p.11).

Racismo: doutrina que defende a superioridade de certas raças em relaçâo a outras.

Glossžrio

Artes gráficas: referem-se às concepções e produções artísticas voltadas para a reprodução impressa, como as diversas técnicas de gravura, ilustração, cartum, história em quadrinhos etc.

Art nouveau: estilo decorativo que se propagou na Europa em meados de 1890 e 1910, assumindo diferentes nomes em cada país. Enfatiza o uso de cores chapadas e de linhas orgânicas, e foi empregado principalmente em ilustração
de livros, decoração de interiores e arquitetura.

Artes plásticas: as produções artísticas realizadas nas linguagens bidimensional ou tridimensional que nascem das técnicas tradicionais, como o desenho, a pintura, a escultura etc.

Artes visuais: as artes visuais compreendem aquelas formas artísticas que se manifestam pelas imagens e são percebidas pela visão. Subdividem-se em três áreas: artes plásticas, artes gráficas e meios eletrônicos.

Discriminação racial: é o ato de separar, apartar, segregar pessoas de origens raciais diferentes, utilizando este critério para delimitar e restringir seus direitos e deveres perante a sociedade, informalmente ou por meio da legislação vigente.

Iconográfica: relativo à iconografia, a representação por meio de imagens/ícones. Refere-se ao conhecimento, à descrição e à classificação das imagens. Estuda o tema
ou a mensagem das obras de arte.

Instalação: gênero de obra de arte que explora uma idéia ou um conceito por intermédio da utilização de diversos suportes, meios e linguagens, compondo um ambiente interativo que pode ser percorrido pelo espectador e explorado em vários sentidos.
Meios eletrônicos: em artes visuais, referem-se às técnicas de produção de obras que incluem a manipulação mecânica e/ou eletrônica nos processos de sua criação ou reprodução, como a fotografia, o cinema, o vídeo, a holografia, a computação gráfica, as imagens virtuais.

Performance: gênero artístico que explora teatralmente o corpo como suporte da obra de arte, consistindo numa ação cuidadosamente planejada, que atrai a atenção para o artista
e os materiais que ele utiliza para impressionar o público.

Preconceito: é o conceito ou opinião formado previamente, sem maior conhecimento dos fatos.

Victor Frond: fotógrafo francês, conhecido pelas litografias do álbum "Brazil Pittoresco", baseadas nas fotos que fez no Rio de Janeiro entre 1857 e 1865, documentando a natureza,
a vida nas grandes fazendas e o trabalho escravo.

  Bibliografia

BERND, Zilá. "Racismo e anti-racismo". São Paulo: Moderna, 1994.
GARCIA, Regina Leite. Currículo emancipatório e multiculturalismo: reflexões de viagem. in: SILVA, Tomaz Tadeu da e MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs.). "Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos
e culturais". Petrópolis: Vozes, 1995.
KOSSOI, Boris e CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. "O olhar europeu: o negro na iconografia brasileira do século XIX".
São Paulo: Edusp, 1994.
Pinacoteca do Estado de São Paulo. "Seydou Keita". São Paulo, 1997. (Encarte que acompanha o catálogo.)
RIBEIRO, Darcy. "O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil". São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Secretaria de Educação Fundamental. "Parâmetros curriculares nacionais: arte para o ensino fundamental". Brasília: Ministério da Educação/SEF, 1997.