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Robert Smithson

A arte de Robert Smithson é do mundo: a terra no lado de fora, o fragmento deslocado no lado de dentro. Ele consumiu geologia para expandir o espaço da escultura. Rejeitou a abstração de Jackson Pollock, Willem de Kooning e Barnett Newman, que havia absorvido em suas próprias pinturas em fins dos anos 50. Em 1963, passou a usar a geometria na escultura. Sua abstração não seguia o estilo purista de seus contemporâneos minimalistas, mas a natureza física dos cristais Àestruturas simétricas que definiam e continham aquilo que de outra forma poderia parecer um caos. Do mapeamento de cristais, voltou-se para os mapasÀestruturas de malhas, constructos mentais de matériaÀe depois inventou mapas tridimensionais dentro das galerias (que apelidou de "nonsites" [nãolugares]) e fora, na terra (o que chamou de "geologia abstrata")10.

Ao ingerir o vocabulário formalista do momento, Smithson o fazia falar do mundo real: aquilo que podemos e não podemos ver na natureza, e seu estado de constante transformação. Tomando o contêiner abstrato do minimalismo, colocou o mundo dentro dele. Para o artista, o ato de mapear, definir, ordenar o universo com recursos de geometria era um processo estético, que lhe permitia conter o caos da paisagem natural ou industrial ao mesmo tempo que revelava sua ordem interna. Desta forma, Smithson absorveu em sua arte aspectos de contenção e caos.

Robert Smithson fazia parte da vanguarda. Ele desejava romper a estrutura conceitual na qual se inseria a definição de artista: "Acredito que o assunto principal da arte nesse momento seja a definição de suas fronteiras. Há muito tempo os artistas vêm aceitando a tela e o chassis como limites".11 Desafiando o sistema da arte, Smithson fazia perguntas fundamentais, que redefiniam a idéia de obra de arte, daquilo que constituía a arte, e em que lugar ela pode ser situada. Acreditava que o conceito de museu estava restrito à caixa formada pela galeria, espaços cada vez menos capazes de conter a arte. "Embora os artistas não estejam confinados, a produção deles está. Da mesma forma que os sanatórios e as penitenciárias, os museus têm pavilhões e celasÀou seja, salas neutras denominadas ågalerias╦. Ao ser exposta numa galeria, a obra de arte perde a sua força, torna-se um objeto portátil ou superfície desconectada do mundo exterior."$not12 $Para o artista, a arte deveria transcender o receptáculo formado pelas paredes da galeria, e neste sentido ele contribuiu para um reposicionamento radical da arte, não apenas colocando uma escultura ao ar livre, mas transformando em arte a própria terra.

Smithson teve de construir um novo sistema para sua arte. A partir de um ponto de vista dialético do mundo, incorporou em sua obra os dois lados da equação: abstração formal e representação de estruturas físicas na natureza, a aparência externa da geografia e as forças ocultas da transformação entrópica. Dentro/fora, centro/margem, o mundo/a galeria, espaço/nãoespaço, lugar/nãolugar, visão/nãovisão.

O artista deu forma à sua dialética em seus lugares/nãolugares. O processo iniciou-se de modo intuitivo, como reação emocional e inconsciente a um lugar da paisagem, que remetia ao romantismo associado aos pintores, para depois adotar um modo abstrato e conceitual de apresentação. "Num certo sentido, o lugar é a realidade nua e crua [. . .] em vez de colocar alguma coisa na paisagem, decidi que seria interessante trazer a terra para dentro, para o nãolugar que é o contêiner abstrato."13 "O nãolugar existe como um tipo de mapa abstrato, tridimensional e profundo, que indica um lugar específico na face da terra."14 Portanto, na galeria ou museu, o verdadeiro lugar (o mundo concreto) permaneceu invisível, enquanto o marcador conceitual (a idéia de lugar) tornava-se visível. Lugar e nãolugar representavam ainda a dialética entre o centro e as margens. Para Smithson, locais não tinham um foco central, eram áreas marginais, sem fronteiras, incontidas, abertas e em constante transformação. O não-lugar coloca o lugar em foco, ordena o espaço pela imposição do retânguloÀda moldura. "[Lugares] são fechados apenas nos mapas, e os mapas servem para designá-los",15 ou são ainda "um meio de situar algo e circunscrevê-lo numa fotografia. . . [a qual] serve como um tipo de mapa"16.





10. Nancy Holt, ed., The writings of Robert Smithson, Nova York: New York University Press, 1979, p.82.


11. Ibid., p.159.


13. Ibid., p.160.


14. Ibid., p.154.


15. Ibid., p.168.


16. Ibid., p.180.