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Como? (Quando?
Onde?)
Sugerir
aos alunos que observem cada uma destas imagens e apontem suas caracterìsticas.
Ao primeiro olhar,
talvez aparentem ser apenas retratos1 comuns, que
nâo dizem nada de novo, como as fotos très por quatro em que nâo nos
reconhecemos em nossos documentos.
Para criar condiç§es
de um maior envolvimento dos alunos com a obra, ë adequado fazer algumas
perguntas para o grupo, dando inìcio a uma discussâo. Na observaçâo
dos retratos, aprofundar a discussâo, pedindo aos alunos que procurem
apontar a cada colocaçâo o que na obra os faz pensar assim.
Como imagina que
o artista fez estes retratos? A partir de poses? A partir de fotos?
Por que eles foram
feitos com diferentes cores e tipos de linhas?
Conseguiria reconhecer
algum deles se os encontrasse na rua?
O artista alterou
(deformou) de alguma forma a aparència das pessoas?
Reconhecem que
materiais foram utilizados na produçâo dos retratos?
Por que eles tèm
o mesmo tamanho e o mesmo formato?
De que forma estes
retratos estâo organizados?
Por que o artista
os colocou desta maneira?
As pessoas retratadas
tèm alguma relaçâo entre si?
Que idade tèm
estas pessoas?
Por que os retratos
tèm datas e nomes registrados?
Quem sâo as pessoas
retratadas? Como sâo?
Como elas se sentem?
Estâo felizes, tristes, preocupadas, bravas, aborrecidas?
Quais suas hist�rias?
Se os alunos discutirem
a questâo da semelhança ao comentarem estes retratos, o professor pode
introduzir o conceito de deformaçâo, utilizada como um recurso expressivo
pelo artista. Perìodos de crise, em especial, parecem produzir artistas
que canalizam as ansiedades de seu tempo para suas obras. No contexto
do individualismo moderno, o poder expressivo de cores e formas, de
pincelada e textura, de tamanho e escala, pode ser levado ao extremo.
A intensificaçâo do aspecto expressionista2 da arte
ë caracterìstico de muitos artistas do sëculo XX. Sâo os casos, por
exemplo, das imagens alucinat�rias de Munch; da natureza deformada de
Van Gogh; da obra de Ensor.
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1.
Retratos
Segundo Mc Evilley, Maguire dividiu seu tempo de trabalho em
Sâo Paulo entre os retratos das crianças e "retratos feitos com
carvâo, tinta e giz pastel oleoso, baseados em fotografias de presidižrios
publicadas nos jornais. (...) Nos retratos de criminosos adultos,
o objetivo de Maguire ë re-humanizar e revitalizar
o indivìduo retratado. Ele passou doze anos dando aulas de arte
a prisioneiros em pris§es irlandesas, onde construiu vžrias amizades
e se impressionou muito com a humanidade dos homens com quem trabalhou
com os misteriosos problemas pelos quais cada um deles se meteu
em uma armadilha. Os prisioneiros brasileiros cujas fotos viu nos
jornais tambëm estavam em uma armadilha, e as crianças desprovidas
de recursos econ–micos e culturais com quem trabalhou no Centro
Cultural podem ser descritas como estando Ç caminho da armadilha,
ou em perigo de tropeçar em uma delas se suas vidas penderem para
as ruas. 'Como as crianças se tornam criminosos?' ë a questâo por
tržs do projeto de Maguire nestes dois conjuntos de retratos". O
artista deu um segundo tìtulo a esta obra: "Dižrio Popular Drawings".
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Re-humanizar:
o processo ocorre pela criaçâo de uma imagem distante da do estere�tipo
do criminoso em termos formais. Segundo Fayga Ostrower, "o conteödo
expressivo de uma obra de arte se baseia no caržter dinémico ou estžtico
do movimento visual articulado (...) integrando estados de ser contrastantes
(...): movimento e nâo-movimento, tensâo e nâo-tensâo. Daì se formula
o estado de énimo da obra". |
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2.
Expressionista
Segundo Donald Kuspit "o Expressionismo de Maguire pode
ser compreendido como uma forma de protesto e rebeliâo contra a
realidade irlandesa contemporénea. (...) A mensagem do Expressionismo
de Maguire parece ser que para ser verdadeiramente, existencialmente,
um indivìduo na Irlanda atual, ë necessžria uma rebeliâo espiritual
pessoal semelhante Ç rebeliâo polìtica contra a Inglaterra. Isto
sugere que a revolta espiritual que as pinturas de Maguire representam
ë uma forma - mutante? - de rebeliâo polìtica. Ela assume a forma
que tais rebeli§es quase sempre tomam de inìcio: a revelaçâo do
desespero da vida cotidiana e a exposiçâo emocional da misëria do
status quo. O Expressionismo zangado das pinturas de Maguire entregam
a mentira da felicidade da vida na Irlanda, delatando o fantasioso
Romantismo irlandès". Mc Evilley comenta que, nos retratos expostos
nesta Bienal, Maguire procurou controlar o aspecto expressionista
de sua pintura para reduzir ao mžximo sua interferència na revelaçâo
desses personagens.
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Expressionismo:
movimento artìstico que se fundamenta na expressâo intensa das emoç§es,
com pinceladas fortes e com deformaç§es da figura humana. |
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Inventando
histórias
A partir das respostas
dadas pelos alunos, o professor pode pedir que eles criem uma hist�ria para
as pessoas retratadas, imaginando suas atividades cotidianas, onde moram,
como ë seu bairro e quais os objetos e construç§es que fazem parte de seu
meio. Essa hist�ria pode ser realizada em grupos, tomando a forma de textos,
desenhos e dramatizaç§es.
Ï a oportunidade para
o professor introduzir informaç§es sobre como Brian Maguire retratou essas
pessoas e comparar suas hist�rias reais com as criadas pelos alunos, discutindo
o que sabem sobre a situaçâo da marginalidade3 e do crime
em nossa sociedade e o modo como uma pessoa comum, como aquelas para quem
inventaram suas hist�rias, se envolve nesse tipo de situaçâo.
A sociedade industrial
trabalha com a produçâo de mercadorias em sërie e o ser humano tende a olhar
da mesma forma seus atos cotidianos, como repetiç§es merecedoras de pouco
interesse, executadas de forma automžtica, sem qualquer reflexâo. Devorado
por seus compromissos e por seu trabalho, orienta-se apenas pelo cumprimento
dos mesmos, alienando-se em relaçâo Ç pr�pria vida. As preocupaç§es individuais
e a repetiçâo dižria das situaç§es podem nos distanciar de nossos atos e
das condiç§es sociais em que vivemos. A morte da atençâo, matëria-prima
da criatividade, faz com que passemos pelas situaç§es cotidianas da vida
urbana sem dar-lhes importéncia, ou seja, sem percebè-las, sem vivenciž-las
verdadeiramente.
A criaçâo artìstica
pode ajudar a recobrar a atençâo para com o cotidiano, mostrando como olhar
o contexto em que nos inserimos de modo diferente. Assim, a vida escapa
do processo de banalizaçâo e pode ser retomada como um alvo prioritžrio
para o envolvimento criativo de cada indivìduo. As pequenas atitudes e cenas
que marcam o dia-a-dia adquirem grande importéncia ao tecerem hist�ria,
engendrando toda uma trama de relaç§es sociais.
Na obra de Brian Maguire,
as imagens sâo apresentadas em conjuntos, procurando pelos contrastes acentuar
o caržter önico dos retratados, afirmando que cada um tem uma identidade
e diferencia-se dos demais. A mostra no espaço da Bienal das fotos dos retratos
de crianças4 em seus lares, junto com as obras emprestadas
pelas crianças, acentua seu caržter individual, trazendo um fragmento do
mundo de cada uma para a exposiçâo.
A partir desse olhar
diferenciado, reconhecendo que cada marginalizado ë muito mais que um nömero
nas estatìsticas, ë um indivìduo, com nome, com endereço e hist�ria, ë possìvel
desenvolver um comportamento ëtico em relaçâo ao ambiente social. A reflexâo
sobre a atuaçâo de cada um na sociedade, como indivìduo e cidadâo, cria
condiç§es para a construçâo de uma consciència ëtica. |
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3.
Marginalidade
Fiach Mac Conghail prefaciou um catžlogo que reöne as obras
criadas por Maguire para a XXIV Bienal: "Ap�s minha önica visita
Ç favela de Vila Prudente, em Sâo Paulo, surgiu em mim uma certa
melancolia. O sentido de fatalidade, que existe entre os setores
marginalizados de qualquer sociedade, começou a me perturbar, sem
propiciar qualquer compreensâo. Nâo fiz nada. Inërcia, complacència,
inatividade, posicionaram-me em outra classe. Nas obras de Brian
Maguire expostas na XXIV Bienal de Sâo Paulo, a mesma melancolia
ë evidente. Todavia, o memorial que Maguire construiu cria oportunidades
para refletir e pensar. Ele contëm um comentžrio simples de alguëm
de fora sobre as conseqÆèncias universais dos acasos do nascimento
e da herança. A ordem social (como vista pelas autoridades), em
qualquer parte do mundo, ë perpetuada pelas classes, e ë essa consciència
de classe (ou falta dela) que causa a inërcia e a complacència.
A obra 'Casa da cultura' documenta algo que tambëm ë conhecido no
paìs de origem de Maguire, a Irlanda".
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Consciência
de classes:
o reconhecimento dos vìnculos e das condiç§es compartilhados por grupos
de pessoas dentro da ordem social, condiçâo necessžria para a mobilizaçâo
pela transformaçâo dessas condiç§es. |
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4.
Retratos de Crianças Thomas
Mc Evilley escreveu sobre o processo de criaçâo da obra "Casa da
Cultura": "Brian Maguire exibe vinte retratos, feitos com
carvâo, de crianças que vivem em uma favela de Sâo Paulo. A favela
ë um pedacinho de terra em que famìlias se alojam perto de uma linha
de trem, com vielas que conduzem para dentro e para fora. Dentro
da favela estž o Centro Cultural Vila Prudente, um edifìcio com
duas salas onde as crianças do local tèm aulas de teatro e de dança.
(...) Ap�s ser convidado para representar a Irlanda na XXIV Bienal
de Sâo Paulo, Maguire passou oito semanas trabalhando no Centro
Cultural, em fevereiro e março de 1998. (...) Conheceu cada uma
das crianças, visitou suas casas e conheceu alguns de seus pais.
Desenvolveu uma afeiçâo pessoal pela favela. Começou a fazer os
retratos das crianças nas aulas de artes visuais. (...) Cada vez
que um retrato era terminado, a criança retratada o levava para
casa e escolhia um lugar para pendurž-lo no lar de sua famìlia.
Maguire visitou cada casa e fotografou o retrato em seu ambiente
domëstico. Sua mostra na Bienal de 1998 inclui (...) as fotografias
das casas das crianças com os retratos pendurados nelas. Os retratos
a carvâo foram emprestados Ç Maguire pelas crianças para a exibiçâo,
e para elas serâo devolvidos. Nâo estâo Ç venda".
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Brian
Maguire
(Dublin, Irlanda, 1951): seu trabalho ë simultaneamente mobilizador, provocativo e questionador. Influèncias polìticas e sociais sâo parte integrante de sua obra. Maguire tem trabalhado com diversas mìdias, pintura, vìdeos e instalaç§es. Os tìtulos de alguns de seus öltimos projetos denotam sua preocupaçâo: "Escolha", "Violència na Irlanda", Observaç§es", e o "O corpo-polìtico." |
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Canibalismo
x solidadriedade - processos de exclusão e de inclusão
As interpretaç§es mais antigas da teoria da evoluçâo de Darwin destacam
a competiçâo entre as espëcies como um importante critërio para sua sobrevivència.
Entretanto, novas abordagens a esta teoria destacam tambëm o papel da cooperaçâo
entre os seres vivos como critërio para definir sua adaptaçâo ao meio ambiente
e sua capacidade de sobrevivència.
Em diversos perìodos, a hist�ria da humanidade parece resumir-se em conflitos
por territ�rios e posses, materiais ou simb�licos. O outro ser humano passa
a ser considerado apenas um concorrente a ser vencido, "devorado", assimilado.
Ï preciso lembrar que o principal motivo para a constituiçâo dos grupos
e das sociedades sâo os benefìcios coletivos gerados por esta associaçâo,
e que o outro pode ser visto tambëm como um possìvel parceiro.
Se por um lado a crescente violència do ambiente urbano torna a segurança
uma preocupaçâo prioritžria de seus habitantes, por outro lado a pr�pria
sociedade parece adotar atitudes de canibalismo5 em relaçâo
aos excluìdos ou marginalizados, devorando suas possibilidades existenciais
de realizaçâo ao abster-se de iniciativas para incluì-los em seu meio.
Muitas escolas pöblicas de Sâo Paulo vivem em suas comunidades situaç§es
de conflito que incluem depredaç§es, roubo, tržfico e consumo de drogas,
gangues, violència fìsica e sexual etc. Diversas escolas compreenderam que
essas quest§es nâo podem ser resolvidas apenas por meio de protestos6
e solicitaç§es de mais policiamento, que ë necessžrio um esforço da pr�pria
instituiçâo para tornar-se um ponto de encontro da comunidade para refletir,
discutir e procurar soluç§es para os problemas que atingem a todos.
Integrar os alunos nesse processo pode evitar que essas quest§es tâo graves
sejam banalizadas devido a sua repetiçâo dižria, permitindo que reflitam
sobre o papel da estrutura social na manutençâo dessa condiçâo de vida e
adotem posiç§es que possam contribuir para que esses problemas se modifiquem
ao longo de suas vidas.
Resgatar simbolicamente, por meio do desenho, da narraçâo ou da dramatizaçâo,
o modo como os alunos vivem esses problemas em seu cotidiano pode ser uma
forma de integrar a disciplina de artes em um projeto transdisciplinar sobre
essas quest§es, confrontando as alternativas do canibalismo e da solidariedade7
a partir da discussâo das obras de Brian Maguire e de seu enfoque sobre
a misëria e a marginalidade, procurando criar condiç§es simb�licas de inclusâo
por meio dos retratos, de sua exposiçâo na Bienal e de sua devoluçâo aos
lares das crianças retratadas.
Dessa forma, o exercìcio de observaçâo da obra pode propiciar condiç§es
para que os alunos desenvolvam tambëm uma nova forma de perceber sua participaçâo
nas relaç§es sociais. Esse olhar sup§e integrar Ç vida de cada um atitude
participativa na discussâo e procura de soluç§es para os problemas da comunidade.
Anotar a participaçâo dos alunos durante as atividades de observaçâo, discussâo
e criaçâo, registrando o processo individual de construçâo do conhecimento,
ë a melhor forma de avaliar a compreensâo dos conceitos abordados neste
percurso educativo, proposto a partir das obras de Brian Maguire. |
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5.
Canibalismo
Brian
Maguire indicou para acompanhar sua obra no catžlogo de Representaç§es
Nacionais desta XXIV Bienal um texto de Jonathan Swift, "uma
proposta modesta para evitar que os filhos dos pobres sejam um fardo
tanto para os pais quanto para o paìs, e o fazer com que elas [as
crianças] sejam benëficas ao povo", que ironicamente prop§e resolver
o problema social dos marginalizados aproveitando-os como alimento,
gerando recursos para a sociedade: "Minha intençâo estž longe de
limitar-se a cuidar apenas das crianças dos mendigos declarados;
ë de alcance bem maior, e deverž abranger todas as crianças de uma
certa idade, que nasceram de pais efetivamente tâo pouco aptos a
sustentž-las quanto aqueles que pedem por nossa caridade nas ruas.
(...) Foi-me assegurado por um mui ilustre americano de minhas relaç§es
em Londres que uma criança jovem, sadia e bem-alimentada, com um
ano de idade, ë um alimento muito delicioso, nutritivo e saudžvel.
(...) Que das jž estimadas 120 mil crianças, 20 mil sejam reservadas
para criaçâo (...) Que as demais 100 mil possam, com um ano de idade,
ser colocadas Ç venda, (...) tenras e gorduchas para uma boa mesa.
Uma criança servirž para dois pratos durante uma reuniâo de amigos.
(...) Esse alimento serž bastante requintado e, portanto, muito
apropriado para os senhores proprietžrios, que, como jž devoraram
a maioria de seus pais, parecem merecer o melhor direito Ç posse
das crianças (...)".
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Jonathan
Swift :
(Dublin, 1667-1745): reitor de St. Patricks, escritor conhecido pelo
livro "Viagens de Gulliver" (1726). Em seus textos combate as injustiças
sociais com ironia e satiriza a corte, os partidos e os representantes
do Estado. |
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6.
Protestos
Segundo
Fayga Ostrower, "no contexto da sociedade de consumo, as coisas
se viciam". De um lado existe um acesso a informaç§es, sâo muitas
as oportunidades oferecidas, mas, de outro, "um processo que aliena
as pessoas de sua espontaneidade criativa e de seu potencial sensìvel,
um verdadeiro processo de dessensibilizaçâo das pessoas. Num bombardeio
ininterrupto por meio dos diversos canais de persuasâo cultural
e meios de comunicaçâo - bombardeio que vai da casa Ç rua, Ç escola,
ao trabalho, ao lazer, e ao qual o indivìduo estž sendo exposto
praticamente desde o momento em que nasce - procuram-se impor os
valores do consumismo como önicos valores reais, önica meta de vida
e önica forma de realizaçâo social. A curiosidade natural do jovem
diante da vida, os anseios, as aspiraç§es e as necessidades do adulto,
tudo ë sumariamente reduzido ao nìvel de mercadorias. (...) Ï nesse
panorama cultural - num clima de alienaçâo e desestruturaçâo da
personalidade acompanhando o bem-estar e o progresso material, e
ainda com o dinheiro representando o önico parémetro para se aferirem
realizaç§es espirituais - que devem ser vistas as vžrias tendèncias
da arte contemporénea. S� assim tornam-se compreensìveis as contìnuas
ondas de protesto e, sobretudo, o caržter de agressâo e violència
desse protesto, chegando a formas m�rbidas de autodestruiçâo. Seria
impossìvel que os artistas e sua produçâo estivessem fora das press§es
da sociedade de consumo, ou mesmo de suas seduç§es".
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7.
Solidariedade
Alëm
dos dois conjuntos de retratos, Mc Evilley comenta que "Outro elemento
da exposiçâo ë uma önica grande pintura feita com tinta acrìlica,
baseada no massacre de prisioneiros no Pavilhâo da Prisâo Estadual,
onde policiais fuzilaram muitos dos prisioneiros em suas celas.
(...) Uma forma de ver estes vžrios elementos ë como quadros de
diferentes estžgios da vida. Primeiro os personagens sâo vistos
como crianças, entâo como prisioneiros com seus retratos nos jornais,
e finalmente como cadžveres ap�s o massacre da polìcia. (...) Por
outro lado, Maguire sente que as crianças que tiveram algum tipo
de orientaçâo no Centro Cultural tem menos chance de terminar na
prisâo do que teriam se vivessem nas ruas. (...) Assim como o calor
e o apoio de sua vida familiar as envolve, as paredes de seus lares
abraçam seus retratos. Ï aqui que a intervençâo na tragëdia social
desses très diferentes estžgios de vida pode acontecer. O que une
os grupos representados ë que eles sâo socialmente invisìveis no
Brasil. Ï sua invisibilidade que Maguire tenta corrigir, ao tornž-los
visìveis em seus retratos. Ele declara: Desenhar ë um ato de amor".
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4. Sugest§es de continuidade
Comparar os vžrios
tipos de retratos feitos em diversas momentos da Hist�ria da Arte, caracterizando
as relaç§es entre a sociedade de cada ëpoca e os retratos, pesquisando
a hist�ria do retrato e das diversas funç§es que assumiu (mesmo que
realizados com prop�sitos distintos da arte, como o retrato falado8);
analisando as tëcnicas utilizadas e os elementos visuais que o artista
escolheu para expressar as personalidades retratadas e seu contexto.
Algumas atividades podem ser propostas a partir da comparaçâo entre
os retratos de Brian Maguire e os de outros artistas da XXIV Bienal
que criam retratos, mesmo que utilizem tëcnicas diferentes, ou com artistas
de outras ëpocas, como Portinari e Leonardo Da Vinci. Os retratos oferecem
representaç§es simb�licas das pessoas conforme as intenç§es do artista
ao apresentar o personagem retratado e seu contexto. Os retratos de
Leonardo Da Vinci, por exemplo, pretendem dizer algo de espiritual,
tentam gravar a personalidade do retratado e seus sentimentos. Jž os
retratos de Portinari podem ser vistos dentro do contexto de busca de
uma imagem de legitimidade pela elite polìtica e intelectual brasileira
do perìodo. A investigaçâo dos conteödos e valores simb�licos explicitados
nos retratos permite que se revelem novas dimens§es nas imagens da vida
pöblica ou domëstica, oferecendo informaç§es sobre seu cenžrio, sua
indumentžria, adereços e caracterìsticas do pr�prio personagem. A partir
dessa pesquisa, os alunos podem realizar em grupo um jogo em que os
colegas tentam identificar a que ëpoca pertence o personagem de um retrato
selecionado por outra equipe com base nas pistas oferecidas pelos elementos
presentes na cena. Com isso, o professor pode trabalhar o conceito de
antropofagia, identificando inter-relaç§es, apropriaç§es e diferenças
culturais entre vžrias ëpocas.
Pedir aos alunos que criem outra coleçâo de retratos reunindo fotografias
dos colegas, ou que façam desenhos que os retratem, para posteriormente
montarem uma hist�ria sobre o grupo de sua sala de aula.
Coletar um conjunto
de fotografias de propagandas de polìticos, distribuìdas fartamente
durante a eleiçâo deste ano, realizando intervenç§es sobre seus retratos
com tinta e outros materiais e comparando os resultados Çs imagens de
Maguire.
Retomar os conteödos
trabalhados a partir da observaçâo das obras de Brian Maguire com base
nas letras de mösicas "rap" sobre quest§es sociais e banalizaçâo9
da violència no cotidiano, como as mösicas do grupo 'Racionais', de
'Gabriel, o Pensador', do grupo 'Pavilhâo 9' entre outros.
Comparar a referència
de Maguire ao massacre no Carandiru com a instalaçâo "111" (1993), obra
realizada pelo artista Nuno Ramos (Sâo Paulo, SP, 1960) sobre o mesmo
tema, no Museu de Arte Contemporénea de Porto Alegre e em Sâo Paulo
no Gabinete de Arte Rachel Arnaud, reapresentada na Bienal Brasil Sëculo
XX, em 1994.
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8.
Retrato Falado
Gombrich comenta que "certamente ë possìvel ver todo retrato como
um esquema de cabeça modificado pelos traços distintivos sobre os
quais desejamos transmitir informaçâo. A polìcia Çs vezes emprega
desenhistas para ajudar testemunhas na identificaçâo de criminosos.
Eles desenham um rosto vago, esquemžtico, e orientam as testemunhas
nas alteraç§es progressivas desse rosto padrâo. Elas respondem 'sim'
ou 'nâo' Çs propostas de alteraç§es, tambëm padronizadas, atë que
o rosto esteja suficientemente individualizado. De posse, entâo,
desse retrato falado, a polìcia faz uma busca proveitosa nos arquivos.
Esse relato da execuçâo de um retrato por controle remoto pode parecer
forçado, mas pode muito bem servir de paržbola. Lembra-nos que o
ponto de partida de um registro visual nâo ë uma certeza, mas uma
conjectura condicionada pelo hžbito e pela tradiçâo. (...) Nâo deverìamos
inferir desse fato que nâo existe semelhança objetiva? (...) A conclusâo
ë tentadora, e ë recomendada ao professor de apreciaçâo da arte
porque demonstra ao leigo quanto daquilo que chamamos de 'ver' ë
condicionado por hžbitos e expectativas. (...) Se toda arte ë conceitual,
entâo a questâo ë simples. Porque os conceitos, como as pinturas,
nâo podem ser verdadeiros ou falsos. Podem ser apenas mais ou menos
öteis Ç formaçâo de descriç§es".
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9.
Banalização
Segundo
Trivinho, "ao banalizar a violència e as atrocidades, a civilizaçâo
atual conseguiu, com uma aptidâo macabra, articular a morte chocante
das esquinas e vazia das telas Ç morte olvidada no prato dižrio
de refeiçâo. (...) Na cultura de massa, centenas de fotos, vìdeos
e telenotìcias, provenientes de todas as partes do mundo, dep§em
a favor da verdade, contra a monstruosidade de feiç§es inexprimìveis.
(...) Na magia negra secular, desde o passado mais remoto atë hoje,
em rituais formais e acompanhados com impassibilidade devocional
pelos presentes, sacrificam-se pessoas, inclusive crianças, bem
como animais quadröpedes, preferencialmente o boi e o bode. (...)
O Estado, quando advoga para si o privilëgio legal da pena de morte,
nivela-se Ç monstruosidade do crime daquele que condena, o homem
que se alimenta de carniça nâo deixa de ter, zoo e antropologicamente
falando, uma profunda semelhança com os tubar§es, leopardos e urubus".
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Da esquerda para a direita: Pamela Viana da Silva, Elisabeth Andrade Castro
Alves, Elizabete Silva da Souza, Alan Barros de Souza, Josë Roberto de Lima Silva, Neide da
Silva Correia, Katia Correia, Ingrid Lopes da Silva. bottom l to r: [abaixo, da esquerda para a
direita:] Marco Alencar dos Santos, Tabata Viana da Silva, Patrìcia Castro de Souza, Carlos
Josë Alves, Clebson Barros da Silva, Fernandes Pereira da Silva, Catia Pereira dos Santos,
Karen Cristina Santos Estero, Regivan Aparecido da Conceiçâo, Grislaine Aparecida dos
Santos Cësar, Casa da Cultura, favela da Vila Prudente, Sâo Paulo 1998 carvâo sobre papel
montado em tela [charcoal on paper mounted on canvas] 20 desenhos de 30x23cm cada.
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