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Cruzando fronteiras:
imagens, textos e outras mídias

 
Shuka Glotman
Kfar Saba, Israel, 1953




"Shooting"
1995 - técnica mista (fotocópia)
50 x 60 cm
Yehoshua Glotman
O quê?

O uso combinado de diversas tëcnicas e materiais no processo de criaçâo de Shuka Glotman;
a representaçâo das fronteiras entre os povos na arte e o processo de construçâo da identidade cultural;
a criaçâo da linguagem artìstica e da lìngua como formas de elaborar e compartilhar a cultura.

Por quê?

Perceber as inter-relaç§es entre as diversas modalidades de arte e as possibilidades de fus§es entre diversos procedimentos tëcnicos ë um modo de se aproximar das propostas de arte contemporéneas.
O estudo das formas pelas quais nos representamos e pelas quais representamos aos outros possibilita perceber o processo de elaboraçâo das identidades e diferenças culturais.
Os artistas modernos e contemporéneos expressam uma atençâo especial com os modos como as diferentes culturas representam o mundo por meio da fala, da escrita e das diversas formas de criaçâo de arte.


Para quê?

Para permitir ao aluno:
travar contato com a obra de Shuka Glotman;
reconhecer a tendència contemporénea, compartilhada por diversos artistas, de misturarem na criaçâo de suas obras diversas formas de linguagem artìstica;
perceber e discutir as identidades e diferenças culturais;
responder de forma crìtica/poëtica em sua interaçâo com a arte, com a lìngua e com a cultura, reconhecendo-se como um construtor de significados.

 
Como? (Quando? Onde?)

Observando
Procure ficar por algum tempo observando e discutindo a imagem da obra de Shuka Glotman1 com seus alunos. A questâo nâo ë acertar ou errar as respostas, o importante ë compartilhar a experiència individual com o grupo, criando nesse processo novas formas de perceber a obra. Experimente criar suas pr�prias perguntas.
O que estž sendo usado como fundo desta imagem?
Por que o artista nâo fez seu trabalho sobre uma folha em branco?
Em que lìngua foi escrito este jornal? Conseguem entender alguma coisa?
O que sâo estas manchas pretas que formam linhas pontilhadas por tržs das figuras?
Quem sâo estas figuras? Como elas se sentem? O que estâo fazendo?
Por que estâo misturados ìndios das hist�rias do oeste dos Estados Unidos com soldados contemporéneos?
Estas figuras tem algo em comum?
Por que tantas armas?
Como o artista fez esta imagem? Que tipos de materiais ele pode ter utilizado?
O tìtulo desta obra ë "Shooting" (atirando). Saber isto ajuda a entender melhor a obra?

Cruzando fronteiras
As possibilidades de escolha de materiais, de instrumentos e de tëcnicas de criaçâo disponìveis para os artistas cresceram muito durante os öltimos cem anos. Essa oferta diversificada acentuou na obra de vžrios artistas a tendència de misturar esses diferentes recursos na criaçâo de suas obras.
A aproximaçâo entre as artes2 plžsticas e as outras modalidades de artes, como a mösica, o teatro e a literatura, ë algo constante ao longo da Hist�ria da Arte. Essas diversas formas de expressâo se relacionam Ç sociedade e Ç cultura ao longo do tempo Ç medida que sâo produzidas sob a influència de um dado contexto. No sëculo XX, viu-se uma tentativa de afastamento entre artes plžsticas e literatura para evitar qualquer subordinaçâo de uma em relaçâo Ç outra, especialmente no momento em que as artes plžsticas descobrem a abstraçâo e procuram se livrar de qualquer conteödo aned�tico.
Shuka Glotman usa c�pias coloridas, fotografias, desenhos e textos na criaçâo de sua obra. O artista vive em Israel, um paìs do Oriente Mëdio, regiâo onde ë muito presente o conflito entre os povos para delimitar fronteiras religiosas, polìticas e econ–micas.
Segundo o artista, o jornal em outra lìngua e os personagens de diferentes ëpocas que escolheu para compor esta obra sâo formas de criar um distanciamento que permita olhar as violèncias e as fronteiras de outra forma. A arte pode propiciar um novo olhar sobre as formas a que a sociedade visa para representar simbolicamente essas diferenças culturais.
Enquanto terminava de produzir sua instalaçâo3 na XXIV Bienal, cruzando fronteiras de linguagem ao unir objetos, vìdeo e texto, o pr�prio Shuka Glotman sugeriu duas atividades relacionadas com seu processo de criaçâo para serem realizadas com os alunos:
 

1. Shuka Glotman
Os curadores de Roteiros do Oriente Mëdio, Ami Steinitz e Vasif Kortun, escreveram que "poderes contradit�rios marcam as realidades sociais da regiâo. Ali a violència e a cultura se misturam. A fusâo de grandes tens§es polìticas, diferenças ëtnicas e conflitos religiosos, onde floresceram antigas civilizaç§es, constitui um cenžrio humano önico. A situaçâo ë mais complicada na medida em que o Oriente Mëdio, tanto no plano cultural quanto no geogržfico, situa-se em regi§es da Ãsia, Ãfrica e Europa. (...) O social contamina tudo, cada momento e cada parte do corpo de uma pessoa. (...) Ao ultrapassarem as fronteiras, abandona-se a pr�pria alma e invade-se uma alma diferente. Devorar-se a si mesmo e ao outro". Segundo Shuka Glotman, "o artista, tal como o conheço, ë um eterno imigrante, um exilado em seu ambiente natural, aquele que ë incapaz de fixar raìzes na ordem social existente. Um refugiado, cujo 'torrâo natal' recua para longe, para bem longe, por mais que ele tente alcançž-lo. Essa condiçâo coloca o artista na posiçâo de crìtico e observador social, alguëm que disputa e entra em crìtica com aquilo que o rodeia...".

 

2. As artes
D'Arcy Hayman conta que: "Kandinsky deu uma das primeiras explicaç§es escritas da arte 'nâo objetiva' como meio de comunicaçâo. De sua primeira experiència artìstica, ocorrida com a mösica, Kandinsky extraiu a base de sua argumentaçâo de que forma e cor sâo em si uma linguagem suficiente para expressar uma emoçâo e comunicž-la, como faz o som na mösica. Estava convencido de que nas artes visuais pode-se prescindir da matëria e do tema que sâo necessžrios na literatura, jž que a pr�pria forma ë suficiente para expressar o sentido profundo que o artista quer dar a sua obra. (...) Todas as artes se fundamentam em uma sërie de sìmbolos bžsicos. A mösica, a lìngua e a pintura implicam abstraç§es que tèm vida pr�pria; mas, quando as estudamos a fundo e as aprendemos, essas abstraç§es atuam como uma lente de aumento ou um microsc�pio voltado para n�s mesmos. A arte permite ao homem perceber certas relaç§es fundamentais com os olhos semicerrados. Aprisionado na complexidade das civilizaç§es, o homem perde de vista quase sempre seu objetivo humano. A arte nâo estž ali apenas para registrar os fatos fìsicos de sua existència, mas tambëm para interpretar e traduzir sua experiència de homem, pois ë ao mesmo tempo diagn�stico, definiçâo e explicaçâo raciocinada da condiçâo humana."

Kandinsky: (Wassily Kandinsky, Moscou, Rössia, 1866 - Neuilly-sur-Seine, França, 1944). Artista responsžvel pela criaçâo das primeiras obras nâo figurativas dentro da tradiçâo da pintura europëia, realizadas em 1910, ano em que escreveu o livro "Do espiritual na arte".
 

3. Instalação
Shuka Glotman dedicou o texto "Linha fronteiriça", que selecionou para integrar sua instalaçâo na XXIV Bienal de Sâo Paulo e tambëm para acompanhar sua obra no catžlogo, "Para Maya e Yair: para quem a fronteira faz parte da paisagem". O texto ë uma transcriçâo de sua conversa com um psic�logo jungiano que lè suas mâos, comentando como internalizou a imagem dos pais durante a inféncia. Algumas das colocaç§es do psic�logo: "Este quadro de seus pais nâo ë objetivo; ë um quadro de seus pais criado por n�s, desde a primeira inféncia, e ë atravës desse quadro que os vemos. Em parte ë objetivo e em parte ë como vocè os vivenciou. A mâe, sim; socižvel, mas sem vìnculos profundos; tambëm nâo ë muito aberta, ela ë fechada. Seu pai tambëm ë fechado, introvertido, inibido; esse ë seu pai. Ï, mas ela nâo irradiava calor, nâo era expansiva; ela se preocupava com isso e procurava construir laços sociais, que eram bons, mas nâo eram profundos". Algumas respostas de Glotman: "Nâo acho que esteja terrivelmente preocupado; estou numa encruzilhada. O dilema reside em como continuar, como se desenvolver. Estou procurando um equilìbrio novo. Sim, mas o que estou tentando dizer ë que numa situaçâo em que as coisas nâo sâo claras, eu encontro um sentido. Nâo ë um fardo tâo grande... faz parte de minha vida...".

Jungiano: relativo Çs teorias do psic�logo Carl Gustav Jung (Suìça,1875 - 1961). Acreditava que alëm, do inconsciente individual da teoria freudiana, existe um inconsciente coletivo, concretizado em arquëtipos. O equilìbrio psìquico dependeria da satisfaçâo simb�lica desses arquëtipos em harmonia com as vivèncias conscientes.
 
1. Conte uma hist�ria com desenhos.
Shuka se interessa muito pelos processos e etapas da produçâo de qualquer artefato. Seu vìdeo mostra detalhadamente os estžgios da confecçâo de um cacetete de madeira usado pela polìcia de seu paìs, desde o corte da žrvore atë o trabalho de torno na madeira. Na mesma casa onde o marceneiro faz seus cacetetes raspando a madeira no torno hž uma barbearia e o vìdeo tambëm mostra a cabeça do artista sendo raspada. Trata-se de uma cena de fronteira: o marceneiro e o barbeiro sâo žrabes, o artista israelense.
Pedir aos alunos para imaginar e pesquisar a confecçâo de qualquer coisa, como, por exemplo, uma omelete, desde a postura dos ovos pelas galinhas atë o momento que chega ao prato. Contar esta hist�ria integrando colagens, desenhos com diferentes materiais e textos. Discutir com a classe as diferentes leituras e interpretaç§es4 das hist�rias que criaram.
 

4. Leituras e interpretações
Segundo Wolff, "o significado que o pöblico 'lè' nos textos e em outros produtos culturais ë, em parte, construìdo por esse pr�prio pöblico. C�digos culturais, inclusive a pr�pria linguagem, sâo sistemas complexos e densos de significaçâo impregnados de numerosas sëries de conotaç§es e significados. Isso quer dizer que podem ser lidos de maneiras diferentes, com ènfases diferentes, e tambëm num estado de espìrito mais ou menos crìtico ou imparcial. Em suma, qualquer leitura de qualquer produto cultural ë um ato de interpretaçâo... E a maneira pela qual 'traduzimos' ou interpretamos determinadas obras ë sempre determinada por nossa pr�pria perspectiva e por nossa pr�pria posiçâo na ideologia. Isso significa que a sociologia da arte nâo pode simplesmente discutir o 'significado' de um romance ou de um quadro sem referència Ç questâo de quem o lè ou o vè, e como. Nesse sentido, uma sociologia da produçâo cultural deve ser suplementada por uma sociologia da recepçâo cultural, e nela integrada".

 
2. Como vocè inventa algo novo?
Na instalaçâo de Shuka vocè vai encontrar uma fileira de vasos com cacetetes enterrados como se fossem plantas. Combinar coisas de diferentes usos pode ser um modo de inventar objetos inusitados.
Shuka sugeriu orientar os alunos a inventar artefatos a partir de diferentes combinaç§es de elementos existentes. Por exemplo: reinventar as folhas. Num passeio a um parque poderìamos recolher inömeros tipos de folhas. Ï surpreendente a variedade de formas, texturas e cores das folhas na natureza.
Propor coletar e combinar por meio de recorte e colagem partes de diferentes folhas num önico papel (a proposta tambëm pode ser realizada a partir de xerox).
Os alunos podem aplicar o mesmo processo de colagem para combinar objetos do cotidiano, utensìlios domësticos ou qualquer coisa fabricada pelos homens com elementos encontrados na natureza: pedras, raìzes, sementes, folhas, flores...
Propor aos alunos montar seu pr�prio museu de coisas que nunca existiram, inventando nomes inusitados para cada peça que criarem e textos explicando 'para que servem' ou 'onde foram encontrados'.

Cruzando fronteiras na Bienal
A XXIV Bienal de Sâo Paulo ë uma boa oportunidade para realizar rapidamente uma viagem em torno do mundo, explorando o modo como artistas de todos os cantos do globo percebem e contribuem para a manifestaçâo de suas culturas locais. Nâo apenas falamos diferentes lìnguas, mas olhamos de diferentes formas para a vida e nos expressamos em nossos processos de criaçâo segundo um estilo5 particular.
Esse contraste pode permitir o desenvolvimento de uma consciència transcultural ao identificarmos pontos conflitantes e afinidades entre a produçâo de artistas dos diferentes paìses. Explore esse aspecto da mostra com seus alunos, orientando-os para que procurem obras que se assemelhem Ç esta de Shuka Glotman por adotarem tëcnicas mistas em sua criaçâo ou por explorarem uma temžtica semelhante Ç que perceberam ao discutir sua obra.
 

5. Estilo
Segundo Fayga Ostrower, "o estilo de uma obra sempre corresponde a uma visâo de vida - visâo pessoal ou, mais amplamente, visâo cultural de determinada sociedade num determinado momento hist�rico. Quando mudam os estilos - e por vezes mudam com certa freqÆència -, isso nâo ocorre por um capricho dos artistas, nem tampouco por um ato voluntžrio ou talvez arbitržrio. Nessas mudanças, mais do que apenas o modo de se representarem os objetos ou as figuras, muda o pr�prio enfoque de vida. (...) Ao mudarem os estilos mudam as valoraç§es. Ou melhor, na ordem inversa: ao mudar a vida mudam os valores e nossas representaç§es desses valores e, assim, mudam os estilos. Em cada caso particular, encontramos como causa essencial das mudanças estilìsticas a ocorrència de profundas transformaç§es sociais. No nìvel cultural surgem novas relaç§es de convìvio entre as pessoas, novas normas de comportamento social. Tais mudanças condicionam as aspiraç§es pessoais e os pensamentos, que se tornam possìveis em determinados momentos da Hist�ria humana. O estilo de uma ëpoca ë sempre uma decorrència desse desenvolvimento cristalizando certos valores e dando-lhes forma expressiva concreta".

Estilo: o termo pode ser aplicado num sentido genërico Çs caracterìsticas da linguagem artìstica de um determinado perìodo, ou de modo especìfico Ç maneira particular como um artista articula os elementos da linguagem visual.
 
Investigar a criação da língua e dos símbolos que a representam
A cultura, ambiente gerador da lìngua6 enquanto c�digo de comunicaçâo e expressâo, tambëm situa a criaçâo dos c�digos caracterìsticos da linguagem de cada artista e de cada grupo de artistas.
Percebendo a obra "Shooting" e seu tìtulo como enigmas, c�digos a serem decifrados, estabelecer um paralelo entre os processos de criaçâo da lìngua e da linguagem artìstica, observando as semelhanças e diferenças entre os sìmbolos que utilizam e as regras que estabelecem para articulž-los (por exemplo, comparar os processos de criaçâo coletivos com a criaçâo individual, na lìngua e na arte).
Sugerimos orientar os alunos a pesquisar:
as diferentes formas de falar, em sua famìlia e na comunidade em que vive. Atualmente, dentro de uma mesma comunidade encontramos pessoas falando de formas muito diversas. Isso pode acontecer por vžrios motivos, por exemplo: por diferenças de idade, por serem descendentes de pessoas que falavam lìnguas diferentes, por virem de diversas regi§es do Brasil e pelo acesso que tiveram Ç educaçâo;
a etimologia, a origem dos significados das palavras (da lìngua escrita e falada) que usamos no dia-a-dia, como forma de compreender os processos de criaçâo da lìngua e ampliar nosso vocabulžrio (seria interessante pesquisar algumas ligadas Ç arte: a pr�pria palavra "arte", em sua origem, relaciona-se Ç articular, estabelecer relaç§es qualitativas...).
a representaçâo visual dos diversos c�digos utilizados para a comunicaçâo em nossa cultura, como o alfabeto Braille usado pelos cegos, a linguagem dos sinais utilizadas pelos surdos, a notaçâo musical, e a sinalizaçâo adotada pelo c�digo de trénsito;
a origem de nosso alfabeto e outras formas de escrita que nâo se baseiam no registro dos sons da lìngua, como os ideogramas chineses e os pictogramas (ou hier�glifos) egìpcios.
Na discussâo dos resultados das pesquisas, podemos comparar aspectos da lìngua e da arte dos diversos grupos culturais presentes na comunidade e avaliar se os alunos compreendem e relacionam a suas vidas essas manifestaç§es das identidades e diferenças culturais (ë um �timo momento para conversar sobre preconceitos). Essa avaliaçâo pode ser feita por meio da participaçâo na conversa, ou por um texto registrando as impress§es de cada aluno sobre a discussâo.
 

6. Língua
A lìngua ë uma expressâo da cultura: representa por meio das palavras nossa forma de sentir e pensar o mundo. Nomeamos as coisas e experièncias a que damos importéncia. Reconhecer-se como construtor de significados em sua relaçâo com a arte, com a lìngua e com a cultura permite ao indivìduo interagir com elas de forma crìtica e poëtica. O escritor Ant–nio Bento comenta que Mžrio de Andrade "foi um profeta da grandeza e da projeçâo cultural do Brasil no futuro em relaçâo Ç autonomia de sua arte e de sua lìngua. (...) Queria que os brasileiros escrevessem mais ou menos como o povo fala comumente neste paìs. (...) Este seu prop�sito estava expresso em seu projeto inovador de uma gramatiquinha da fala brasileira, em que se propunha a mostrar que aqui jž nâo prevalecia a gramžtica da antiga terra lusitana. Era para ele a nossa uma outra lìngua, derivada da portuguesa, mas com outros acrëscimos regionais e outras caracterìsticas, inclusive vindas do tupi".

Mario de Andrade: (Sâo Paulo, 1893 - Sâo Paulo, 1945): escritor, music�logo e defensor do patrim–nio artìstico e cultural brasileiro. Te�rico e articulador do Movimento Modernista e da Semana de Arte Moderna de 1922. Escreveu em 1928 o romance "Macunaìma - o her�i sem nenhum caržter".
 
Criar mensagens secretas
Partindo dessas investigaç§es e da idëia de cifrar/decifrar mensagens, o professor pode produzir com os alunos outros c�digos, utilizando figuras e elementos da linguagem visual que eles usam quando desenham, como coraç§es, estrelas, casinhas, florzinhas, s�is etc. Dialogar sobre o significado que esses sìmbolos tèm para cada um deles, procurando estabelecer um c�digo comum para trocar mensagens secretas.
Usar qualquer material de desenho, pintura ou colagem disponìvel, incluindo revistas ou jornais, para que todos produzam suas mensagens, explorando diversas formas de agrupar os sìmbolos7 que eles escolheram. Sugira aos alunos que procurem combinar vžrias tëcnicas de criaçâo e materiais em uma mesma proposta.
Essa experiència ë um bom momento para discutir na pržtica os limites entre a comunicaçâo e a expressâo na arte e na lìngua, por meio do contraste entre a experiència de "desenhar" para se comunicar com o "desenhar" com uma finalidade expressiva8. Para ampliar a discussâo, ë importante colocar que, se por um lado os sìmbolos em arte sâo de natureza expressiva, com funçâo distinta da fala ou sìmbolos utilizados com fins informativos, como os sinais de trénsito, por outro lado a lìngua falada ou escrita tambëm pode assumir uma funçâo poëtica de natureza artìstica.
Conversar sobre os c�digos e as mensagens que os alunos criaram. A lìngua e a arte sâo uma forma de verificar se estabeleceram com esses aspectos da cultura uma atitude crìtica, percebendo a cultura como criaçâo do ser humano, e poëtica, conseguindo reconhecer-se como construtores de significados em sua interaçâo com a lìngua, a arte e a cultura9.

Sugest§es de continuidade
Este percurso pode ser ampliado e integrado de diversas formas dentro de sua proposta curricular. Procure registrar as novas associaç§es e os questionamentos que surgirem ao longo de sua realizaçâo para avaliar seu pr�prio processo. Novas dövidas abrem novos caminhos, permitindo pensar sua continuidade em seqÆèncias de propostas que permitam estruturar um currìculo:
Como as diversas etnias presentes no Brasil foram representadas no decorrer da Hist�ria pelos artistas, escritores, mösicos e cineastas brasileiros?
Como se relacionam essas representaç§es com as atitudes tomadas em relaçâo a cada grupo pela sociedade brasileira ao longo de sua Hist�ria?
As pessoas de sua comunidade manifestam algum tipo de preconceito?
Como cada aluno representaria os brasileiros depois dessa pesquisa?
 

7. Símbolos
Segundo Hayman, "Um dos traços distintivos do espìrito humano ë a necessidade que ele sente de deixar marcas de sua experièncias, sejam pessoais ou coletivas. (...) Nada pode descrever com mais exatidâo uma ëpoca e um lugar determinados do que os artefatos e objetos encontrados entre os vestìgios dessa civilizaçâo. Seguindo o curso da Hist�ria, encontramos na arte de cada ëpoca o reflexo fiel da vida e da morte, das crenças e dos temores, das alegrias e sofrimentos dos seres humanos. (...) Um dos maiores dons do homem ë a faculdade de comunicar emoç§es, sensaç§es, idëias; e por esse ato de comunicaçâo o homem pode relacionar-se com outros homens longe e perto no tempo e no espaço. Para comunicar-se o homem inventou os sìmbolos, e a criaçâo de sìmbolos ë uma de suas atividades primžrias; mas ë um processo fundamental da mente humana que se mantëm o tempo todo. Esse processo p§e em jogo objetivos e fantasias humanas, consciència de valores, percepçâo de vida, entusiasmo. (...) A funçâo da arte ë buscar perpetuamente emblemas para simbolizar nossa experiència de maneira adequada e assim chegar a assimilž-la. Para comunicar-se com os outros, o homem deve expressar em sìmbolos o que viu e sentiu. Dos desenhos e das pinturas das cavernas surgiu todo um sistema. O alfabeto e todas as linguagens escritas nada mais sâo do que extens§es dessas imagens iniciais. (...) As artes plžsticas e a mösica dâo ao homem meios de comunicaçâo com outros homens e outras ëpocas futuras, meios que transcendem o alcance das palavras. Pintores e compositores inventaram sìmbolos que podem ser transmitidos de pessoa Ç pessoa e que comunicam idëias e sentimentos sem necessidade de intermedižrios."

 

8. Finalidade Expressiva
Fayga Ostrower diz que: "Em resumo: as atitudes bžsicas valorativas da vida geram os acentos formais que por sua vez definem a imagem do ponto de vista expressivo e estilìstico. Mas o estilo nâo se manifesta apenas na configuraçâo das imagens, resultado final do trabalho artìstico. Muito antes, desde a concepçâo da obra, em profundas regi§es onde os valores pessoais se entremeiam ao pr�prio consciente e Çs decis§es voluntžrias, jž se encontram os enfoques que irâo determinar a conduta do artista em todo o seu fazer. A imaginaçâo de um tema, a escolha do formato apropriado ou de materiais e tëcnicas vižveis, atë o pr�prio modo de trabalhar, as hesitaç§es, as dövidas e descobertas, as ordenaç§es formais e as pr�prias referèncias ordenadoras, tudo estž impregnado por consideraç§es estilìsticas. Intuitivas na maioria das vezes, sem precisarem alcançar o nìvel do consciente, tais consideraç§es irâo orientar integralmente o fazer artìstico. De fato, convëm ampliar a noçâo de estilo. Ultrapassando o émbito artìstico, o estilo deve ser entendido como princìpio normativo do fazer em geral. Uma vez que todo ato se origina em valores que, conscientemente ou nâo, o indivìduo tem para conduzir sua vida, resulta que qualquer atividade - de qualquer pessoa e em qualquer campo - representa, no fundo, uma questâo de estilo. Em todo fazer hž um como, que se torna expressivo".

 

9. A língua, a arte e a cultura
A criaçâo da lìngua ë um processo cultural vivo, ë fruto do trabalho e das relaç§es entre as pessoas, assim como os demais processos e produtos de determinada cultura, incluindo a linguagem artìstica. A criaçâo da lìngua e da linguagem da arte nas diferentes culturas ë alvo do interesse dos artistas envolvidos com as propostas da arte moderna. A velocidade das transformaç§es sociais, polìticas e culturais na sociedade contemporénea ë registrada nas transformaç§es da lìngua falada e escrita, na modificaçâo do uso das palavras, que sâo criadas e recriadas segundo o uso que as pessoas fazem delas, saem de moda, mudam de sentido, voltam a ter destaque. O conceito de arte e o uso dos elementos da linguagem artìstica tambëm se modificam de forma semelhante com o tempo. Segundo Fernand Lëger, "o acesso do povo Ç obra de arte ë um problema que estž no ar. (...) As multid§es humanas que reclamam seu lugar (...) sâo o grande refögio da poesia. Ï esse homem que inventa essa forma m�vel e sempre nova, que ë a linguagem popular. Ele vive nessa atmosfera de invençâo verbal constante. (...) Aprendi, tambëm, a linguagem deles. (...) Cada corporaçâo tem seu jargâo. N�s, pintores, temos palavras, express§es que nos sâo pr�prias, mas nosso jargâo estž principalmente em nossos quadros. Ï por isso que deve haver um meio para n�s e eles nos entendermos. (...) Tudo depende, pois, da educaçâo".

Moderna: hž muita confusâo na aplicaçâo dos termos 'moderna' e 'contemporénea' Ç arte, ambas podem ser usadas com o sentido de 'atual' ou como referèncias a perìodos especìficos da hist�ria e da hist�ria da arte que receberam estes nomes.
Fernand Léger: Argentan, França, 1881 - Gif-sur-Yvette, França, 1955): pintor francès com estilo cubista pr�prio, influenciado por sua admiraçâo pela tecnologia industrial.

Bibliografia

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