Como?
(Quando? Onde?)
Com o tìtulo
metaf�rico de "Antropofagias entre arte e vida", este material enfoca pržticas
em uso crescente dentre os discursos artìsticos contemporéneos: a apropriaçâo
e o deslocamento1. Essas aç§es antropofžgicas ocorrem sobre
nossa pr�pria cultura material quando artistas se apropriam de "objetos
do dia-a-dia, produzidos para atender necessidades individuais ou coletivas",
e os deslocam desse contexto original para as galerias ou museus, onde passam
a "funcionar" como objetos artìsticos.
Nessa mudança de funç§es,
esse objeto ë reapresentado Ç sociedade como um sistema comunicativo simb�lico,
um objeto-signo para a aprecia çâo poëtica e crìtica. O que estž por tržs
dessa redefiniçâo do ato artìstico? Como essas aç§es conceituais (e antropofžgicas)
podem ser exploradas educativamente, convidando Ç conscientizaçâo de nosso
estar no mundo?
As obras escolhidas
para constituir este percurso sâo as seguintes: "Citroên - La DS", de Gabriel
Orozco (Mëxico, 1962), "Armžrios com cimento", de Doris Salcedo (Col–mbia,
1960), e "Non-sites" (traduçâo livre: nâo-lugares), de Robert Smithson (Estados
Unidos, 1938-1973).
Este percurso procurarž
delinear proximidades e diferenças entre Robert Smithson, Gabriel Orozco
e Doris Salcedo, cujas pržticas envolvem "apropriaç§es/ deslocamentos" de
diferentes nìveis e sentidos, questionando a pr�pria natureza do objeto
artìstico, a inserçâo de coisas e materiais do dia-a-dia no mundo da arte,
e, paradoxalmente, seu afastamento da vida para a arte pela incomunicabilidade
e pelo isolamento institucional. Essas poëticas pertencem ao mesmo eixo
hist�rico-cultural deixado pelo legado de Duchamp, do Dadaìsmo e do Surrealismo2,
da Pop Art e da arte conceitual. Serž dada a mesma ènfase tanto Çs leituras
poëticas quanto Çs möltiplas reflex§es crìticas das quais cada obra ë portadora.
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1.
Apropriação e deslocamento
Artistas cubistas, desde Pablo Picasso e George Braque,
jž lançavam mâo de recortes de jornais, papëis de parede, r�tulos
de bebidas e outros materiais, aplicados em suas telas como um confronto
entre representaçâo da realidade pela pintura e o pr�prio objeto
da realidade. Marcel Duchamp radicaliza essa tendència apropriando-se
de um mict�rio e deslocando-o para o museu, nomeando esse tipo de
trabalho "Readymade", jž fabricado. Nesse ato crìtico de deslocamento,
Duchamp aponta para a indiferença em relaçâo Çs coisas em torno
do mundo civilizado. O pr�prio Duchamp escreveu: "Um ponto que desejo
estabelecer ë que a escolha deste 'Readymade' nunca foi ditada por
uma causa de deleite estëtico. Essa escolha foi feita baseada numa
reaçâo Ç indiferença visual, com total ausència de sentido de bom
ou mau gosto... De fato, uma completa anestesia".
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Pablo
Picasso:
(Mžlaga, Espanha, 1881 - França,1973): um dos criadores do Cubismo,
junto com Braque, abandonou a ilusâo espacial da perspectiva tradicional
adotada pela arte ocidental desde a Renascença, propondo novas forma
de olhar a realidade. |
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George
Braque:
(Argentouil, França, 1882 - id., 1963): um dos artistas que criou
o movimento cubista, dialogando com Picasso na procura de um novo
modo de olhar a realidade a partir dos caminhos apontados por Paul
Cëzanne (Aix-en-Provence, França, 1839 - id., 1906). |
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2.
Do Dadaísmo e do Surrealismo
O Dadaìsmo, como movimento datado de 1916, ë comentado por
Pierre Restany como "nascido da confusâo da guerra, Dadž nâo sobreviveu
Ç confusâo da paz... O Dadž ë inötil, vazio, oco, verboso e nâo
passa de vento. O Dadž destr�i e nâo passa disso" (p.70). O Dadaìsmo
ë um movimento autodestrutivo - niilista - que se autodenominava
de antiarte. Suas origens estâo ligadas a seu contexto hist�rico,
de desilusâo com a Segunda Guerra Mundial, e tambëm se manifestava
como uma reaçâo crìtica Çs tendèncias dos movimentos artìsticos
europeus de vanguarda - principalmente ao Cubismo. O consumismo
burguès que manipulava as produç§es artìsticas era combatido pelo
Dadaìsmo com uma produçâo efèmera e principalmente antidecorativa.
O Surrealismo surge na dëcada de 20 como desdobramento das propostas
do Dadaìsmo. Suas raìzes estâo ligadas ao confronto entre racional
e irracional e Ç desilusâo perante um mundo dividido: a razâo, a
ordem, o controle da l�gica sobre os fatos e a visâo realista de
um lado; o universo do sonho, do inconsciente e do inexplicžvel
de outro. A busca de uma operaçâo automatizada de colagem de imagens
desconectas representa na pintura o universo surrealista (mais informaç§es
no Material de Apoio sobre Magritte - "Entradas e enigmas do imaginžrio
surrealista").
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1.
Gabriel Orozco - "Citroên - La DS"
1.1. Estranhamento
Orozco, em sua obra "La DS" (1993), executa um duplo ato transgressor. Nâo
apenas se apropria do modelo Citroên DS, que foi um paradigma do design
moderno da indöstria automobilìstica francesa em sua inféncia, nos anos
50, como tambëm interfere diretamente no autom�vel. Cortando o carro em
très partes, retirando a do meio e posteriormente realizando uma emenda
perfeita na carroceria por uma sutura, o escultor simbolicamente subtrai
a dimensâo funcional do objeto (carro). O estranhamento causado pelo "emagrecimento"
de um modelo de autom�vel tâo conhecido o potencializa com um novo status
de obra de arte, isto ë, objeto intencional comunicativo de uma crìtica
cultural. O gesto do artista redefine ou questiona o poder, o fascìnio e
a transitoriedade da soberania tecnol�gica num mundo materialista voltado
para o consumismo.
Ao mesmo tempo, este
objeto artìstico pode ser visto como um objeto de consumo ou como uma forma
de denöncia e resistència ao consumismo. Esses sâo pontos em que o estranhamento
do primeiro olhar sobre o objeto pode instigar uma apreciaçâo crìtica sobre
os sentidos do ato intencional do artista.
1.2. Instigaç§es: do estranhamento Çs inserç§es culturais e biogržficas
(ad-miraçâo)
Observar o canibalismo
(açâo antropofžgica) da arte sobre um objeto industrial utilitžrio que tambëm
ë sìmbolo das soberanias culturais e tecnol�gicas. Informaç§es sobre a Pop
Art3 podem ser colocadas como referència para os alunos
compreenderem esse processo.
Verificar que relaç§es
podem ser estabelecidas entre a obra de Orozco e o Surrealismo. O Surrealismo
tambëm executou cortes no mundo real, l�gico e racional, criando situaç§es
de estranhamento entre o irracional, o sonho e a realidade. Que ilusionismo
estž implìcito no objeto-carro "La DS"? Ï um carro ou um nâo-carro?
Relacionar a obra de
arte com a vida deste artista: um carro novo, ainda nos dias de hoje, ë
um objeto de desejo e sonho de consumo de muitas pessoas, principalmente
se for importado. Sendo o artista mexicano, nascido em 1962, serž que, em
sua inféncia, Gabriel Orozco nâo sonhou tambëm em ter um Citroën, um
carro importado?
1.3. Sugest§es
de atividade e debate
Compartilhar com a classe os sonhos de consumo ("importados" ou nâo) de
cada um a partir de imagens de propaganda trazidas pelos alunos como representativas
de seus pr�prios sonhos. Propor a realizaçâo em grupo de colagens sobre
esse tema a partir do material que trouxerem.
Para avaliar a compreensâo
dos temas discutidos durante esta leitura de obra, promover um debate sobre
a seguinte questâo: qual ë o convite Ç conscientizaçâo que Orozco faz por
intermëdio de sua obra?
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3.
Pop Art
Segundo William Fleming, "ocorrido nos anos 60, o movimento
pop utilizava-se da linguagem trivial, de objetos vindos do dia-a-dia
e de assuntos banais, norteado pela aceitaçâo ambìgua, entre cìnica
e lödica, do materialismo moderno e a enxurrada de material comercial
da mìdia de massa. Com seu imaginžrio acessìvel, a Pop Art
celebra e parodia o lugar-comum da sociedade de consumo conspicuamente
dependente dos supermercados, da propaganda, dos outdoors e das
hist�rias em quadrinho. A Pop Art ofereceu, paradoxalmente,
assuntos facilmente relacionžveis Ç vida cotidiana da classe mëdia
e buscou possibilitar o acesso Ç produçâo artìstica pela reproduçâo
de imagens deslocadas dos meios de comunicaçâo de massa, ao mesmo
tempo em que se tornava um estilo dentro das galerias e instituiç§es
do mundo da arte, mais uma vez, distantes do consumo da massa".
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Mídia:
os meios de comunicaçâo social, como os jornais, televis§es, rždios
etc. |
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Pop
Art:
iniciado na Inglaterra em torno de 1955, o Pop Art (abreviaçâo de
popular art) foi um movimento muito ligado Ç cultura americana. Assimila
o surgimento de uma nova cultura popular de massa, assimilando imagens
divulgadas pelos meios de comunicaçâo e criticando os sonhos de consumo
da classe mëdia. |
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2.
Doris Salcedo
2.1. Estranhamento
Doris Salcedo utiliza-se de apropriaçâo/deslocamento ao trazer para o
mundo da apreciaçâo artìstica elementos do cotidiano particular e privado
de todos n�s: m�veis, armžrios, gaveteiros4, armaçâo
de camas. O espectador ë tomado pelo estranhamento diante desses objetos
tomados do passado de alguëm, ou de todos os nossos passados, coletivos
ou individuais, e agora deslocados, expostos e reunidos na XXIV Bienal
como obras de arte. Serž que pertencem Ç pr�pria inféncia da artista?
Podem estes objetos contar hist�rias secretas, testemunhadas silenciosamente
na vida de alguëm em particular, ou de todos n�s?
Ao olhar mais detalhadamente,
constata-se que estes mesmos elementos familiares, domësticos, estâo preenchidos
de concreto, pesados e inöteis, o que os tornam simb�lica e literalmente
petrificados. Mais uma armadilha, assim como em Orozco, um enigma, um
gesto expressivo de provocaçâo. Um conjunto de objetos despatriados e
esvaziados de suas funç§es domësticas, confrontam intencionalmente o pöblico
desavisado, talvez anestesiado, da constante presença do passado, que
resiste a se dissolver. Podem os objetos particulares e ìntimos tornarem-se
silenciosos indagadores ou denunciadores pöblicos?
2.2. Instigaç§es:
do estranhamento Çs inserç§es culturais e biogržficas (ad-miraçâo)
A artista colombiana
Doris Salcedo5 cria por meio de seus m�veis petrificados
a potencializaçâo do territ�rio de conscientizaçâo de experièncias que
perpassam o individual e o coletivo.
Como se pode, a partir
do encontro com estes objetos, mudos e ao mesmo tempo expressivos, carregados
de experièncias privadas e coletivas, apreendè-los inseridos numa experiència
artìstica? Como a estratëgia de apropriaçâo e transformaçâo do objeto
privado em experiència coletiva redefine o papel do artista?
Como trazer objetos
domësticos para falar silenciosamente sobre toda a condiçâo de aniquilamento
e violència camuflada de um paìs? Retomando a obra de Cildo Meireles,
"O desvio para o vermelho" (tema do Material de Apoio "Antropofagias da
cor"), comparar as semelhanças que existem entre estes artistas e seus
violentos contextos hist�rico-culturais.
Investigar quais sâo
as principais crises que atravessam a naçâo colombiana. Trata-se de uma
naçâo sob o comando de dois sistemas de poder: o oficial e o da mžfia
das drogas. Salcedo traz para o mundo da arte um convite Ç conscientizaçâo
da condiçâo humana em seu paìs.
2.3. Sugest§es de debate e atividade
Como as situaç§es de
apropriaçâo e deslocamento podem se tornar desafiantes para o espectador,
criando uma situaçâo em que os objetos perguntam: "Por que eu sou arte?".
Criar um "coisžrio":
reunir os mais diversos tipos de coisas, objetos particulares de famìlia
ou guardados velhos. A partir dessas coisas velhas, de meros objetos
cotidianos6, propor uma experiència de conscientizaçâo
cultural, uma experiència poëtica, utilizando esses objetos particulares
para construir experièncias coletivas que resgatem mem�rias individuais
de outras pessoas.
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4.
Móveis, armários, gaveteiros Segundo
Bachelard, "os conceitos sâo gavetas que servem para classificar
os conhecimentos; os conceitos sâo roupas de confecçâo que desindividualizam
conhecimentos vividos. Para cada conceito hž uma gaveta no m�vel
de categorias. O conceito ë um pensamento morto, jž que ë, por definiçâo,
pensamento classificado. Com o tema das gavetas, dos cofres, das
fechaduras e dos armžrios, vamos retomar contato com a insondžvel
reserva dos devaneios de intimidade. O armžrio e suas prateleiras,
a escrivaninha e suas gavetas, o cofre e seu fundo falso sâo verdadeiros
�rgâos da vida psicol�gica secreta. Sem esses 'objetos', nossa vida
ìntima nâo teria um modelo de intimidade. Sâo objetos mistos, objetos-sujeitos.
Tèm, como n�s, por n�s e para n�s, uma intimidade. No armžrio vive
um centro de ordem que protege toda a casa contra uma desordem sem
limite. Nele reina a ordem, ou antes, nele a ordem ë um reino. 'O
armžrio', diz Milosz, '(estž) cheio do tumulto mudo das lembranças'.
Mas as imagens sâo mais imperiosas que as idëias".
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5.
Doris Salcedo
Anastasia
Aukeman cita Salcedo: "Col–mbia ë um paìs cheio de viövas. (...)
Existia uma viöva de um lìder polìtico, que me disse o quanto ë
difìcil continuar morando com objetos que sâo lembranças de seu
marido. Toda manhâ vocè abre seu armžrio e as roupas estâo lž. Todos
os dias vocè se senta Ç mesa de jantar e a cadeira vazia estž lž,
gritando a ausència daquela pessoa... Pode se tornar muito difìcil
conviver com um objeto. Daì eu tentei silenciar tais objetos, preenchendo
com cimento. (...) Meu trabalho nâo ë sobre uma önica pessoa ou
hist�ria. Eu freqÆentemente me concentro nas experièncias das mulheres
porque elas ficam para contar as hist�rias. As experièncias sâo
coletivas".
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6.
Meros objetos do cotidiano
Segundo
Mihaly Csikszentmihaly, "nossa necessidade do objeto se dž nâo s�
no campo fìsico, mas acima de tudo no psicol�gico. Com a funçâo
de estabilizar a vida humana, os objetos ajudam a objetivar o ser,
por, pelo menos, très maneiras: demonstrando o lugar de seu proprietžrio
na hierarquia social, revelando a continuidade do ser no passar
do tempo (presente, passado e futuro) e dando evidència concreta
de lugar na teia social como sìmbolos de relacionamentos vžlidos.
Dessas très maneiras, as coisas estabilizam a sensaçâo de quem somos.
Os objetos servem ao prop�sito de exibir nossa posiçâo na sociedade,
sendo sìmbolos de status extremamente complexos. A dependència do
material ocorre, em parte, pela necessidade paradoxal de transformar
a precariedade de nossa consciència na solidez das coisas. O corpo
nâo ë grande, bonito e permanente o suficiente para satisfazer nossa
sensaçâo do ser. N�s precisamos de objetos para magnificar nosso
poder, enfatizar nossa beleza e estender nossa mem�ria em direçâo
ao futuro".
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3.
Robert Smithson - "Non-site": nâo-lugar
3.1 Estranhamento
Smithson nâo se apropria de objetos como Orozco ou Salcedo, mas de minerais,
terra, pedra e sal, com seus significados ampliados por espelhos, mapas,
fotografias e desenhos. Em vez de objetos manufaturados, industrializados,
portadores de funç§es que relacionam o privado com o coletivo, encontramos
elementos do reino mineral que podem nos remeter a terras distantes, acompanhados
de fotografias e desenhos que materializam seu local, origem e existència,
na maioria das vezes, distante do contato com o mundo industrializado.
Discutir com os alunos:
o que esses deslocamentos, datados da segunda metade dos anos 60, podem
sugerir?
3.2. Ad-Miraçâo: convite Ç conscientizaçâo
O que se pode explorar pelo contato com esses elementos? Que instigaç§es
podem ser inauguradas por essas apropriaç§es por meio de uma leitura ou
percepçâo imaginativa? Se os armžrios de Salcedo podem contar hist�rias
privadas e o Citroên de Orozco pode ser visto como um ìcone do poder passageiro
das soberanias tecnol�gicas, o que pode entâo dizer este sistema enigmžtico
de minerais, mapas, espelhos e caixas? O que representa para os alunos esta
açâo de apropriaçâo e deslocamento ser exposta como arte? Uma busca arqueol�gica
por lugares imemoriais?
O trabalho de Robert
Smithson7 ë apresentado aqui como conclusâo deste roteiro
sobre obras desta XXIV Bienal que envolvem em seu processo de criaçâo apropriaç§es/deslocamentos
e metžforas, mesmo sendo o mais antigo dos très. O deslocamento de terras
distantes do contato humano8, matëria bruta do tempo, poeiras
talvez prë-hist�ricas, abre quest§es sobre as relaç§es entre o territ�rio,
os limites temporais e espaciais do fazer artìstico e o produto exposto
para apreciaçâo.
Pode-se explorar,
em forma de debates, os limites e confinamentos das galerias e dos museus
em relaçâo ao ilimitado territ�rio sem fronteiras do mundo natural (vida).
Smithson desloca
simbolicamente terras, espelhos e mapas para dentro do mundo institucional
da arte. Ele vè o pr�prio espaço interno dos museus e das galerias como
asilos, caixas fechadas, isoladas do mundo. Sua preocupaçâo era encontrar
um meio de trazer um mundo infinito, que estž alëm de nosso tempo e de nossa
cultura, para dentro do mundo da arte. Encontrar meios para transitar dos
espaços abertos da vida para dentro das "caixas" dos espaços institucionais
das exposiç§es de arte. Esse deslocamento s� pode entâo ser realizado a
partir da "metžfora", que em grego significa o transporte do incomensuržvel
para o confinado.
Os poucos elementos
que comp§em suas obras, terra, espelho, mapas e fotografias, constituem-se
como uma situaçâo metaf�rica, um sistema de signos que remetem sempre para
outro lugar, fora e distante da exposiçâo.
3.3. Atividade proposta
Por que Smithson usava espelhos? Como seria criar uma representaçâo metaf�rica
de um lugar, com mapas, espelhos, terras e pedras?
Com espelhos, mapas,
fotografias e desenhos, da cidade ou dos arredores, desenvolver experièncias
sobre a exploraçâo do territ�rio pelo ser humano e o entendimento da leitura
dos c�digos utilizados nos mapas. Se possìvel, fazer com os alunos visitas
a sìtios fora da cidade e coletar pedras e terras dessas žreas, reunindo
e documentando o material coletado para criar um laborat�rio de experièncias
sobre representaç§es metaf�ricas desses lugares. Se nâo for possìvel sair
com os alunos, experimente criar mapas e pedir que recolham elementos de
locais significativos para eles dentro da pr�pria escola ou nas vizinhanças
da comunidade em que vivem.
Concluìda a coleta,
coloque uma sërie de pequenos espelhos no pžtio da escola e discuta com
os alunos as idëias que surgirem para organizar esses elementos/objetos,
avaliando por essa conversa a compreensâo dos conceitos trabalhados neste
percurso. |
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7.
Robert Smithson
Vicki
Goldberg comenta que "nenhum artista desde Jackson Pollock, com
a possìvel exceçâo de Andy Warhol, teve tanta influència
sobre a pr�xima geraçâo de artistas americanos quanto Smithson.
Sua arte e suas idëias foram igualmente monumentais. Foi um dos
pioneiros dos Earthworks, obras de arte com a terra, tambëm chamadas
de Landart. Ele se liberou das ferramentas tradicionais de escultura
para lançar mâo de tratores e caminh§es e rearrumou a natureza em
configuraç§es tâo vastas que nenhum museu poderia contè-las. Essas
suas obras foram chamadas de 'sites', lugares, arrumaç§es da paisagem
em lugares especìficos afastados do contato humano, irremovìveis.
Nesse momento Smithson literalmente se apropriava do mundo e da
paisagem natural para transformž-la em arte". Bachelard escreveu
algo adequado ao trabalho deste artista: "O destino poëtico do homem
ë o de ser o espelho da imensidâo; ou, mais exatamente ainda, a
imensidâo vem tomar consciència de si mesma no homem..."
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Andy
Warhol:
(EUA, 1929-1987): foi um dos principais artistas representantes da
Pop Art nos Estados Unidos. Apropriou-se de imagens de ìcones da mìdia,
como a estrela de cinema Marilyn Monroe e o pr�prio Warhol, para criar
suas obras. |
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8.
Terras distantes do contato humano
Robert Smithson estž representado na XXIV Bienal por seus "Non-sites" (lugar-nenhum), expostos sob a curadoria de Mary Jane Jacob, curadora independente americana. Os "Non-sites" sâo exibidos em galerias em caixas ou contèineres minimalistas contendo solos, pedras ou sal de um lugar (site) especìfico. Smithson explica, no catžlogo de sua exposiçâo retrospectiva, que seus "Non-sites" demarcam o "lugar onde uma obra deveria estar mas nâo estž. A obra que deveria estar lž agora estž em outro lugar, normalmente numa sala. De fato tudo aquilo que tem alguma importéncia ocorre fora da sala. Mas a sala nos lembra a limitaçâo de nossa condiçâo".
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Minimalista:
refere-se a uma tendència da arte contemporénea surgida nos anos 50,
reunindo artistas que pregam o uso de formas simples, elementares,
na criaçâo de suas obras, reagindo ao emocionalismo acentuado pelo
Expressionismo abstrato. |
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4.
Sugest§es de continuidade
Como continuidade ou
como forma de avaliar a compreensâo do percurso proposto neste Material
de Apoio, alëm dos debates e das atividades jž sugeridos junto Ç leitura
das obras de cada artista, indicamos ao professor propor uma reflexâo, por
escrito ou na forma de uma discussâo, a partir das seguintes quest§es (e
de outras que ache conveniente acrescentar): o que significa uma coisa "funcionar"
como obra de arte? O que significa um objeto comum ser apropriado e deslocado
por um artista para uma exposiçâo, onde passa a ser visto como arte? Por
que essas obras podem ser vistas como um convite Ç conscientizaçâo9?
Conscientizaçâo de què? O que ë uma metžfora? |
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9.
Conscientização
Segundo
Robert Smithson, "quando uma coisa ë vista com a consciència da
temporalidade, ela ë transformada em alguma outra coisa, que nâo
ë nada. Esse sentido envolve essa coisa e provè uma referència mental
para o objeto; assim ele deixa de ser um mero objeto e se torna
arte".
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