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Bem vindo ao mundo dos Luo Brothers

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Luo Brothers
Luo Wei Dong
Guangxi, China, 1963
Luo Wei Guo
Guangxi, China, 1964
Luo Wei Bing
Guangxi, China, 1972




"Welcome to the world's most famous brands # 26"
(Bem-vindos às marcas mais famosas do mundo nº26)
1997 - laca e impressão sobre madeira
64,5 x 55,25 cm
Cortesia Art Beatus
Gallery, Vancouver

O quê?

A arte dos irmâos Luo: a atitude antropofžgica de apropriaçâo e fusâo de imagens de propaganda de marcas comerciais famosas, sìmbolo da sociedade de consumo, e de figuras dos p–steres chineses, do perìodo de idealizaçâo do comunismo;
a interaçâo entre as diversas culturas e sociedades como mobilizadora de transformaç§es de padr§es estëticos regionais: globalizaçâo, imperialismo e colonialismo.

Por quê?

Inseridos na obra dos irmâos Luo, encontramos alguns ìcones da sociedade de consumo ocidental, integrados a sìmbolos da sociedade comunista chinesa, que incorporam valores da sociedade de consumo e os divulgados pelos meios de comunicaçâo. A forma crìtica como os irmâos se referem a sua pr�pria cultura pode inspirar uma reflexâo a respeito dos efeitos da globalizaçâo na sociedade e da arte chinesa contemporénea.
A partir dessa discussâo, dentro de uma perspectiva transcultural, podemos perceber melhor o modo como nossa pr�pria cultura dialoga com a globalizaçâo. Para essa reflexâo, remetemos a outros momentos de dižlogo de nossa cultura com o mundo, a colonizaçâo e o imperialismo econ–mico.


Para quê?

Debater a ambigÆidade (fascìnio x repulsa) subjacente Ç contemplaçâo da obra dos irmâos Luo, examinando como os ìcones da sociedade de consumo, de origem ocidental, e os elementos figurativos dos p–steres de propaganda do comunismo chinès sâo integrados em suas obras, conciliando imagens de sistemas polìticos que se consideravam inimigos atë pouco tempo atržs.
Propiciar a discussâo do fen–meno da globalizaçâo, estudando sua influència na produçâo dos artistas contemporéneos.
Observar a influència dos meios de comunicaçâo como fontes de imagens visuais para os artistas ocidentais e orientais, incorporando esses elementos ao processo de criaçâo dos alunos.

 

Como? (Quando? Onde?)
Aguçando o olhar

Peça a seus alunos que observem e tentem descrever por escrito a obra "Welcome to the world's most famous brands n. 26" (Bem-vindos Çs marcas mais famosas do mundo n. 26), dos Luo Brothers1 (irmâos Luo).
Sugira que, alëm de escreverem sobre a imagem e as cores - os aspectos formais da obra -, escrevam tambëm sobre o que entendem e sentem - os aspectos subjacentes Ç obra.
Solicite que leiam para o grupo, em voz alta, o que escreveram e que discutam os diversos pontos de vista e opini§es originados desta atividade. Observe com seus alunos como uma önica imagem pode provocar diferentes reaç§es e leituras.

 

1. Luo Brothers
Segundo Apinan Poshyananda, "o uso de marcas comerciais e logotipos juntamente com p–steres chineses de propaganda polìtica, calendžrios e cart§es comemorativos de Ano-Novo evocam um sentimento de acolhimento sincero, carnaval alegre e divers§es er�ticas. Diferentemente dos pintores chineses, cujos trabalhos sâo conhecidos como Pop polìtico e Realismo cìnico, os irmâos Luo contemplam a cultura jovem como um estilo de vida que aspira ao espìrito da globalizaçâo. Aqui, os jovens chineses urbanos sâo celebrados como 'a geraçâo de sorte'. Eles nâo sofrem por falta de comida nem campanhas repressivas do governo. Pelo contržrio, sâo criados e 'alimentados' com MTV, Ronald McDonald, Sony, Konica e Oreo. (...) A inocència das crianças, juntamente com os vistosos desenhos decorativos pintados em laca, dissimulam a mensagem oculta dos irmâos Luo. Felizmente as crianças escaparam da doutrina comunista repressiva mas, como o resto do mundo, transformam-se em presas da faminta mìdia global e das campanhas publicitžrias que avidamente engolem a vulnerabilidade e a ingenuidade adolescentes. Ao mesmo tempo, os jovens anseiam por consumir as idëias-padrâo de beleza ideal que estâo na moda".

 
Lendo imagens

Pergunte a seus alunos quais marcas ou objetos sâo familiares a eles e quais sâo estranhos.
Peça que identifiquem, na obra, as imagens culturalmente pr�ximas e culturalmente distantes (por exemplo, a marca da Coca-Cola em oposiçâo aos ideogramas chineses).
A percepçâo da familiaridade e do estranhamento revela o processo de construçâo da identidade2.
 

2. Identidade
Renato Ortiz questiona "... qual o significado da noçâo de cultura brasileira? Qual o sentido de uma identidade ou de uma mem�ria que se querem nacionais? (...) A problemžtica da cultura brasileira tem sido, e permanece atë hoje, uma questâo polìtica. (...) Tive de enfrentar um problema que se tornou clžssico na discussâo da cultura brasileira: o de sua autenticidade. (...) Ï o momento de reconhecermos que toda identidade ë uma construçâo simb�lica (a meu ver necessžria), o que elimina portanto as dövidas sobre a veracidade ou a falsidade do que ë produzido. Dito de outra forma, nâo existe uma identidade autèntica, mas uma pluralidade de identidades, construìdas por diferentes grupos sociais em diferentes momentos hist�ricos. (...) Na verdade, a luta pela definiçâo do que seria uma identidade autèntica ë uma forma de se delimitar as fronteiras de uma polìtica que procura se impor como legìtima. (...) Existe uma hist�ria da identidade e da cultura brasileira que corresponde aos interesses dos diferentes grupos sociais em sua relaçâo com o Estado. (...) A identidade nacional estž profundamente ligada a uma reinterpretaçâo do popular pelos grupos sociais e Ç pr�pria construçâo do Estado brasileiro".

Estado: organizaçâo polìtico-administrativa de territ�rio internacionalmente reconhecida. Pode ou nâo corresponder a uma naçâo, um povo com laços hist�ricos, culturais, econ–micos e lingÆìsticos.
 
Descobrindo significados

Como ë o châo onde o primeiro bebè pisa?
O que une os quatro bebès?
Por que sâo tâo robustos?
Por que parecem flutuar?
Por que todos estâo sorrindo?
Por que esse mundo parece tâo feliz?
Chame a atençâo para a mžquina fotogržfica em destaque na obra dos Luo Brothers. Por que ela estž ali? A cémera e o filme fotogržfico reproduzem as funç§es do olho humano, alëm de serem bens de consumo quase tâo difundidos quanto a televisâo. Lembrando isso, pergunte que sentido pode ter uma mžquina fotogržfica colocada no topo de uma pirémide de bebès chineses que carregam uma lata de Coca-Cola?
Certamente todos encontrarâo muitas respostas; nâo se trata de uma questâo de acerto ou erro3. Isso ë muito importante: a experiència de leitura da obra de arte ë aberta a diferentes interpretaç§es e sugere muitos significados.

Localizando a obra no tempo e no espaço

Procure debater com seus alunos se ë possìvel identificar na obra "Bem-vindo Çs marcas mais famosas do mundo n. 26" elementos que indiquem ter sido criada por artistas do final do sëculo XX.
Algum aspecto da obra permite concluir que os artistas que a criaram sâo orientais?
Luo Wei Guo, Luo Wei Bing e Luo Wei Dong sâo irmâos que trabalham juntos na criaçâo de suas obras, atitude muito diferente do individualismo assumido pela maioria dos artistas ocidentais contemporéneos. Discutir com os alunos a relaçâo entre essas posturas e as filosofias de vida distintas que caracterizam as tradiç§es do Ocidente e do Oriente, um acentuando a individualizaçâo e outro dando maior ènfase Ç coletividade.
Introduzindo informaç§es sobre a Hist�ria recente da China, pergunte aos alunos que tipo de comentžrio Çs influèncias da globalizaçâo4 em seu contexto os Luo Brothers estâo fazendo com estas imagens.
 

3. Erro
Segundo Paulo Freire, "tanto por palavras como por atos, o educador deve fazer o aluno compreender que o erro nâo ë uma falta grave, uma prova de incompetència, mas, ao contržrio, um momento legìtimo de sua aprendizagem. (...) Quando se dž esse sentido Ç noçâo de erro, a relaçâo pedag�gica sofre profunda modificaçâo. Alëm de se facilitar a noçâo de aprendizagem entre as crianças, estimula-se o professor a ser mais modesto e permite-se que ele se despoje em parte do peso da autoridade. (...) Longe de ser estžtica, a curiosidade ë um movimento simb�lico incessante. O espìrito curioso nâo consegue aproximar-se de seu objeto, apoderar-se dele e assimilž-lo sem vacilaç§es ou enganos. Na pržtica pedag�gica, o erro, como conseqÆència l�gica da curiosidade, nâo deveria ser punido. (...) Uma vez liberado desse 'complexo do erro', desse sentimento de culpa, ë preciso que o saber (...) Queremos uma pedagogia que, sem renunciar Ç exigència do rigor, admita a espontaneidade, o sentimento, a emoçâo, e aceite, como ponto de partida, o que eu chamaria de 'o aqui e o agora' perceptivo, hist�rico e social dos alunos".

 

4. Globalização
De acordo com Apinan Poshyananda, "na China, os valores tradicionais e sentimentos antiamericanos estâo sendo engolfados pela marë crescente da 'americanofilia'. Uma ambigÆidade bizarra faz com que os Estados Unidos tenham a imagem de uma naçâo maligna, ao mesmo tempo em que boa parte dos chineses contempla o paìs com fascinaçâo. Pelos meios de comunicaçâo globais e via satëlite, a China vem sofrendo do mesmo dilema que o Paquistâo, pois a mercantilizaçâo e o consumo de massa sâo altamente antropofžgicos. Shangai e Beijing encontram-se sitiados na medida em que o desejo local por moda, fast food, cosmëticos, mösica e arranha-cëus norte-americanos solapa as tradiç§es e o status quo. O apetite avassalador por Big Macs, Michael Jordan, Madonna, Marlboro, Nike e Coca-Cola vem produzindo uma mistura de velho e novo, local e global, chinès e imagens estrangeiras hìbridas". O crescimento e a difusâo dos sistemas de comunicaçâo permitem que sociedades antes distantes e isoladas participem do que chamamos de globalizaçâo: seu acesso Ç informaçâo ë ampliado a cada dia. As produç§es de caržter regional nas artes plžsticas, assim como em outras atividades culturais, sofrem influèncias de toda ordem e se transformam num ritmo inimaginžvel hž poucos anos.

 

Conhecendo outros artistas

Observe, com seus alunos, outros trabalhos criados por artistas que se utilizam de imagens encontradas na propaganda veiculada em cartazes, revistas, outdoors e p–steres. Alëm do espaço da Bienal, vocè pode tambëm mostrar algumas reproduç§es em livros ou catžlogos na sala de aula. Alguns exemplos podem ser encontrados na obra dos artistas americanos Andy Warhol e Jasper Johns e dos brasileiros Cildo Meireles e Jac Leirner. A fotografia monocromžtica no verso da imagem de apoio do Material sobre o fot�grafo Mark Adams tambëm apresenta o logotipo da Coca-Cola e pode ser utilizada como uma ponte para as discuss§es propostas no percurso educativo que a ele se refere.
Investigue um pouco mais a obra destes artistas. Procure descobrir como utilizaram-se da lata de Coca-Cola ou de seu logotipo em suas pinturas, esculturas ou gravuras. Observando algumas reproduç§es de suas obras em catžlogos, que podem ser encontrados em bibliotecas de museus e centros culturais, vocè observarž que a Coca-Cola ë um sìmbolo muito poderoso, sempre associado Ç cultura norte-americana e, conseqÆentemente, ao imperialismo. Portanto, esses trabalhos tèm, em geral, uma conotaçâo polìtica muito forte.
Pergunte a seus alunos o que representa a imagem da Coca-Cola para eles, alargando a discussâo, a partir de suas respostas, para abranger outros sìmbolos da sociedade de consumo que considerem representativos.
Sugira que façam um trabalho de criaçâo misturando desenho e colagem, a partir de recortes de sìmbolos, logotipos e propagandas de diferentes marcas encontrados em revistas, cartazes e jornais.

Entendendo a globalizaçâo

Converse com os estudantes sobre o poder dos meios de comunicaçâo, tais como a televisâo, a Internet e os satëlites que veiculam informaç§es, com muita rapidez, de um ponto a outro do globo. Comunicaç§es que a poucas dëcadas tomariam horas ou mesmo dias para serem realizadas, agora requerem apenas alguns minutos.
Oriente uma discussâo a respeito da influència da globalizaçâo sobre a vida e o comportamento das pessoas de diferentes culturas. Situe esses processos, se possìvel com o auxìlio do professor de Hist�ria, na continuidade dos processos de colonizaçâo5 e do imperialismo6 econ–mico.
O crescente contato entre as diferentes tradiç§es culturais tende a igualž-las ou pode ser um estìmulo para sua preservaçâo e para o surgimento de novas manifestaç§es? Procure exemplos dessas possibilidades nos jornais para propiciar a discussâo.
O que acontece com as sociedades que tèm um acesso restrito Ç informaçâo, como alguns povos do chamado Terceiro Mundo? Serž que suas tradiç§es permanecerâo inalteradas? Isso ë bom ou ruim para essas comunidades? Os diversos Materiais de Apoio fornecem vžrios exemplos para esse debate, como os indìgenas ianomémis fotografados por Clžudia Andujar: seu isolamento da sociedade brasileira garantiria sua sobrevivència?

 

5. Colonização
Segundo Fernando Novaes, "n�s nâo preexistimos Ç colonizaçâo. Somos o produto da colonizaçâo. Somos a colonizaçâo. Quem foi colonizado foram os ìndios, foram os negros. (...) Essa coisa ë fundamental nos paìses que emergem do antigo sistema colonial, ao contržrio do que ocorre na Ãfrica atual, onde o colonizador e o colonizado se distinguem radicalmente. (...) Sâo diferenças de raça, de religiâo, de lìngua. (...) Na Amërica, as naç§es nascem, as naç§es sâo criadas, nâo pelos colonizados, que eram os ìndios e os africanos, e sim pelos colonos. Quer dizer: entre o colonizador e o colonizado, vai se formando uma camada, primeiro fluida, depois mais consistente, mas sempre um tanto indefinida, de colonos. (...) O processo de criaçâo das naç§es ë um processo de tomada de consciència do colono. (...) Quando, no sëculo XIX, se promove a independència, (...) se coloca (...) o problema, a dificuldade de identidade nacional, na medida em que (...) esses povos nâo podem se identificar com o colonizador. (...) Entâo, nâo somos nem portugueses porque estamos nos rebelando contra eles, nâo somos ìndios nem negros porque os escravizamos, os matamos e os exploramos. Somos o que? Somos Macunaìma: her�is sem nenhum caržter, isto ë, incaracterizžveis".

Macunaíma: nononon nonn nono non n on nononoon nono nonon nononoon non n oon noononoo nonoo no nooon n noonono
 

6. Imperialismo
O escritor e professor samoano Albert Wendt comenta os resquìcios do imperialismo no sistema educacional: "fundamentalmente, todas as sociedades sâo multiculturais, e isso ë mais verdadeiro no caso da Oceania do que no de qualquer outra regiâo do planeta. (...) Os sistemas de educaçâo formal (briténico, neozelandès, australiano, americano ou francès) introduzidos pelos colonizadores em nossas ilhas tinham todos um traço comum: baseavam-se no pressuposto racista err–neo e arrogante de que as culturas dos colonizadores eram superiores (e preferìveis) Çs nossas. (...) A educaçâo visava portanto 'civilizar-nos', separar-nos das raìzes de nossas culturas, livrar-nos daquilo que os colonizadores consideravam obscurantismo, superstiçâo, barbarismo e selvageria. (...) Nâo ë preciso dizer que a educaçâo ë o amžlgama vital de toda edificaçâo nacional. (...) A expressâo pr�pria ë condiçâo sine qua non do auto-respeito. Com essa diversidade, temos dado e continuaremos a dar nossa contribuiçâo valiosa Ç espëcie humana. Por isso ela precisa ser conservada e estimulada. Por cima das barreiras polìticas que dividem nossos paìses, começam a surgir entre n�s os liames estabelecidos por uma intensa atividade artìstica".

Oceania: continente formado pela Austržlia, Nova Zeléndia, dezenas de arquipëlagos e centenas de ilhas. As diversas comunidades nativas passaram sucessivamente pela influència da colonizaçâo portuguesa, holandesa, inglesa, francesa, alemâ e americana.
 

Entendendo a antropofagia na XXIV Bienal

Introduza a idëia de antropofagia7, tema central desta mostra, referindo-se Ç obra dos Irmâos Luo. Peça que seus alunos citem exemplos deste processo - de absorçâo e mistura de outras culturas - na formaçâo de uma identidade. Cite, por exemplo, os ìndios brasileiros do alto Xingu que, em sua luta para adquirir alguns direitos como cidadâos, perdem contato com suas tradiç§es mais preciosas. Sugira que façam uma comparaçâo entre os ìndios na ëpoca do Descobrimento e os de agora.
Peça que citem exemplos de nossa cultura atual, em que elementos estranhos ou estrangeiros somam-se Ç elementos familiares ou nacionais na mösica, na dança e nas artes plžsticas. Dessa forma, estarž dado o primeiro passo para a compreensâo do significado de antropofagia nas artes8.

 

7. Antropofagia
Poshyananda, curador de Roteiros Ãsia, comenta que "Luo Wei Dong, que nasceu numa famìlia da minoria Yao na provìncia de Gangxi, vem colaborando com seus irmâos Luo Wei Guo e Luo Wei Bing no trabalho de pintura em laca. Embora Dong seja fascinado pela natureza antropofžgica da sociedade de consumo de Beijing, ele se recorda de hist�rias contadas por seu pai sobre canibalismo em Guangxi. Em 1967, em Donglan, o pai dos irmâos Luo foi testemunha ocular de uma matança envolvendo membros dissidentes do Partido, cuja carne foi ensopada e servida em banquetes. Embora esses atos nâo apareçam diretamente nas pinturas dos irmâos Luo, a metžfora da antropofagia ë evidente". Esse epis�dio de canibalismo na China, ocorrido durante o perìodo da revoluçâo cultural, tambëm assume um aspecto metaf�rico. A proposta de renovaçâo da sociedade comunista assumiu um caržter devorador, destruidor da mem�ria e do patrim–nio cultural de milhares de anos. Essa destruiçâo se estendeu, alëm da destruiçâo dos objetos e das instituiç§es, Çs pr�prias pessoas, representantes e portadores dessa mem�ria cultural.

Revolução Cultural: perìodo da Hist�ria da China, de 1966 a 1969, em que, sob influència do pensamento de Mao Tsë-Tung, a juventude comunista se organizou em grupos em todo o paìs para garantir a correçâo das atitudes de toda a populaçâo chinesa em relaçâo aos ideais maoìstas. Filhos denunciavam pais, alunos acusavam professores, livros e monumentos que lembravam as tradiç§es do paìs foram destruìdos.
 

8. Antropofagia na artes
Segundo o curador geral da XXIV Bienal, Paulo Herkenhoff, "a Antropofagia ë o momento hist�rico de grande densidade do Modernismo brasileiro. Oswald de Andrade, em seu 'Manifesto antrop�fago', descreveu-a como sendo lei önica e força consolidadora. Denunciou catequeses, inquisiç§es e missionžrios e estimulou a resistència dos nativos contra as invas§es estrangeiras. Nesta Bienal, a idëia de antropofagia permeia todos os segmentos. O projeto curatorial procura mostrar como esse conceito reflete-se nas artes plžsticas, por meio do processo de absorçâo e mistura de outras culturas, na formaçâo da identidade brasileira". Ana Maria Belluzzo diz que "a poëtica antropofžgica expressa criticamente a perspectiva da sociedade brasileira, tirando proveito da aproximaçâo de diferenças antropol�gicas e polìticas. Tem na ironia seu procedimento simb�lico por excelència, subentendida a necessidade de nos alimentarmos de outras culturas para nossa transformaçâo cultural. Implica tambëm no procedimento bžsico de existència de outro discurso a ser deglutido, possibilitando vantagens de invers§es par�dicas".

Modernismo: no Brasil, o Modernismo se segue Ç Semana Modernista de 1922. Segundo Mžrio de Andrade, o Modernismo somava très princìpios: "O direito permanente Ç pesquisa estëtica, a atualizaçâo da inteligència artìstica brasileira e a estabilizaçâo de uma consciència criadora nacional".
"Manifesto Antropófago": redigido por Oswald de Andrade, o "Manifesto antrop�fago" foi publicado em 1924. Em 1928 foi republicado no primeiro nömero da "Revista Antropofagia". Começa dizendo: "S� a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente". Desafiava o conformismo e a sabedoria convencional, introduzidas pelos colonizadores europeus, e que paralisavam a liberdade de pensamento e imaginaçâo. Tarsila do Amaral dizia: "Íamos Ç cata do Brasil".o acentuado pelo Expressionismo abstrato.
 

Sugest§es de continuidade

Busque informaç§es sobre a Pop Art americana e seus artistas de maior destaque. Esse movimento, importante na Hist�ria da Arte do sëculo XX, influenciou toda uma geraçâo de artistas no mundo inteiro. Faça comparaç§es entre a arte pop americana e a arte de outras partes do mundo, com caracterìsticas semelhantes. A proposta desses artistas, de absorver em seus processos de criaçâo imagens oriundas das mais diversas mìdias e discutir a sociedade de consumo contemporénea, teve uma grande repercussâo entre os artistas brasileiros da ëpoca, que deram uma conotaçâo mais polìtica a suas obras, influenciados pelo contexto brasileiro do perìodo. o
Procure conhecer trabalhos de outros artistas do sëculo XX que absorveram como estìmulos em seus processos de criaçâo elementos dos grafites urbanos, das hist�rias em quadrinhos, da propaganda veiculada em jornais e revistas e de outras formas de linguagem caracterìsticas do sëculo XX. Investigue que movimentos artìsticos foram influenciados por essa cultura dita popular. o Conheça um pouco da Hist�ria da China no passado e hoje. Procure saber como viviam os chineses atë o final dos anos 80 e como vivem hoje. Que modelos polìticos e econ–micos existiram na China? Qual ë o sistema polìtico de hoje? Como essas mudanças afetaram as atitudes desse povo com relaçâo Ç arte e Ç cultura9?

 

9.Cultura
Darcy Ribeiro define a cultura como "a herança social de uma comunidade humana, representada pelo acervo co-participado de modos padronizados de adaptaçâo Ç natureza para o provimento da subsistència, de normas e instituiç§es reguladoras das relaç§es sociais e de corpos de saber, de valores e de crenças com que seus membros explicam sua experiència, exprimem sua criatividade artìstica e a motivam para a açâo. Assim concebida, a cultura ë uma ordem particular de fen–menos que tem de caracterìstico sua natureza de rëplica conceitual da realidade, transmissìvel simbolicamente de geraçâo a geraçâo, na forma de uma tradiçâo que provè modos de existència, formas de organizaçâo e meios de expressâo a uma comunidade humana. Mediante a integraçâo nesses corpos de tradiçâo ë que os homens se humanizam, ao mesmo tempo em que se incorporam a uma determinada entidade ëtnica, ao aprender sua lìngua, ao se habilitar a fazer coisas de acordo com as tëcnicas que ela domina, ao se comportar segundo as normas nelas consagradas e, finalmente, ao viver de acordo com seus usos e costumes".


Glossžrio

Andy Warhol: artista norte-americano que se destacou nos anos 60, com sua obra baseada em ícones da sociedade de consumo, como caixas de sabão em pó, e da indústria cinematográfica de Hollywood, como Marilyn Monroe. Um dos mais destacados artistas da Pop Art, elevou a serigrafia à categoria de arte maior.

Cildo Meireles: artista carioca nascido em 1948, participa da XXIV Bienal de São Paulo com a obra "Desvio para o vermelho". Cildo é um dos mais destacados artistas brasileiros no Brasil e no exterior. Com seu "conceitualismo politizado", transforma especulações estéticas e visuais em metáforas sociais a respeito do Brasil. Mais informações no Material de Apoio "Antropofagias da cor".

Jasper Johns: artista norte-americano nascido em 1930, desenvolveu uma obra em torno de símbolos impessoais, do dia-a-dia, como alvos, bandeiras, números e alfabetos. Seus trabalhos mais antigos serviram como ponto de partida para a Pop Art nos Estados Unidos.

Jac Leirner: artista paulista nascida em 1958. Das mais destacadas de sua geração, Jac realiza uma obra conceitual em torno de elementos da sociedade de consumo, tais como sacolas, cartões de visita e cédulas.

Pop Art: nascida na Inglaterra, desenvolveu-se nos Estados Unidos nos anos 60 como expressão estética da sociedade de consumo e da cultura de massa. Utiliza-se de imagens comuns recolhidas do meio urbano tais como: quadrinhos, grafites, pôsteres e cartazes, entre outros.

  Bibliografia

AMARAL, Aracy. "Artes plásticas na Semana de 22". São Paulo: Perspectiva, 1992.
BELLUZZO, Ana Maria. Trans-posições. In: "Catálogo da XXIV Bienal de São Paulo". São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998.
FREIRE, Paulo. Leitura da palavra... leitura do mundo. In: "O Correio da Unesco", fevereiro de 1991.
HERKENHOFF, Paulo. Me coma. In: "Catálogo da XXIV Bienal de São Paulo". São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1998.
MORAIS, Frederico. "Panorama das artes plásticas: séculos XIX e XX". São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1991.
NOVAES, Fernando. Linguagem e transformação cultural. In: JUNQUEIRA FILHO, Luiz Carlos Uchoa (Org.). "Perturbador mundo novo". São Paulo: Escuta, 1994.
ORTIZ, Renato. "Cultura brasileira e identidade nacional". São Paulo: Brasiliense, 1985.
RIBEIRO, Darcy. "Os brasileiros: 1. Teoria do Brasil". Petrópolis: Vozes, 1978.
WENDT, Albert. Os rebeldes do pacífico. In: "O correio da Unesco", abril de 1976.