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Cruzando fronteiras:
imagens, textos e outras mídias
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Shuka
Glotman
Kfar Saba, Israel, 1953

"Shooting"
1995 - técnica mista (fotocópia)
50 x 60 cm
Yehoshua Glotman |
O quê?
O uso combinado de
diversas tëcnicas e materiais no processo de criaçâo de Shuka Glotman;
a representaçâo das
fronteiras entre os povos na arte e o processo de construçâo da identidade
cultural;
a criaçâo da linguagem
artìstica e da lìngua como formas de elaborar e compartilhar a cultura.
Por
quê?
Perceber as inter-relaç§es
entre as diversas modalidades de arte e as possibilidades de fus§es entre
diversos procedimentos tëcnicos ë um modo de se aproximar das propostas
de arte contemporéneas.
O estudo das formas
pelas quais nos representamos e pelas quais representamos aos outros possibilita
perceber o processo de elaboraçâo das identidades e diferenças culturais.
Os artistas modernos
e contemporéneos expressam uma atençâo especial com os modos como as diferentes
culturas representam o mundo por meio da fala, da escrita e das diversas
formas de criaçâo de arte.
Para quê?
Para
permitir ao aluno:
travar contato com
a obra de Shuka Glotman;
reconhecer a tendència
contemporénea, compartilhada por diversos artistas, de misturarem na criaçâo
de suas obras diversas formas de linguagem artìstica;
perceber e discutir
as identidades e diferenças culturais;
responder de forma
crìtica/poëtica em sua interaçâo com a arte, com a lìngua e com a cultura,
reconhecendo-se como um construtor de significados.
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Como?
(Quando? Onde?)
Observando
Procure ficar por algum tempo observando e discutindo a imagem da obra de
Shuka Glotman1 com seus alunos. A questâo nâo ë acertar
ou errar as respostas, o importante ë compartilhar a experiència individual
com o grupo, criando nesse processo novas formas de perceber a obra. Experimente
criar suas pr�prias perguntas.
O que estž sendo usado
como fundo desta imagem?
Por que o artista nâo
fez seu trabalho sobre uma folha em branco?
Em que lìngua foi escrito
este jornal? Conseguem entender alguma coisa?
O que sâo estas manchas
pretas que formam linhas pontilhadas por tržs das figuras?
Quem sâo estas figuras?
Como elas se sentem? O que estâo fazendo?
Por que estâo misturados
ìndios das hist�rias do oeste dos Estados Unidos com soldados contemporéneos?
Estas figuras tem algo
em comum?
Por que tantas armas?
Como o artista fez esta
imagem? Que tipos de materiais ele pode ter utilizado?
O tìtulo desta obra ë
"Shooting" (atirando). Saber isto ajuda a entender melhor a obra?
Cruzando fronteiras
As possibilidades de escolha de materiais, de instrumentos e de tëcnicas
de criaçâo disponìveis para os artistas cresceram muito durante os öltimos
cem anos. Essa oferta diversificada acentuou na obra de vžrios artistas
a tendència de misturar esses diferentes recursos na criaçâo de suas obras.
A aproximaçâo entre
as artes2 plžsticas e as outras modalidades de artes,
como a mösica, o teatro e a literatura, ë algo constante ao longo da Hist�ria
da Arte. Essas diversas formas de expressâo se relacionam Ç sociedade e
Ç cultura ao longo do tempo Ç medida que sâo produzidas sob a influència
de um dado contexto. No sëculo XX, viu-se uma tentativa de afastamento entre
artes plžsticas e literatura para evitar qualquer subordinaçâo de uma em
relaçâo Ç outra, especialmente no momento em que as artes plžsticas descobrem
a abstraçâo e procuram se livrar de qualquer conteödo aned�tico.
Shuka Glotman usa
c�pias coloridas, fotografias, desenhos e textos na criaçâo de sua obra.
O artista vive em Israel, um paìs do Oriente Mëdio, regiâo onde ë muito
presente o conflito entre os povos para delimitar fronteiras religiosas,
polìticas e econ–micas.
Segundo o artista,
o jornal em outra lìngua e os personagens de diferentes ëpocas que escolheu
para compor esta obra sâo formas de criar um distanciamento que permita
olhar as violèncias e as fronteiras de outra forma. A arte pode propiciar
um novo olhar sobre as formas a que a sociedade visa para representar simbolicamente
essas diferenças culturais.
Enquanto terminava
de produzir sua instalaçâo3 na XXIV Bienal, cruzando fronteiras
de linguagem ao unir objetos, vìdeo e texto, o pr�prio Shuka Glotman sugeriu
duas atividades relacionadas com seu processo de criaçâo para serem realizadas
com os alunos: |
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1.
Shuka Glotman
Os curadores de Roteiros do Oriente Mëdio, Ami Steinitz e Vasif
Kortun, escreveram que "poderes contradit�rios marcam as realidades
sociais da regiâo. Ali a violència e a cultura se misturam. A fusâo
de grandes tens§es polìticas, diferenças ëtnicas e conflitos religiosos,
onde floresceram antigas civilizaç§es, constitui um cenžrio humano
önico. A situaçâo ë mais complicada na medida em que o Oriente Mëdio,
tanto no plano cultural quanto no geogržfico, situa-se em regi§es
da Ãsia, Ãfrica e Europa. (...) O social contamina tudo, cada momento
e cada parte do corpo de uma pessoa. (...) Ao ultrapassarem as fronteiras,
abandona-se a pr�pria alma e invade-se uma alma diferente. Devorar-se
a si mesmo e ao outro". Segundo Shuka Glotman, "o artista, tal como
o conheço, ë um eterno imigrante, um exilado em seu ambiente natural,
aquele que ë incapaz de fixar raìzes na ordem social existente.
Um refugiado, cujo 'torrâo natal' recua para longe, para bem longe,
por mais que ele tente alcançž-lo. Essa condiçâo coloca o artista
na posiçâo de crìtico e observador social, alguëm que disputa e
entra em crìtica com aquilo que o rodeia...".
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2.
As artes
D'Arcy Hayman conta que: "Kandinsky deu uma das primeiras
explicaç§es escritas da arte 'nâo objetiva' como meio de comunicaçâo.
De sua primeira experiència artìstica, ocorrida com a mösica, Kandinsky
extraiu a base de sua argumentaçâo de que forma e cor sâo em si
uma linguagem suficiente para expressar uma emoçâo e comunicž-la,
como faz o som na mösica. Estava convencido de que nas artes visuais
pode-se prescindir da matëria e do tema que sâo necessžrios na literatura,
jž que a pr�pria forma ë suficiente para expressar o sentido profundo
que o artista quer dar a sua obra. (...) Todas as artes se fundamentam
em uma sërie de sìmbolos bžsicos. A mösica, a lìngua e a pintura
implicam abstraç§es que tèm vida pr�pria; mas, quando as estudamos
a fundo e as aprendemos, essas abstraç§es atuam como uma lente de
aumento ou um microsc�pio voltado para n�s mesmos. A arte permite
ao homem perceber certas relaç§es fundamentais com os olhos semicerrados.
Aprisionado na complexidade das civilizaç§es, o homem perde de vista
quase sempre seu objetivo humano. A arte nâo estž ali apenas para
registrar os fatos fìsicos de sua existència, mas tambëm para interpretar
e traduzir sua experiència de homem, pois ë ao mesmo tempo diagn�stico,
definiçâo e explicaçâo raciocinada da condiçâo humana."
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Kandinsky:
(Wassily Kandinsky, Moscou, Rössia, 1866 - Neuilly-sur-Seine, França,
1944). Artista responsžvel pela criaçâo das primeiras obras nâo figurativas
dentro da tradiçâo da pintura europëia, realizadas em 1910, ano em
que escreveu o livro "Do espiritual na arte". |
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3.
Instalação
Shuka Glotman dedicou o texto "Linha fronteiriça", que selecionou
para integrar sua instalaçâo na XXIV Bienal de Sâo Paulo e tambëm
para acompanhar sua obra no catžlogo, "Para Maya e Yair: para quem
a fronteira faz parte da paisagem". O texto ë uma transcriçâo de
sua conversa com um psic�logo jungiano que lè suas mâos,
comentando como internalizou a imagem dos pais durante a inféncia.
Algumas das colocaç§es do psic�logo: "Este quadro de seus pais nâo
ë objetivo; ë um quadro de seus pais criado por n�s, desde a primeira
inféncia, e ë atravës desse quadro que os vemos. Em parte ë objetivo
e em parte ë como vocè os vivenciou. A mâe, sim; socižvel, mas sem
vìnculos profundos; tambëm nâo ë muito aberta, ela ë fechada. Seu
pai tambëm ë fechado, introvertido, inibido; esse ë seu pai. Ï,
mas ela nâo irradiava calor, nâo era expansiva; ela se preocupava
com isso e procurava construir laços sociais, que eram bons, mas
nâo eram profundos". Algumas respostas de Glotman: "Nâo acho que
esteja terrivelmente preocupado; estou numa encruzilhada. O dilema
reside em como continuar, como se desenvolver. Estou procurando
um equilìbrio novo. Sim, mas o que estou tentando dizer ë que numa
situaçâo em que as coisas nâo sâo claras, eu encontro um sentido.
Nâo ë um fardo tâo grande... faz parte de minha vida...".
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Jungiano:
relativo Çs teorias do psic�logo Carl Gustav Jung (Suìça,1875 - 1961).
Acreditava que alëm, do inconsciente individual da teoria freudiana,
existe um inconsciente coletivo, concretizado em arquëtipos. O equilìbrio
psìquico dependeria da satisfaçâo simb�lica desses arquëtipos em harmonia
com as vivèncias conscientes. |
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1.
Conte uma hist�ria com desenhos.
Shuka se interessa muito pelos processos e etapas da produçâo de qualquer
artefato. Seu vìdeo mostra detalhadamente os estžgios da confecçâo de um
cacetete de madeira usado pela polìcia de seu paìs, desde o corte da žrvore
atë o trabalho de torno na madeira. Na mesma casa onde o marceneiro faz
seus cacetetes raspando a madeira no torno hž uma barbearia e o vìdeo tambëm
mostra a cabeça do artista sendo raspada. Trata-se de uma cena de fronteira:
o marceneiro e o barbeiro sâo žrabes, o artista israelense.
Pedir aos alunos
para imaginar e pesquisar a confecçâo de qualquer coisa, como, por exemplo,
uma omelete, desde a postura dos ovos pelas galinhas atë o momento que chega
ao prato. Contar esta hist�ria integrando colagens, desenhos com diferentes
materiais e textos. Discutir com a classe as diferentes leituras e interpretaç§es4
das hist�rias que criaram. |
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4.
Leituras e interpretações
Segundo
Wolff, "o significado que o pöblico 'lè' nos textos e em outros
produtos culturais ë, em parte, construìdo por esse pr�prio pöblico.
C�digos culturais, inclusive a pr�pria linguagem, sâo sistemas complexos
e densos de significaçâo impregnados de numerosas sëries de conotaç§es
e significados. Isso quer dizer que podem ser lidos de maneiras
diferentes, com ènfases diferentes, e tambëm num estado de espìrito
mais ou menos crìtico ou imparcial. Em suma, qualquer leitura de
qualquer produto cultural ë um ato de interpretaçâo... E a maneira
pela qual 'traduzimos' ou interpretamos determinadas obras ë sempre
determinada por nossa pr�pria perspectiva e por nossa pr�pria posiçâo
na ideologia. Isso significa que a sociologia da arte nâo pode simplesmente
discutir o 'significado' de um romance ou de um quadro sem referència
Ç questâo de quem o lè ou o vè, e como. Nesse sentido, uma sociologia
da produçâo cultural deve ser suplementada por uma sociologia da
recepçâo cultural, e nela integrada".
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2. Como
vocè inventa algo novo?
Na instalaçâo de Shuka vocè vai encontrar uma fileira de vasos com cacetetes
enterrados como se fossem plantas. Combinar coisas de diferentes usos pode
ser um modo de inventar objetos inusitados.
Shuka sugeriu orientar
os alunos a inventar artefatos a partir de diferentes combinaç§es de elementos
existentes. Por exemplo: reinventar as folhas. Num passeio a um parque poderìamos
recolher inömeros tipos de folhas. Ï surpreendente a variedade de formas,
texturas e cores das folhas na natureza.
Propor coletar e
combinar por meio de recorte e colagem partes de diferentes folhas num önico
papel (a proposta tambëm pode ser realizada a partir de xerox).
Os alunos podem aplicar
o mesmo processo de colagem para combinar objetos do cotidiano, utensìlios
domësticos ou qualquer coisa fabricada pelos homens com elementos encontrados
na natureza: pedras, raìzes, sementes, folhas, flores...
Propor aos alunos
montar seu pr�prio museu de coisas que nunca existiram, inventando nomes
inusitados para cada peça que criarem e textos explicando 'para que servem'
ou 'onde foram encontrados'.
Cruzando fronteiras na Bienal
A XXIV Bienal de Sâo Paulo ë uma boa oportunidade para realizar rapidamente
uma viagem em torno do mundo, explorando o modo como artistas de todos os
cantos do globo percebem e contribuem para a manifestaçâo de suas culturas
locais. Nâo apenas falamos diferentes lìnguas, mas olhamos de diferentes
formas para a vida e nos expressamos em nossos processos de criaçâo segundo
um estilo5 particular.
Esse contraste pode
permitir o desenvolvimento de uma consciència transcultural ao identificarmos
pontos conflitantes e afinidades entre a produçâo de artistas dos diferentes
paìses. Explore esse aspecto da mostra com seus alunos, orientando-os para
que procurem obras que se assemelhem Ç esta de Shuka Glotman por adotarem
tëcnicas mistas em sua criaçâo ou por explorarem uma temžtica semelhante
Ç que perceberam ao discutir sua obra. |
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5.
Estilo
Segundo
Fayga Ostrower, "o estilo de uma obra sempre corresponde a uma visâo
de vida - visâo pessoal ou, mais amplamente, visâo cultural de determinada
sociedade num determinado momento hist�rico. Quando mudam os estilos
- e por vezes mudam com certa freqÆència -, isso nâo ocorre por
um capricho dos artistas, nem tampouco por um ato voluntžrio ou
talvez arbitržrio. Nessas mudanças, mais do que apenas o modo de
se representarem os objetos ou as figuras, muda o pr�prio enfoque
de vida. (...) Ao mudarem os estilos mudam as valoraç§es. Ou melhor,
na ordem inversa: ao mudar a vida mudam os valores e nossas representaç§es
desses valores e, assim, mudam os estilos. Em cada caso particular,
encontramos como causa essencial das mudanças estilìsticas a ocorrència
de profundas transformaç§es sociais. No nìvel cultural surgem novas
relaç§es de convìvio entre as pessoas, novas normas de comportamento
social. Tais mudanças condicionam as aspiraç§es pessoais e os pensamentos,
que se tornam possìveis em determinados momentos da Hist�ria humana.
O estilo de uma ëpoca ë sempre uma decorrència desse desenvolvimento
cristalizando certos valores e dando-lhes forma expressiva concreta".
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Estilo:
o termo pode ser aplicado num sentido genërico Çs caracterìsticas
da linguagem artìstica de um determinado perìodo, ou de modo especìfico
Ç maneira particular como um artista articula os elementos da linguagem
visual. |
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Investigar
a criação da língua e dos símbolos que a representam
A cultura, ambiente gerador da lìngua6 enquanto c�digo
de comunicaçâo e expressâo, tambëm situa a criaçâo dos c�digos caracterìsticos
da linguagem de cada artista e de cada grupo de artistas.
Percebendo a obra
"Shooting" e seu tìtulo como enigmas, c�digos a serem decifrados, estabelecer
um paralelo entre os processos de criaçâo da lìngua e da linguagem artìstica,
observando as semelhanças e diferenças entre os sìmbolos que utilizam e
as regras que estabelecem para articulž-los (por exemplo, comparar os processos
de criaçâo coletivos com a criaçâo individual, na lìngua e na arte).
Sugerimos orientar
os alunos a pesquisar:
as diferentes formas
de falar, em sua famìlia e na comunidade em que vive. Atualmente, dentro
de uma mesma comunidade encontramos pessoas falando de formas muito diversas.
Isso pode acontecer por vžrios motivos, por exemplo: por diferenças de idade,
por serem descendentes de pessoas que falavam lìnguas diferentes, por virem
de diversas regi§es do Brasil e pelo acesso que tiveram Ç educaçâo;
a etimologia, a origem
dos significados das palavras (da lìngua escrita e falada) que usamos no
dia-a-dia, como forma de compreender os processos de criaçâo da lìngua e
ampliar nosso vocabulžrio (seria interessante pesquisar algumas ligadas
Ç arte: a pr�pria palavra "arte", em sua origem, relaciona-se Ç articular,
estabelecer relaç§es qualitativas...).
a representaçâo visual
dos diversos c�digos utilizados para a comunicaçâo em nossa cultura, como
o alfabeto Braille usado pelos cegos, a linguagem dos sinais utilizadas
pelos surdos, a notaçâo musical, e a sinalizaçâo adotada pelo c�digo de
trénsito;
a origem de nosso alfabeto
e outras formas de escrita que nâo se baseiam no registro dos sons da lìngua,
como os ideogramas chineses e os pictogramas (ou hier�glifos) egìpcios.
Na discussâo dos
resultados das pesquisas, podemos comparar aspectos da lìngua e da arte
dos diversos grupos culturais presentes na comunidade e avaliar se os alunos
compreendem e relacionam a suas vidas essas manifestaç§es das identidades
e diferenças culturais (ë um �timo momento para conversar sobre preconceitos).
Essa avaliaçâo pode ser feita por meio da participaçâo na conversa, ou por
um texto registrando as impress§es de cada aluno sobre a discussâo. |
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6.
Língua
A
lìngua ë uma expressâo da cultura: representa por meio das palavras
nossa forma de sentir e pensar o mundo. Nomeamos as coisas e experièncias
a que damos importéncia. Reconhecer-se como construtor de significados
em sua relaçâo com a arte, com a lìngua e com a cultura permite
ao indivìduo interagir com elas de forma crìtica e poëtica. O escritor
Ant–nio Bento comenta que Mžrio de Andrade "foi um profeta
da grandeza e da projeçâo cultural do Brasil no futuro em relaçâo
Ç autonomia de sua arte e de sua lìngua. (...) Queria que os brasileiros
escrevessem mais ou menos como o povo fala comumente neste paìs.
(...) Este seu prop�sito estava expresso em seu projeto inovador
de uma gramatiquinha da fala brasileira, em que se propunha a mostrar
que aqui jž nâo prevalecia a gramžtica da antiga terra lusitana.
Era para ele a nossa uma outra lìngua, derivada da portuguesa, mas
com outros acrëscimos regionais e outras caracterìsticas, inclusive
vindas do tupi".
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Mario
de Andrade:
(Sâo Paulo, 1893 - Sâo Paulo, 1945): escritor, music�logo e defensor
do patrim–nio artìstico e cultural brasileiro. Te�rico e articulador
do Movimento Modernista e da Semana de Arte Moderna de 1922. Escreveu
em 1928 o romance "Macunaìma - o her�i sem nenhum caržter". |
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Criar
mensagens secretas
Partindo dessas investigaç§es e da idëia de cifrar/decifrar mensagens, o
professor pode produzir com os alunos outros c�digos, utilizando figuras
e elementos da linguagem visual que eles usam quando desenham, como coraç§es,
estrelas, casinhas, florzinhas, s�is etc. Dialogar sobre o significado que
esses sìmbolos tèm para cada um deles, procurando estabelecer um c�digo
comum para trocar mensagens secretas.
Usar qualquer material
de desenho, pintura ou colagem disponìvel, incluindo revistas ou jornais,
para que todos produzam suas mensagens, explorando diversas formas de agrupar
os sìmbolos7 que eles escolheram. Sugira aos alunos que
procurem combinar vžrias tëcnicas de criaçâo e materiais em uma mesma proposta.
Essa experiència
ë um bom momento para discutir na pržtica os limites entre a comunicaçâo
e a expressâo na arte e na lìngua, por meio do contraste entre a experiència
de "desenhar" para se comunicar com o "desenhar" com uma finalidade expressiva8.
Para ampliar a discussâo, ë importante colocar que, se por um lado os sìmbolos
em arte sâo de natureza expressiva, com funçâo distinta da fala ou sìmbolos
utilizados com fins informativos, como os sinais de trénsito, por outro
lado a lìngua falada ou escrita tambëm pode assumir uma funçâo poëtica de
natureza artìstica.
Conversar sobre os
c�digos e as mensagens que os alunos criaram. A lìngua e a arte sâo uma
forma de verificar se estabeleceram com esses aspectos da cultura uma atitude
crìtica, percebendo a cultura como criaçâo do ser humano, e poëtica, conseguindo
reconhecer-se como construtores de significados em sua interaçâo com a
lìngua, a arte e a cultura9.
Sugest§es de continuidade
Este percurso pode ser ampliado e integrado de diversas formas dentro de
sua proposta curricular. Procure registrar as novas associaç§es e os questionamentos
que surgirem ao longo de sua realizaçâo para avaliar seu pr�prio processo.
Novas dövidas abrem novos caminhos, permitindo pensar sua continuidade em
seqÆèncias de propostas que permitam estruturar um currìculo:
Como as diversas etnias
presentes no Brasil foram representadas no decorrer da Hist�ria pelos artistas,
escritores, mösicos e cineastas brasileiros?
Como se relacionam essas
representaç§es com as atitudes tomadas em relaçâo a cada grupo pela sociedade
brasileira ao longo de sua Hist�ria?
As pessoas de sua comunidade
manifestam algum tipo de preconceito?
Como cada aluno representaria
os brasileiros depois dessa pesquisa? |
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7.
Símbolos
Segundo Hayman, "Um dos traços distintivos do espìrito humano
ë a necessidade que ele sente de deixar marcas de sua experièncias,
sejam pessoais ou coletivas. (...) Nada pode descrever com mais
exatidâo uma ëpoca e um lugar determinados do que os artefatos e
objetos encontrados entre os vestìgios dessa civilizaçâo. Seguindo
o curso da Hist�ria, encontramos na arte de cada ëpoca o reflexo
fiel da vida e da morte, das crenças e dos temores, das alegrias
e sofrimentos dos seres humanos. (...) Um dos maiores dons do homem
ë a faculdade de comunicar emoç§es, sensaç§es, idëias; e por esse
ato de comunicaçâo o homem pode relacionar-se com outros homens
longe e perto no tempo e no espaço. Para comunicar-se o homem inventou
os sìmbolos, e a criaçâo de sìmbolos ë uma de suas atividades primžrias;
mas ë um processo fundamental da mente humana que se mantëm o tempo
todo. Esse processo p§e em jogo objetivos e fantasias humanas, consciència
de valores, percepçâo de vida, entusiasmo. (...) A funçâo da arte
ë buscar perpetuamente emblemas para simbolizar nossa experiència
de maneira adequada e assim chegar a assimilž-la. Para comunicar-se
com os outros, o homem deve expressar em sìmbolos o que viu e sentiu.
Dos desenhos e das pinturas das cavernas surgiu todo um sistema.
O alfabeto e todas as linguagens escritas nada mais sâo do que extens§es
dessas imagens iniciais. (...) As artes plžsticas e a mösica dâo
ao homem meios de comunicaçâo com outros homens e outras ëpocas
futuras, meios que transcendem o alcance das palavras. Pintores
e compositores inventaram sìmbolos que podem ser transmitidos de
pessoa Ç pessoa e que comunicam idëias e sentimentos sem necessidade
de intermedižrios."
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8.
Finalidade Expressiva
Fayga
Ostrower diz que: "Em resumo: as atitudes bžsicas valorativas da
vida geram os acentos formais que por sua vez definem a imagem do
ponto de vista expressivo e estilìstico. Mas o estilo nâo se manifesta
apenas na configuraçâo das imagens, resultado final do trabalho
artìstico. Muito antes, desde a concepçâo da obra, em profundas
regi§es onde os valores pessoais se entremeiam ao pr�prio consciente
e Çs decis§es voluntžrias, jž se encontram os enfoques que irâo
determinar a conduta do artista em todo o seu fazer. A imaginaçâo
de um tema, a escolha do formato apropriado ou de materiais e tëcnicas
vižveis, atë o pr�prio modo de trabalhar, as hesitaç§es, as dövidas
e descobertas, as ordenaç§es formais e as pr�prias referèncias ordenadoras,
tudo estž impregnado por consideraç§es estilìsticas. Intuitivas
na maioria das vezes, sem precisarem alcançar o nìvel do consciente,
tais consideraç§es irâo orientar integralmente o fazer artìstico.
De fato, convëm ampliar a noçâo de estilo. Ultrapassando o émbito
artìstico, o estilo deve ser entendido como princìpio normativo
do fazer em geral. Uma vez que todo ato se origina em valores que,
conscientemente ou nâo, o indivìduo tem para conduzir sua vida,
resulta que qualquer atividade - de qualquer pessoa e em qualquer
campo - representa, no fundo, uma questâo de estilo. Em todo fazer
hž um como, que se torna expressivo".
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9.
A língua, a arte e a cultura
A
criaçâo da lìngua ë um processo cultural vivo, ë fruto do trabalho
e das relaç§es entre as pessoas, assim como os demais processos
e produtos de determinada cultura, incluindo a linguagem artìstica.
A criaçâo da lìngua e da linguagem da arte nas diferentes culturas
ë alvo do interesse dos artistas envolvidos com as propostas da
arte moderna. A velocidade das transformaç§es sociais, polìticas
e culturais na sociedade contemporénea ë registrada nas transformaç§es
da lìngua falada e escrita, na modificaçâo do uso das palavras,
que sâo criadas e recriadas segundo o uso que as pessoas fazem delas,
saem de moda, mudam de sentido, voltam a ter destaque. O conceito
de arte e o uso dos elementos da linguagem artìstica tambëm se modificam
de forma semelhante com o tempo. Segundo Fernand Lëger, "o
acesso do povo Ç obra de arte ë um problema que estž no ar. (...)
As multid§es humanas que reclamam seu lugar (...) sâo o grande refögio
da poesia. Ï esse homem que inventa essa forma m�vel e sempre nova,
que ë a linguagem popular. Ele vive nessa atmosfera de invençâo
verbal constante. (...) Aprendi, tambëm, a linguagem deles. (...)
Cada corporaçâo tem seu jargâo. N�s, pintores, temos palavras, express§es
que nos sâo pr�prias, mas nosso jargâo estž principalmente em nossos
quadros. Ï por isso que deve haver um meio para n�s e eles nos entendermos.
(...) Tudo depende, pois, da educaçâo".
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Moderna:
hž muita confusâo na aplicaçâo dos termos 'moderna' e 'contemporénea'
Ç arte, ambas podem ser usadas com o sentido de 'atual' ou como referèncias
a perìodos especìficos da hist�ria e da hist�ria da arte que receberam
estes nomes. |
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Fernand
Léger:
Argentan, França, 1881 - Gif-sur-Yvette, França, 1955): pintor francès
com estilo cubista pr�prio, influenciado por sua admiraçâo pela tecnologia
industrial. |
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