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Cor e emoção

Vincent acreditava muito no significado emocional das cores: escrevendo sobre a pintura Café noturno (1888): "Tentei expressar por meio do vermelho e do verde as terríveis paixões da humanidade. Há, em toda parte, choque e contraste dos vermelhos e verdes mais díspares nas figuras dos desordeiros adormecidos, na sala vazia, lúgubre, violeta e azul".4 Mas, também nos primeiros trabalhos de Vincent, a cor tinha um significado simbólico, como nos retratos de agricultores: "Pintei-os da cor de uma batata (obviamente ainda com casca) coberta de terra. Ao fazer isso, percebo que já se disse o mesmo dos agricultores pintados por Millet: †que parecem ter sido pintados com a terra em que plantamË".5 Em 1885, van Gogh até teve aulas de piano a fim de aprender as nuances da escala cromática e comparar as notas do piano com as cores.

Vincent reconhecia o problema de casar as cores de seus temas com os pigmentos de que dispunha: "Não deveria eu supor que um pintor devesse partir das cores de sua paleta, do que das cores da natureza?"6 A leitura da Grammaire des arts du dessin [Gramática das artes do desenho] (1867), de Blanc, e o contato com o impressionismo em Paris, em 1886, estimularam-no a reorganizar sua composição cromática. O princípio da complementaridade considera como aliadas vitoriosas as cores quando justapostas em estado puro, mas inimigas mortais quando misturadas. Os primeiros sinais dessas idéias aparecem em Hortas em Montmartre (1887).

O uso que Vincent fez da cor também foi profundamente influenciado pelas xilogravuras japonesas Ukyie-o: as composições e superfícies monocromáticas que realçam essa qualidade bidimensional são discerníveis em sua obra. Vincent idealizou o espírito comunitário japonês e muitas vezes definiu a própria estada em Arles como a situação que mais o aproximava do Japão. Aí ele também tentou realizar sua utopia a respeito de uma colônia de artistas. Em Arles, Vincent usou cores intensas, altamente expressivas, que refletiam sua fé em "um mundo novo, confiante numa ressurreição grandiosa da arte".7 No entanto, depois do fracasso de sua colaboração com Gauguin, seu otimismo desvaneceu-se: "Embora ao longe eu perceba uma forma nova de pintura, não sou capaz de realizá-la".8





4. Vincent van Gogh, carta 533, setembro, 1888.


5. Vincent van Gogh, carta 405, maio, 1885.


6. Vincent van Gogh, carta 429, outubro, 1885.


7. Vincent van Gogh, carta B19A, novembro, 1888.


8. Vincent van Gogh, carta 614A, novembro, 1889.