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A construção da imagem da imagem:
Claudia Andujar

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Claudia Andujar
Neuchâtel, Suiça, 1931




"sem título"
uma das vinte imagens da série Yanomami, que compõe a instalação da artista na XXIV Bienal 1982/1990 - intervenção sobre foto preto e branco coleção da artista

O quê?

A alteridade;
a questão indígena;
os ianomâmis
a manipulação da imagem fotográfica.

Por quê?

Este percurso educativo visa trabalhar o olhar cuidadoso, o olhar apreciativo, o olhar crìtico e o olhar criador, pois as pessoas nâo estâo, em sua maioria, habituadas a realmente olhar: costumam olhar sem ver. E, mais grave ainda, nâo tèm confiança no que vèem, principalmente quando se trata de imagens artìsticas - conhecimento especìfico ao qual as pessoas precisam ser introduzidas e por meio do qual podem ser desafiadas a pensar.
"Alëm disso, a educaçâo da apreciaçâo ë fundamental para o desenvolvimento cultural de um paìs. Esse desenvolvimento s� ocorre quando uma produçâo artìstica de alta qualidade ë associada a um alto grau de entendimento dessa produçâo pelo pöblico" (BARBOSA, 1998, p. 18).


Para quê?

Para permitir ao aluno:
começar a conhecer o trabalho de Claudia Andujar;
o contato com a questão indígena no Brasil;
conscientizar-se da existência do outro;
vivenciar a leitura de imagens fotográficas;
investigar as possibilidades de intervenção sobre a imagem fotográfica, incorporando-a a seu percurso criador.

 

Como? (Quando? Onde?)
Olhando atentamente

Este percurso educativo foi elaborado para que o professor propicie a seus alunos, a partir da construçâo do olhar atento, o desenvolvimento do conhecer, refletir, imaginar, sonhar e criar, tendo como ponto de partida esta foto da sërie "Yanomami", de Claudia Andujar1, ou sua reproduçâo.
O ato de aprender a partir das obras de arte ë desenvolvido relacionando o olhar a princìpios estëticos, ëticos e hist�ricos, conjugando quatro processos bžsicos: prestar atençâo ao que estamos vendo (descrever), observar o comportamento do que estamos vendo (analisar), atribuir significado ao que estamos vendo (interpretar) e responder pržtica e poeticamente ao que estamos vendo (criar).
Sendo assim, peça a seus alunos para, diante da imagem de Claudia Andujar, se colocarem as seguintes quest§es:
O que estou vendo?
Quem fez esta imagem?
Qual o meio utilizado para criar esta imagem?
Sou capaz de compreender esta imagem e os significados que ela traz consigo?
Será que percebo os significados que acrescento à ela?
Qual a importância de conhecer esta imagem?

 

1. Claudia Andujar
"... Convivendo com os ianomémis, porque com eles comprometeu sua vida desde os anos 70, Claudia Andujar constituiu um acervo de milhares de imagens, nas quais se fixaram a descoberta de um povo e, com ela, a possibilidade de redescobrimento do mundo (...). As fotos de 'Yanomami' nâo mostram os ìndios e seu hžbitat, sua cultura e seus rituais. Claudia Andujar nâo documenta, mas tampouco faz fotografia 'de arte'. Recusando-se a tomar os ianomémis como objeto antropol�gico, jornalìstico ou artìstico, recusando a pr�pria relaçâo sujeito-objeto, a fot�grafa foi ao encontro do outro. E, se suas fotos sâo de uma precisâo rara e de uma beleza önica, isso se deve Ç pr�pria natureza do encontro e do registro do acontecimento (...). Se nâo hž documento nem 'arte', de que se trata entâo? 'Minha relaçâo com os ianomémis, fio condutor de minha trajet�ria de fot�grafa e de vida, ë essencialmente afetiva', diz Claudia Andujar. A observaçâo merece destaque, pois fornece a chave para a percepçâo das imagens como experiència pura. Com efeito, se o espectador percorrè-las atento Çs afecç§es que elas contèm e provocam, serž absorvido pelos movimentos que conduzem sucessivamente a artista Ç casa, Ç floresta e ao invisìvel" (SANTOS, 1998, 5.9).

Claudia Andujar : (Neuchétel, Suìça, 1931): radicada no Brasil desde 1957. Os principais temas abordados em seu trabalho fotogržfico sâo ensaios fotojornalìsticos sobre a vida do povo brasileiro em seu cotidiano e os povos indìgenas da Amaz–nia, com destaque para o povo ianomémi (AM e RR).
 
Conversando sobre o outro

O artista dž forma a idëias, valores e sentimentos. Ele cria atravës de "quem ele ë", e n�s respondemos atravës de "quem somos", num processo de interpretaçâo.
Claudia Andujar declara: "Ï atravës da imagem do Outro que cheguei a me conhecer e cheguei a entender o amor que nutro pela vida; a angöstia de poder penetrar e captar o ser em seu ìntimo; uma imagem que acaba de se refletir em mim".
A partir dessas colocaç§es, o professor pode introduzir as seguintes reflex§es:
Para cada um de nós quem são os outros?
O que é ser o outro?
Nós podemos existir sem o outro?
Como nós lidamos com o outro em nosso cotidiano?
O que pensamos a respeito dos índios2?
O que conhecemos sobre os índios?
 

2. Índios
"A categoria ìndio s� se define por oposiçâo aos brancos (...) abrange populaç§es muito diferentes entre si, seja do ponto de vista fìsico, seja do ponto de vista lingÆìstico, seja do ponto de vista dos costumes. Para tornar inteligìvel tal diversidade, os estudiosos tèm tentado ordenž-la atravës de classificaç§es, que tèm sido realizadas sob diferentes critërios de (...) diversidade biol�gica, (...) diversidade lingÆìstica e (...) diversidade de costumes" (MELATTI, 1983, 31). "A etnologia, em seus estudos sobre o ìndio brasileiro, nâo se vale apenas das classificaç§es lingÆìsticas, mas tambëm de classificaç§es de cunho mais nitidamente etnol�gico, como sâo as divis§es em žreas culturais. Uma žrea cultural ë uma regiâo que apresenta uma certa homogeneidade quanto Ç presença de certos costumes e de certos artefatos que a caracterizam" (MELATTI, 1983, 41).

Etnologia: ramo da antropologia, que estuda as diferentes etnias.
 
A imagem do índio

Ap�s as discuss§es e investigaç§es, sempre tendo como referència a obra de Claudia Andujar, o professor pode sugerir que os alunos façam uma pesquisa sobre como os ìndios foram representados ao longo da Hist�ria pelos artistas brasileiros e estrangeiros nas artes visuais, na mösica, na literatura, no teatro, no cinema, na televisâo, nas hist�rias em quadrinhos etc. O material reunido pode ser montado na forma de um painel que exponha as conclus§es da classe, fornecendo referèncias para sua avaliaçâo. Ï importante apontar a relaçâo entre arte e atuaçâo polìtica na obra desta artista, mostrando a atualidade da demarcaçâo das terras indìgenas, por meio da discussâo da frase "muita terra para pouco ìndio?3", encontrada entre as inömeras opini§es sobre o assunto nos jornais.
Com a crescente organizaçâo das comunidades indìgenas brasileiras em sua interaçâo com o paìs, podemos encontrar em bibliotecas atualizadas uma quantidade significativa de livros produzidos a partir de depoimentos de ìndios, ou criados por eles mesmos, em que escrevem e desenham como se percebem e em que "o outro" somos "n�s". Esse tipo de informaçâo pode criar um contraponto interessante com os resultados da pesquisa anterior.
 

3. Muita terra para pouco índio?
"Os ianomémis sâo um povo n–made que utiliza diariamente uma žrea de trinta quil–metros de diémetro para caçar, pescar, colher frutos e matërias-primas para o artesanato. Por isso, a reduçâo do territ�rio em dezenove žreas estanques e a objeçâo das autoridades, segundo as quais 'exige-se demasiada terra para poucos ìndios', representam na realidade grave ameaça Ç sobrevivència fìsica e cultural deste povo. O caso ë que a estratëgia de todos os governos brasileiros sempre foi a de 'domesticar' os ìndios isolados para impor-lhes os espaços, os tempos e os modos de vida menos onerosos para a naçâo. (...) O conceito ianomémi de floresta contëm, entre outras coisas, a idëia de lugar a que se pertence (urihi, na lìngua ianomémi), e isto deixa transparecer o conforto e a proteçâo de um ambiente familiar. (...) A floresta fornece a colheita e a caça. Esta ë reservada aos homens, individualmente ou em grupo, Çs vezes programada para fins de armazenamento ou em vista de rituais. A caça individual ë praticada durante o ano inteiro; a coletiva, na estaçâo da seca, envolvendo os membros de uma s� aldeia, eventualmente tambëm os h�spedes, durante visitas prolongadas. Cada grupo necessita de, pelo menos, um raio de dezesseis quil–metros para poder prover a carne necessžria. (...) Os ianomémis cultivam mandioca, macaxeira, pupunha, cana, batata-doce, carž, taioba, pimenta, papaia, abacaxi, tabaco, urucu e vžrios tipos de banana que, junto com a mandioca, formam sua alimentaçâo bžsica. Cultivam tambëm algodâo, carauž, bambu e outros vegetais dos quais utilizam folhas, sementes e fibras para o artesanato, para adornar o corpo e nos rituais mžgico-sacrais" (EUSEBI, 1990, 80-89).

 
Nômade: Indivìduo ou povo errante, que se desloca sem fixar morada em busca dos suprimentos e condiç§es necessžrias Ç sua sobrevivència.
 

Os ianomâmis

Os ianomémis habitam o territ�rio que abrange žreas dos estados de Roraima e do Amazonas e da Venezuela. Em 1988, sua populaçâo estimada era de 9.975 indivìduos no Brasil e 15.193 indivìduos na Venezuela. Cada cultura indìgena nos apresenta a atualizaçâo de uma tradiçâo ancestral, compartilhada pelos demais membros de sua famìlia lingÆìstica.
Cada cultura indìgena apresenta tambëm uma versâo pr�pria das idëias e dos costumes conhecidos por meio do contato com outras populaç§es (TASSINARI, 1995, 472).
Oriente seus alunos a fazer uma pesquisa a respeito dos ianomémis4, comparando-os no modo de vestir, na alimentaçâo, na arquitetura, na celebraçâo, nas brincadeiras, nos utensìlios, nos rituais e nas crenças com outros grupos de outras etnias que jž tenham estudado. Outra sugestâo ë comparar esses hžbitos com os dos diversos grupos presentes na comunidade em que seus alunos vivem, aumentando seu conhecimento e sua compreensâo das diferenças e semelhanças culturais (por exemplo, quais os rituais religiosos5 ligados Ç morte praticados pelos familiares dos estudantes).
Essa comparaçâo pode ser feita na forma de uma pesquisa que inclua textos, imagens e reproduç§es de fotos, produzidas ou coletadas pelos alunos. O material reunido pode ser montado em um painel que exponha as conclus§es do grupo, fornecendo referèncias para sua avaliaçâo. Na discussâo com a classe, procure criar condiç§es para que os alunos percebam que hž diferentes modos de viver, que esses modos se modificam com o tempo e que a preservaçâo deles estž intimamente ligada Ç pr�pria sobrevivència6 dos grupos que os praticam.
Chame a atençâo dos alunos para a forma como a fot�grafa organizou as vinte imagens que selecionou para sua instalaçâo no espaço desta XXIV Bienal. Dessa forma, eles terâo uma referència, para seguir ou se contrapor, sobre as possibilidades de articular um conjunto de imagens de modo significativo.

 

4. Ianomâmis "Os ianomémis constituem o maior grupo indìgena ainda em parte isolado da sociedade 'civilizada', incluindo comunidades dispersas que nunca mantiveram contato com os brancos. Ï um dos öItimos povos geneticamente 'puros'. Geralmente, cada aldeia ë composta de uma grande maloca (shabono, na lìngua ianomémi), onde vivem vžrias famìlias, unidas por vìnculo de parentesco. O nömero de habitantes de cada aldeia pode variar entre trinta e 150 indivìduos. A maloca tem um diémetro de aproximadamente vinte metros por dez de altura. As aldeias vizinhas formam grupos locais, que mantèm entre si relaç§es sociais e rituais freqÆentes, com constantes contatos, troca de bens e alianças matrimoniais." "Ao redor da aldeia, os ìndios utilizam uma žrea para o cultivo da terra. Essa zona nâo ë somente um espaço de subsistència, ë tambëm resultado da produçâo coletiva, uma fonte de integraçâo social que vai do trabalho de muitas mâos aos encontros amorosos, legìtimos ou fortuitos. Cada famìlia possui seu pr�prio lote. Os homens desmatam uma pequena žrea de floresta que ë queimada durante o perìodo da seca. Em seguida, limpam e cultivam o terreno. Âs mulheres compete colher os produtos, transportando-os em grandes cestos que chegam a pesar, cheios, atë mais de sessenta quilos" (EUSEBI, 1990, 80-89).

Maloca: habitação indígena que aloja várias famílias.
 

5. Rituais religiosos
"A morte ë um elemento fundamental da cultura e da tradiçâo ianomémi. Os ìndios nâo podem falar de seus mortos. O corpo do membro da comunidade morto ë posto em posiçâo fetal, envolvido em sua pr�pria rede e conservado numa caixa de madeira suspensa entre duas žrvores, na floresta. Todos choram. Os parentes mais pr�ximos cortam os cabelos do defunto, enquanto as mulheres pintam-lhe o rosto com uma tinta vegetal preta. Os pertences do defunto sâo destruìdos, assim como os pequenos refögios que ele utilizava para pernoitar durante as caçadas e suas plantaç§es cultivadas em vida. Quando o corpo entra em decomposiçâo, os ossos sâo triturados num pilâo de madeira construìdo especialmente para o ritual. Os restos sâo em seguida recolhidos numa cesta que ë queimada no centro da maloca e as cinzas sâo guardadas pelos parentes numa moranga. Sâo ainda organizadas algumas cerim–nias (rehao), durante as quais uma parte das cinzas ë sepultada no local onde a famìlia do defunto prepara a fogueira e uma parte ë dissolvida no tradicional pirâo de banana e consumida por todos os parentes, para absorver os dons e a força do morto e para permitir a seu espìrito continuar vivendo sobre a terra" (EUSEBI, 1990, 80-89).

Cultura: conjunto dos valores espirituais e materiais caracterìsticos de uma sociedade.
Joseph Beuys : (Krefeld, Alemanha, 1921 - DÆsseldorf, Alemanha, 1986): artista e professor alemâo. Em 1943, sobreviveu Ç queda de seu aviâo nas estepes russas graças aos cuidados do povo local, que o aqueceu com gordura animal, o mesmo material que usarž em vžrias de suas esculturas por sua forte conexâo humana.
 

6. Sobrevivência
"Para entender a natureza da obra de Claudia Andujar dentro da arte contemporénea vale a pena evocar a de Joseph Beuys. Piloto da Luftvaffe atë que seu aviâo caiu em 1943 na Crimëia, Beuys, gravemente ferido, foi socorrido pelos tžrtaros e tratado por seus xamâs. O epis�dio foi decisivo em sua vida, em sua opçâo pelo trabalho artìstico e em sua pr�pria concepçâo da arte, que ele fundia com a vida. Como o artista alemâo, Claudia Andujar tambëm encontra os ianomémis na condiçâo de sobreviventes de um desastre. Judia, tivera seu pai e toda a famìlia paterna exterminados nos campos de concentraçâo. Mais do que um simples trauma, Auschwitz teve um impacto devastador na sensibilidade e na consciència contemporéneas, que Primo Levi dolorosamente apontou e ainda nâo foi totalmente compreendido por n�s. Era essa herança familiar e hist�rica que Claudia Andujar trazia consigo quando encontrou os ianomémis. E, assim como Beuys teve sua vida salva pelos tžrtaros, tambëm ela foi 'curada' pelos ìndios: com os ianomémis abria-se a possibilidade efetiva de voltar a acreditar na humanidade. Ora, esse bom encontro decisivo estrutura o eixo de seu trabalho e de sua vida e transpira em todas as fotos, bem como em sua incansžvel luta em prol dos ianomémis. Sobrevivente de um genocìdio, a artista compreendeu que os pr�prios ianomémis estavam ameaçados de genocìdio, em meio Ç indiferença geral da sociedade brasileira. Engajou-se entâo na luta em sua defesa, Ç frente da Comissâo pela Criaçâo do Parque Yanomami (CCPY), que teve um papel crucial na demarcaçâo do territ�rio em 1992" (SANTOS, 1998, 5.9).

 

Conversando sobre fotografia

Introduza algumas quest§es para iniciar uma discussâo com seus alunos sobre a natureza da fotografia:
O que é uma fotografia?
Como é feita?
Quando a fotografia foi inventada?
O que é mais realista, uma fotografia ou uma pintura?
Fotografar pode ser uma forma de arte? Po que sim? Por que não?
Qualquer fotografia pode ser considerada uma obra de arte?
Quais os outros usos da fotografia você conhece?
A partir do debate, inicie com os alunos uma pesquisa sobre a hist�ria da fotografia, procurando reunir exemplos de obras de fot�grafos/artistas como referència para os alunos perceberem as possibilidades expressivas da linguagem fotogržfica. As imagens e os textos reunidos tambëm podem ser montados como um painel para expor essa pesquisa para a escola.

Interferências na imagem fotográfica

Claudia Andujar faz c�pias coloridas de suas fotografias, em seguida as refaz em preto-e-branco, retrabalha um novo colorido e entâo fotografa novamente os resultados.
Converse com seus alunos sobre os processos de manipulaçâo de imagens fotogržficas7, diferenciando as formas tradicionais de criaçâo de uma fotografia das imagens que podem ser obtidas alterando-se as fotografias por meio do desenho, da pintura, da colagem, da computaçâo gržfica etc. (assista e comente com os alunos como foi realizado o filme "Forrest Gump", em que os recursos da computaçâo gržfica permitem que o ator Tom Hanks contracene com personalidades que nunca encontrou realmente, como John Lennon. O filme pode ser um meio de se iniciar uma conversa sobre o quanto esses procedimentos de manipulaçâo de imagens jž estâo presentes em nosso dia-a-dia).
Proponha aos alunos que tragam uma fotografia colorida. Pode ser uma fotografia qualquer que tenha despertado seu interesse, tirada ou nâo por eles, ou pode ser sugerido um tema, como "brincadeiras" ou "rituais de iniciaçâo8". Faça de cada imagem très c�pias em preto-e-branco, ampliadas para o tamanho A3 (o dobro do tamanho de uma folha de papel ofìcio).
Oriente os alunos para que retrabalhem essa imagem com diferentes cores e texturas, utilizando tinta ou pastel, ou outros materiais que propiciem a cobertura necessžria sobre a c�pia (recomendamos testar os materiais antes de realizar a proposta).
Os trabalhos produzidos podem ser expostos junto Ç fotografia original trazida pelo aluno, e o professor pode comentar os resultados com o grupo e estabelecer relaç§es de contrastes e de semelhanças com a poëtica de Claudia Andujar.

 

7. Manipulação de imagens fotográficas
"A fotografia 'pura' postulava uma imagem ideal que transcende o cotidiano. Questionava a visâo de que a fotografia fosse um ato literal de registrar, entendia essa visâo como algo limitado. Mas, de qualquer maneira, insistia-se no fato de a fotografia basear-se no que era visto e nâo no imaginado. (...) Qual o papel da fotografia em meio a um clima estëtico dominado pelo Cubismo e Abstraçâo, em que os novos termos de referència eram os da relatividade e do subconsciente mais do que o registro de uma superfìcie real? De 1900 em diante podemos enquadrar uma sërie de respostas Ç fotografia que buscam integrar o ato fotogržfico na nova linguagem do Modernismo. Tal fotografia busca a manipulaçâo de imagens; abandonando qualquer compromisso com um registro literal do mundo como percebido pelo olho, buscando um novo c�digo visual que sugira a nova consciència trazida pelo Abstracionismo, Surrealismo, Dadaìsmo e Futurismo. Juntas, essas colocaç§es formam uma tradiçâo significativa por si mesmas, e complicam ainda mais os termos por meio dos quais procuramos entender o significado da fotografia como um meio de representaçâo do sëculo XX" (CLARKE, 1997, 187).

Fotografia: tëcnica usada para captar mecanicamente imagens �ticas em superfìcies fotossensìveis. Qualquer um pode tirar fotografias, mas para que seja uma foto de arte o fot�grafo deve tomar decis§es de caržter sensìvel/expressivo quanto ao sujeito, a composiçâo, Çs condiç§es de luz
 

8. Rituais de iniciação
"Os filhos vèm ao mundo sempre fora da maloca ou diretamente na floresta. O recëm-nascido ë amamentado atë os très anos, para ceder entâo o lugar ao irmâo menor. (...) Entre os ianomémis, existem vžrios rituais que marcam os vžrios momentos da vida: entre os dois e os quatro anos de idade, eles tèm as orelhas furadas; entre os oito e os nove, as meninas sâo furadas em très pontos sob o Ižbio inferior e no septo nasal, para permitir-lhes enfiar pequenas hastes ou penas decorativas. Durante a primeira menstruaçâo, as moças permanecem no interior da maloca, assistidas pela mâe e sujeitas a vžrias restriç§es alimentares. No fim do ciclo, a mulher pode consumar o matrim–nio, anteriormente combinado. O esposo se compromete a oferecer determinados serviços aos sogros, como o de cultivar suas terras. Hž uma progressâo equilibrada na educaçâo dos filhos: atë pouco antes da puberdade, as crianças gozam de uma enorme liberdade, ainda que prevalecendo a tendència de delegar Çs meninas o cuidado dos menores, o que nâo compromete sua participaçâo na maior parte das brincadeiras comuns. Ï muito raro ver uma criança chorando" (EUSEBI, 1990, 80-89).

 

Sugestão de continuidade


Contraste a visâo do ìndio proposta por Clžudia Andujar em seu encontro afetivo com os ianomémis e a imagem do ìndio para o colonizador, por meio da imagem da ìndia de A. Eckhout.
Compare as descobertas realizadas pelos alunos em seu encontro com os ianomémis, por meio do percurso proposto neste Material de Apoio sobre o trabalho de Clžudia Andujar, com a vivència das investigaç§es sugeridas no Material de Apoio referente a Seydou Keita.
Peça aos alunos, que fotografem "o outro" em sua realidade. Oriente-os de modo que cada um defina seus pr�prios critërios sobre quem ë esse outro que vâo buscar registrar. Sugerimos estudar a questâo da alteridade9 em conjunto com outras disciplinas. Os resultados dessa investigaçâo, exibidos junto a um texto sobre seus critërios de escolha, podem compor uma exposiçâo interessante para a escola e sua comunidade.

 

9. Alteridade
"A reaçâo diante da alteridade faz parte da pr�pria natureza das sociedades. Uma coisa porëm caracteriza todas as sociedades humanas: o estranhamento diante dos costumes de outros povos, a avaliaçâo de formas de vidas distintas a partir dos elementos de nossa pr�pria cultura. A esse estranhamento chamamos etnocentrismo" (THOMAZ, 1955, 430). "O diferente ë o outro, e o reconhecimento da diferença ë a consciència da alteridade: a descoberta do sentimento que se arma dos sìmbolos da cultura para dizer que nem tudo ë o que eu sou e nem todos sâo como eu sou. Homem e mulher, branco e negro, senhor e servo, civilizado e ìndio€ O outro ë um diferente e por isso atrai e atemoriza. Ï preciso domž-lo e, depois, ë preciso domar no espìrito do dominador seu fantasma: traduzi-lo, explicž-lo, ou seja, reduzi-lo como realidade viva, ao poder da realidade eficaz dos sìmbolos e valores de quem pode dizer quem sâo as pessoas e o que valem, umas diante das outras, umas por meio das outras. Por isso o outro deve ser compreendido de algum modo, e os ansiosos, fil�sofos e cientistas dos assuntos do homem, sua vida e sua cultura, que cuidem disso. O outro sugere ser decifrado, para que lados mais difìceis de meu eu, de meu mundo, de minha cultura sejam traduzidos tambëm por meio dele, de seu mundo e de sua cultura. Pelo que hž de meu nele, quando, entâo, o outro reflete minha imagem espelhada e ë Çs vezes ali em que eu melhor me vejo. Pelo que ele afirma e torna claro para mim, na diferença que hž entre ele e eu" (BRAND®O, 1986, 7).

Civilizado: indivìduo integrado a uma civilizaçâo, ao esforço cultural que reöne e direciona caracterìsticas da vida social, polìtica, econ–mica e cultural de um povo para aprimorar os valores que o norteiam.

Glossžrio

Alteridade: o que se refere ao outro.

Apreciação: 1. Ato ou efeito de apreciar (dar apreço, merecimento a, estimar, prezar, julgar, avaliar, ponderar, examinar, considerar, calcular, estimar, avaliar...).
2. Conceito, julgamento, opinião. 3. Análise, exame.
4. Reconhecimento de uma idéia ou de um fenômeno.

Interpretação: ato de estabelecer conexões entre o sujeito e o que se apresenta como novo.

Meio: este termo integra as técnicas e materiais escolhidas pelo artista para criar sua obra. Técnicas: o desenho, a pintura e a fotografia. Materiais ou instrumentos: o lápis, a tinta, a máquina e o filme fotográfico. Suportes: o papel, a tela de linho e o papel fotossensível.

Olhar: contemplar, observar, examinar, estudar, sondar, pesquisar, atentar ou reparar em.

Poética: relativo à linguagem pessoal de cada artista.

  Bibliografia

BARBOSA, Ana Amália. "Afogando em arte". São Paulo: ECA/USP, 1998. (Datilografado.)
BARBOSA, Ana Mae. "Tópicos utópicos". Belo Horizonte: Editora C/Arte, 1998.
BRANDÃO, C.R. "Identidade e etnia". São Paulo: Brasiliense, 1986.
CLARKE, Graham. "The photograph". New York: Oxford University Press, 1997.
EUSEBI, Luigi. "A barriga morreu: o genocídio dos Yanomami". São Paulo: Loyola, 1990.
HERKENHOFF, Paulo. "A espessura da luz: fotografia brasileira contemporânea".
MELATTI, J.C. "Índios do Brasil". São Paulo: Hucitec, 1993.
RIZZI, Christina. "Beyond artifacts: museum, art and education". São Paulo: Museu de Arqueologia e Etnologia USP, 1998. (Datilografado.)
RIZZI, Christina, CURY, Marilia, DORTA, Sonia. "Além da beleza: roteiro de apreciação". São Paulo: Museu de Arqueologia e Etnologia/USP, 1998.
SANTOS, Laymert Garcia dos. A experiência pura. "Folha de S.Paulo", Caderno Mais, 16 ago. 1998.
SESC - Serviço Social do Comércio. "Olho vivo: uma proposta de arte-educação/Labirinto da moda: uma aventura infantil. São Paulo: Sesc Pompéia, 1996. (Folder.)
TASSINARI, A.M.I. Sociedades indígenas: introdução ao tema da diversidade cultural. In: Silva, Aracy L. da, Grupioni Luis D. (Orgs.). "A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1o e 2o graus". Brasília: MEC/Mari/Unesco, 1995.
THOMAZ, O.R. A antropologia e o mundo contemporâneo: cultura e diversidade. Silva, Aracy L. da, Grupioni Luis D. (Orgs.). "A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1o e 2o graus". Brasília: MEC/Mari/Unesco, 1995.