|
Um e outro
A Exposição Arte Contemporânea Brasileira: Um e/entre outro/s é dividida em dois eixos que se estendem e correm em paralelo neste segundo andar do Pavilhão da Bienal. Ainda que haja uma distinção estrutural, conceitual e arquitetônica entre os dois eixos, há vários cruzamentos entre eles (para além mesmo do que os curadores puderam apontar). A exposição não define paradigmas totalizantes e últimos para se pensar a arte brasileira como um todo, não quer precisar um panorama geral ou elenco de eleitos, mas uma entre muitas possíveis e outras organizações e recortes conceituais da produção contemporânea. A exposição inclui obras inéditas e outras já expostas; alguns artistas aparecem com um número menos de trabalhos do que outros. Todos, no entanto, foram peças fundamentais para a construção e o cruzamento das trajetórias conceituais que a curadoria procurou traçar. Esperamos que o espectador-visitante possa encontrar e descobrir suas próprias trajetórias.
Este eixo, o do "Um e outro" - mais psicanalítico, subjetivo, embora não livre de implicações sociais e políticas- inicia-se com o tema canibalístico da fusão amorosa. Na fusão amorosa, os dois amantes, apaixonados, desejam incorporar um ao outro, fundir-se, tornar-se um. O medo de perder o outro amado pode fazer com que o amante queira ingerir e deglutir o outro - daí talvez a voracidade de algumas mordidas e beijos, o desejo pelos fluidos do corpo do outro. Infelizmente, a fusão é um desejo utópico, fado a ser frustrado, não realizado - o mais próximos dela que os amantes podem chegar é a penetração.
A partir da fusão (amorosa com Daniel Senise, Leonilson, Edgard de Souza, e dos elementos, com José Resende) surge o tema dos espelhos (Cildo Meireles, Iole de Freitas, Lygia Clark, Leonilson), do duplo e da simetria (com Edgard, Leonilson, Tunga, Senise, Valeska Soares). A partir dessas, o corpo em pedaços e os pedaços do corpo (Adriana Varejão, Miguel Rio Branco, Nazareth Pacheco). A carne, a pele, a cicatriz (com Artur Barrio, Ernesto Neto, Sandra Cinto, Rosângela Rennó, Leonilson, Courtney Smith, Adriana). O s temas que se seguem são os do nascimentos, do abrigo, da invaginação, da nave-mãe (Edgar, Ernesto, Rivane Neuschwander). A todo o tempo conceitos de temas se cruzam e se entrelaçam; a arquitetura aberta e fluida quer sugerir conexões, sublinhar justaposições de obras.
Adriano Pedrosa
|
|