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(continua玮o) O canibalismo nunca envolve somente o ato de comer. Este ato poderia ser visto como uma metáfora da dominação e assimilação do poder hostil de um outro grupo. Na hipótese freudiana de frustração e agressão, a imaginação não-desenvolvida do canibal faz com que ele coma uma pessoa como reação psicológica a raiva e frustração oral. Incidentes de canibalismo psicótico praticado por assassinos seriais foram diagnosticados como uma forma aguda de parafilia relacionada a fixações infantis da fase de desmame. Atividades eróticas tais como mordidas sádicas ou estimulação oral dos órgãos genitais masculino e feminino levaram homicidas a praticar atos de tortura, vampirismo e necrofilia. Assassinos antropófagos tais como Fritz Haarman, Albert Fish, Edward Gein, Ted Bundy, Andrei Chikatilo, e Jeffrey Dahmer tornaram-se conhecidos por sua concupiscência em torturar e devorar suas vítimas21. Em 1981, o estudante japonês Issei Sagawa, que fazia pós-graduação em Paris, matou a tiros, mutilou e comeu pedaços de um jovem colega holandês. O caso de Sagawa já foi discutido num contexto em que a esquizofrenia japonesa e a atitude "inescrutavelmente oriental" se misturam com a inveja das culturas ocidentais, como parte do complexo de inferioridade causado pelo medo que os ocidentais têm do "perigo amarelo"22. Preso e submetido a tratamento, Sagawa tornou-se uma celebridade e um romancista especializado em canibalismo. Na Tailândia, tornaram-se lendários os assassinatos cometidos por See Uui, um psicopata chinês que comeu crus inúmeros corações e fígados de crianças. Mais recentemente, a notícia chocante de um estudante de medicina que matou a tiros sua amante, esquartejou e jogou o corpo na privada, reflete um comportamento bizarro relacionado ao ciúme passional23. Nos sistemas sociais contemporâneos, a compulsão canibalística vem sendo observada como forma elementar de agressão institucionalizada. Quando forças civilizadoras cessaram, a satisfação de necessidades agressivas levou ao genocídio de milhões de pessoas na Alemanha, Bósnia-Herzegóvina e Ruanda. A limpeza étnica durante o regime de Pol Pot impôs a assimilação das minorias e uma carnificina generalizada, que resultou no massacre de mais de um milhão de habitantes no Camboja24. Em Karachi, no Paquistão, milhares foram vítimas da violência política, étnica e sectária que tornou os cidadãos vulneráveis às formas de terrorismo praticadas nas ruas e pelo Estado. Ativistas e seitas incluindo o Movimento Muttahida Qaumi, as comunidades Moharjir e Pathan, e a polícia do governo contribuíram para a destruição entre os grupos25. A missão norte-americana, cujo objetivo era manter a paz mundial e combater o comunismo na Guerra do Vietnã, resultou num desastre de proporções catastróficas, uma vez que o lançamento de 7,85 milhões de toneladas de bombas mataram cerca de 3 milhões e feriram 4 milhões de vietnamita26. O desejo de devorar o Outro/inimigo é mais evidente na atual doutrina mundial de salvação política e econômica. A integração global por meio de empreendimentos de livre comércio ditados por organizações econômicas mundiais, assim como pelo Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), resulta num "capitalismo turbinado" que solapa a estabilidade democrática e a capacidade de funcionamento do Estado. As fusões transnacionais e transferência de controle acionário de empresas, além do colapso das finanças são sintomas do canibalismo institucionalizado. Segundo os autores do best seller internacional The global trap [A armadilha global], "O ritmo das mudanças e a redistribuição do poder e da prosperidade estão erodindo as velhas entidades sociais. . . Os países que até aqui têm desfrutado de prosperidade agora estão consumindo a substância social de sua coesão ainda mais rapidamente do que vêm destruindo o meio ambiente".27 A impressionante integração da humanidade por meio da tecnologia e do comércio poderá levar a um colapso global. Os recentes abalos financeiros na Ásia provam que as fraquezas econômicas, a corrupção e a recessão podem facilmente transformar tigres altivos em dóceis filhotes à medida que Tailândia, Coréia e Indonésia contraíram dívidas colossais junto a credores internacionais. Na Índia, a miséria transforma o comércio de sangue e a venda de órgãos em negócios lucrativos. A espoliação cria um processo de armadilha, de modo que as culturas parasitárias ou predatórias procuram devorar e exaurir a riqueza das mais fracas, para crescer em conforto e opulência. Conforme demonstra o livro do fotógrafo tailandês Manit Sriwanichpoom, This bloodless war: greed, globalization and the end of independence [Esta guerra sem sangue: ganância, globalização e o fim da independência], o processo de neocolonialismo não se dá mais pela força, mas sim pela situação de guerra na selva das finanças. O colapso econômico banalizou a competitividade e a independência, uma vez que os povos estão sofrendo de desencanto e angústia. 21.Brottman, idem, p.26�, 192�3. Albert Fish, por exemplo, matou Grace Budd, de 12 anos, cortou o corpo em fatias finas, cozinhou e comeu ensopado, com repolho e batatas. Os assassinatos bizarros de Edward Gein incluíram a dissecção de cadáveres femininos, cuja pele usava sobre seu próprio corpo para dançar. Ted Bundy ficou conhecido por abocanhar e engolir pedaços de nádegas e coxas de suas vítimas do sexo feminino. A psicose assassina de Bundy inspirou a caracterização de dois autores de assassinatos em séries, Buffalo Bill and Hannibal Lecter, nos romances Red Dragon e Silêncio dos inocentes, de Thomas Harris. O primeiro assassino tornou-se obcecado pela pintura de um Homem-Dragão, de William Blake, enquanto o outro se inspirou nos estudos de anatomia de Theodore Gericault em The raft of Medusa. No thriller clássico de Jonathan Demme, O silêncio dos inocentes, o psiquiatra psicopata Aníbal "o Canibal" Lecter, representado por Anthony Hopkins, descreve como mordeu e engoliu a língua de uma de suas vítimas, e comeu o fígado de outra, preparado com feijão de fava e acompanhado por um bom vinho Chianti. Além disso, Lecter desmembrou o corpo e comeu a carne de um policial, ao som da música de Bach. Brottman descreveu um retrato de Lecter como sendo uma combinação dos apetites da Idade da Pedra e do pensamento mágico do carniceiro selvagem com o gênio do artista-cientista. "Arte, mágica e religião se encontram, e o sacrifício da comunhão torna-se carne".
U-Shock! de reapresentação de seriados na televisão a cabo apresentou Plai thang hang khuam kan (O fim da vingança). No filme, o médico psicopata mantinha amarrados sua mulher e o amante dela, cujos membros fatiava para comer todos os dias no jantar.
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